Por Ricardo Brito

BRASÍLIA (Reuters) – A menos de um mês do primeiro turno, o presidente Jair Bolsonaro (PL) busca demonstrar força ao mesclar convocatórias de campanha com os eventos civis e militares marcados para o 7 de Setembro, Bicentenário da Independência, enquanto a cúpula do Judiciário, provável alvo dos das manifestações, se prepara para a contenção de excessos nos discursos e atos contra as instituições com reforço de segurança e até de inteligência.

Desde o lançamento oficial da campanha de reeleição, em julho, Bolsonaro tem conclamado os apoiadores a se manifestarem nas ruas pela “liberdade” enquanto menciona que um dos entraves a essa liberdade seriam os “capas pretas” do Judiciário, uma referência às togas usadas pelos ministros do Supremo Tribunal Federal e outras cortes superiores.

Veja o que abre e o que fecha no feriado de 7 setembro

Na campanha bolsonarista, as expectativas de falas contra o Judiciário só aumentaram após a operação da Polícia Federal contra empresários ligados ao presidente, autorizada pelo ministro do Supremo, Alexandre de Moraes, em agosto.

No sábado, em evento de campanha no Rio Grande do Sul, Bolsonaro elevou de novo o tom dos ataques ao falar que um “vagabundo” deu “canetada” sobre a ação da PF —uma alusão a Moraes, que também preside o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

A nova crítica do presidente ao ministro do Supremo causou preocupação no QG de campanha, segundo uma fonte. Em um momento em que Bolsonaro mostra uma trajetória ascendente nas pesquisas, embalado por uma melhora no quadro econômico e pagamento de benefícios sociais, seus aliados da política tradicional sonhavam com um discurso moderado que evitasse não só os ataques ao Supremo como às urnas eletrônicas nos eventos oficiais e de campanha que participará em Brasília e no Rio.

O roteiro era o recomendado, segundo os conselheiros políticos, para reduzir o alto índice de rejeição do presidente, atrás de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas pesquisas.

“Ninguém segura o Bolsonaro”, resumiu uma fonte, ao admitir que é o próprio presidente que faz seu roteiro de campanha e os temas que serão abordados, tendo em vista o objetivo permanente de mobilização da base bolsonarista mais radicalizada.

“Bolsonaro é absolutamente imprevisível. A expectativa não é boa”, avaliou outra fonte, em comentário após a declaração do presidente sobre Moraes.

“SEM CONFUSÃO”

Em entrevista à Reuters, o ministro Gilmar Mendes, decano do Supremo, disse que é preciso aguardar o que vai ocorrer no 7 de Setembro, ao destacar que a campanha eleitoral tem se transcorrido normalmente até o momento. “Ninguém está querendo confusão neste ambiente”, afirmou o magistrado.

No cúpula da principal corte do país e no TSE, segundo fontes ouvidas pela Reuters, o clima é também de cautela. A avaliação é que –com ataques duros ou não– os eventos do feriado serão mais uma etapa do trabalho que tem sido feito para garantir a segurança das eleições e defender as instituições, ou seja, para minar espaços a atos antidemocráticos e de violência.

A segurança dos prédios das duas instituições em Brasília contará com um reforçado esquema de segurança no feriado em relação ao que ocorreu no 7 de Setembro anterior, quando protestos bolsonaristas ocorreram na Esplanada dos Ministérios, inclusive com caminhões circulando no local.

Segundo a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal, o acesso à Praça dos Três Poderes –onde se encontra o prédio do Supremo– será proibido. O raio de bloqueio de circulação de veículos não-autorizados em Brasília será maior, abrangendo toda a Esplanada dos Ministérios.

Ainda não estão decididos quantos carros de som serão liberados para entrar na região onde ocorrerá, no período da tarde, manifestações populares convocadas por Bolsonaro. Ao todo, oito grupos pró-governo já se cadastraram para participar dos atos.

A expectativa é de que caravanas de apoiadores, ligados ao agronegócio e grupos religiosos, em especial evangélicos, participem dos atos, conforme chamamento feito pelas redes sociais e em outdoors espalhados nas cercanias da capital.

Além de policiais, a tropa de choque e a cavalaria estarão de prontidão para agir, inclusive com monitoramento por câmeras e drones. Haverá bloqueios para a revista de pessoas, e armas em geral, artefatos explosivos, mastros para bandeira e cartazes estarão proibidos. A secretaria espera entre 450 mil e 500 mil pessoas no ato.

O governo federal decidiu que não haverá expediente na Esplanada na véspera do feriado. O Supremo também não terá sessões.

A Secretaria de Segurança Pública do DF, em contato com a cúpula do Supremo, já definiu que haverá um efetivo extra em relação ao ano passado e um isolamento do perímetro das sedes do STF e do TSE, cujo prédio também contará com reforço na segurança, segundo duas fontes.

Na quinta-feira, Moraes, como presidente do TSE, criou um núcleo de inteligência, com a participação de integrantes da PM, para monitorar ações que podem ameaçar as eleições deste ano –o 7 de Setembro deverá ser o primeiro grande teste. Esse núcleo vai atuar separadamente ao Sistema Brasileiro de Inteligência (Sisbin), que conta com a participação da Abin e de órgãos do governo federal. O presidente Bolsonaro já criticou essa “inteligência paralela”.

Em outro sinal da batalha de posições entre o Judiciário e Bolsonaro, o ministro do Supremo Edson Fachin, ex-presidente do TSE, suspendeu efeitos de decretos do presidente que flexibilizam o porte e a posse de armas, além de limitar a compra de munições, citando o risco de “violência política” que aumenta com a campanha eleitoral.

PROGRAMAÇÃO

No feriado pela manhã, Bolsonaro deverá acompanhar o tradicional desfile cívico-militar na capital do país e depois a um ato com apoiadores –não há previsão de ele fazer discursos em Brasília. Mas à tarde, o candidato à reeleição deverá participar de um grande ato com a presença de civis e militares na Avenida Atlântica, em Copacabana, no Rio de Janeiro, que deverá contar, entre outras atrações, com show aéreo da Esquadrilha da Fumaça e apresentação de bandas de música, segundo o Comando Militar do Leste.

Bolsonaro, a princípio, queria uma parada militar completa na praia, no Rio, mas foi dissuadido pelos militares, preocupados pela mistura com a campanha eleitoral. O Ministério Público Federal já questionou o Comando Militar do Leste sobre o risco de contaminação política e quais medidas foram adotadas para evitar esse tipo de envolvimento.

Inicialmente, Bolsonaro não iria falar nem em Brasília nem no Rio, mas sinalizou que mudou de ideia.

 

(Reportagem adicional de Rodrigo Viga Gaier, no Rio de Janeiro)

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