07/08/2008 - 7:00
A DISPUTA É DE GIGANTES. Microsoft e Yahoo, dois titãs da tecnologia, já tentaram de tudo, mas ainda não conseguiram abalar o amplo domínio do Google como a marca mais popular da internet. Eis que, na semana passada, um pequeno desconhecido botou banca de que poderia ser um David e enfrentar o Golias dos sites de busca na rede. Batizado de Cuil (pronuncia-se cool, legal em inglês), o novo buscador estreou no mercado com grande alarde, dizendo contar com um número de páginas indexadas três vezes maior do que o mastodôntico concorrente – cerca de 120 bilhões. Foi um frisson. Em apenas dois dias, o lançamento da desconhecida companhia recém-criada no Vale do Silício repercutiu em jornais do mundo todo. Na expectativa de que alguém finalmente pudesse fazer algo diferente do Google, uma massa correu para acessar o tal Cuil. O furor foi tão grande que a página ficou fora do ar por alguns instantes em função do imenso número de acessos. O que se viu, no entanto, não foi nada de muito extraordinário. Uma página preta bem minimalista e um sistema de disposição de respostas em três colunas, com algumas imagens. Pelo menos num primeiro momento, havia pouco fogo e muita fumaça.
OS FUNDADORES (À ESQ.), PRETENDEM SE
DESTACAR COM APENAS US$ 33 MILHÕES
A fonte de tamanha expectativa estava nas cabeças por trás da novidade: três respeitados ex-engenheiros do Google e um ex-IBM. “O site está recebendo um destaque muito maior em função dos sócios do que do produto em si”, afirma Peter Gervai, gerentegeral da Realmedia Latin America. O fato é que, apenas na base do boca-a-boca, o Cuil conseguiu atingir seu objetivo inicial: incomodar o Google, que hoje detém 62% do mercado. O gigante se manifestou através de comunicado e disse que bons competidores trazem um grande benefício a ele, já que o estimulam a trabalhar com mais intensidade.
A experiência dos fundadores do Cuil no mercado vem de longa data. Nos anos 90, o casal Anna Patterson e Tom Costello fundou um buscador chamado Xift. Anna também criou um sistema de buscas usando arquivos da internet, que posteriormente foi vendido ao Google. Desde então, passou a integrar o grupo de desenvolvimento do TeraGoogle, maior índice de pesquisa do buscador. Mas, em 2006, ao voltar de uma licença-maternidade, deixou a companhia, que, segundo ela, se tornara grande demais. Russell Power e Luis Monier, companheiros de trabalho no Google, decidiram seguir seus passos. Ao mesmo tempo, Costello, criador da Web Fountain, ferramenta de análise de buscas da IBM, se indispôs com a empresa e decidiu sair. Nascia ali o Cuil.
Até então, acreditava-se que era necessário um investimento pesado para entrar nesse mercado, algo em torno de US$ 300 milhões, como o Yahoo anunciou tempos atrás. Mas o Cuil propagou a idéia de que se pode chegar lá com bem menos – os fundadores dizem ter gasto até o momento US$ 7 milhões. A nova ferramenta levantou dois canais de investimentos: US$ 8 milhões vieram do próprio casal e US$ 25 milhões foram injetados por um grupo de investidores, formado por Madrone Capital Partners, Greylock Partners e Tugboat Ventu. É pouca munição para o tamanho da guerra. “O Google tem um milhão de servidores no mundo indexando tudo e servindo os buscadores”, afirma Rafael Siqueira, CTO do Apontador/ MapLink. “Com US$ 33 milhões não acho que se consiga fazer algo à altura.” A pergunta que fica é por que alguém que está acostumado com o Google mudaria para algo tão parecido. Para o Cuil, a maior preocupação está na busca por relevância de conteúdo. “Mas o seu principal argumento não está funcionando. Se conseguir cumprir o que promete, aí sim não será apenas mais um no mercado”, afirma Marcelo Sant’Iago, diretor da MídiaClick.