Como bem definiu o cineasta Cacá Diegues, foram os anos loucos do desenvolvimentismo. O espírito do crescimento econômico dos anos JK contaminava o ambiente cultural. Da câmera na mão do Cinema Novo, aos acordes sussurrados da Bossa Nova, passando pela arquitetura moderna de Brasília, era o Brasil novo produzindo uma arte influente, chamando a atenção do mundo para si. A projeção do País como uma nação moderna tem seu reflexo direto na atração de capital externo. Ao contrário de Getúlio Vargas, que desdenhava o capital estrangeiro, Juscelino Kubitschek sabia ser impossível conseguir um rápido desenvolvimento sem crédito externo. Durante os anos JK, o Brasil atraiu quase o dobro do total de investimento estrangeiro que entrou desde os tempos da monarquia: algo como US$ 2 bilhões em valores atualizados.

?A melhor forma de associar um país a uma imagem moderna é através da cultura?, afirma o crítico de arquitetura e diplomata André Corrêa do Lago. ?Curiosamente, isso ainda é mal explorado pela política.? Quando exportada, essa cultura tem ainda o poder de aumentar a cotação internacional da nação, com reflexos positivos sobre a economia. Um exemplo recente é o da Grã-Bretanha, que explodiu criativa e empresarialmente sob a gestão risonha de Tony Blair. A Espanha da Movida, que produziu o cinema de Almodóvar e o maior surto de crescimento econômico da sua história, é outro. No Brasil, a era JK fez esse trabalho. Criou produtos culturais que até hoje identificam e enobrecem o Brasil lá fora.

Cosmopolita, Juscelino foi ao mesmo tempo patrocinador e beneficiário desse florescimento cultural, que ia ao encontro da sua idéia de Brasil viável, moderno, dinâmico. Antes dele, o Brasil era um país sem confiança e sem expressão no mundo. A terrível derrota contra o Uruguai no Maracanã, em 1950, era uma espécie de símbolo indelével da incompetência nacional. Não por acidente, o escritor Ruy Castro afirma que o governo de Juscelino só decolou depois de 1958, quando o Brasil ganhou a Copa do Mundo na Suécia e lavou a alma ? era o impulso psicológico que faltava internamente, e foi também o trampolim externo para colocar o País mestiço sob atenção do mundo inteiro. As pernas tortas de Garrincha e o sorriso ingênuo de Pelé atraíram para o Brasil doses intangíveis, mas enormes, de simpatia e boa vontade.

Com Juscelino, o futuro passou a ser aqui e agora. E este se chamava Brasília. Embora a memória nacional seja fraca, os arquivos da imprensa internacional da época mostram que a aceitação de Brasília foi imensa. Fotos da capital eram reproduzidas em jornais e revistas da França, Itália e Alemanha, sempre transmitindo o espírito da utopia possível e monumental. A arquitetura de Oscar Niemeyer era vista como a realização da crença de que o design moderno podia criar um mundo melhor. O encantamento brasileiro conquistava o mundo também através das canções de Tom Jobim, Vinícius de Moraes e João Gilberto. Em dueto de Tom com Frank Sinatra, ou na voz de Ella Fitzgerald, ?Girl from Ipanema? colocou a praia da Zona Sul carioca no mapa – e os artistas de Hollywood correram a hospedar-se no Copacabana Palace. Esbanjando auto-confiança, o Brasil era, definitivamente, um país ?bacana?, para onde as pessoas e os capitais podiam se dirigir sem susto.