24/10/2019 - 10:25
As forças curdo-sírias deixaram nesta quinta-feira (24) posições que ocupavam há anos no norte da Síria, ao longo da fronteira com a Turquia, em conformidade com o acordo russo-turco que põe fim a seus sonhos de autonomia.
O Exército russo, por sua vez, prossegue com as patrulhas iniciadas na quarta-feira ao longo da fronteira, preenchendo o vácuo deixado pela saída das tropas americanas no norte da Síria, país mergulhado desde 2011 em uma guerra sangrenta.
Aliado de Moscou, o regime sírio também enviou tropas para a região. O acordo russo-turco permite de fato ao presidente sírio, Bashar Al Assad, retomar parte do território que tinha perdido durante o conflito.
De acordo com o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), as Forças Democráticas Sírias (FDS), aliança comandada por combatentes curdos, deixaram esta manhã várias posições no leste do país, perto da fronteira com a Turquia.
Segundo declarações à AFP do diretor do OSDH, Rami Abdel Rahman, combatentes das Unidades de Proteção Popular (YPG, principal integrante das FDS, consideradas “terroristas” por Ancara) seguem, ao contrário, presentes em vários pontos da faixa fronteiriça sírio-turca, que se estende por 440 km.
Uma ofensiva sangrenta, lançada em 9 de outubro pela Turquia no norte da Síria, empurrou as forças curdas para longe da fronteira. Precisamente, o ataque foi interrompido para permitir que as YPG se retirassem de suas posições fronteiriças.
– Reunião da Otan –
Em uma reunião na terça-feira em Sochi (sul da Rússia), o presidente russo, Vladimir Putin, e seu contraparte turco, Recep Tayyip Erdogan, concluíram um acordo com vistas à retirada total das forças curdas da região e do controle comum de parte da fronteira sírio-turca.
Segundo o acordo russo-turco, qualificado de “histórico” por Erdogan, as forças das YPG têm que se retirar com todo o seu armamento. O presidente turco ameaçou tomar “todas as medidas necessárias” se não fosse respeitado o acordo de retirada dos curdos.
O presidente americano, Donald Trump – por muito tempo aliado dos curdos na luta contra os extremistas do grupo Estado Islâmico – considerou um “grande êxito” o fato de ter criado uma “zona de segurança” entre Síria e Turquia, controlada por russos, turcos e sírios.
A saída dos soldados americanos do norte sírio deu, de fato, luz verde ao Exército turco para lançar sua ofensiva contra os curdos, que o secretário de Defesa americano, Mark Esper, criticou nesta quinta e qualificou de “injustificada”.
A Otan, da qual a Turquia é membro, se reuniu nesta quinta em Bruxelas e sua ofensiva suscitou reações muito hostis de alguns parceiros da Aliança Atlântica, enquanto esteve acompanhada de uma aproximação espetacular com Moscou.
O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, embora tenha se recusado a condenar a operação turca, antecipou uma “forte discussão” entre os ministros da Defesa.
A organização discutirá ainda uma iniciativa alemã para a criação de uma “zona de segurança sob controle internacional” no norte sírio. Esta iniciativa, recebida com ceticismo pela comunidade internacional, conta com o apoio do líder das FDS, Mazlum Abdi.
– 300.000 deslocados –
A operação da Turquia expulsou cerca de 300.000 civis curdos, que agora têm muito poucas chances de poder voltar para casa, segundo o OSDH.
Os curdos, que estabeleceram uma autonomia de fato no norte e no nordeste da Síria no calor do conflito, temem represálias armadas turcas, e um deslocamento forçado para permitir o retorno à região de parte dos 3,6 milhões de refugiados sírios que fugiram para a Turquia.
Embora os curdos tenham acusado os Estados Unidos de tê-los “abandonado” após o anúncio de sua retirada do norte sírio, aparentemente desejam preservar suas relações com Washington. Trump disse na quarta-feira que Mazlum Abdi, comandante das FDS, tinha expressado seu “agradecimento” por deter o ataque turco.
Também Abdi informou ter agradecido ao presidente russo, Vladimir Putin, por ter salvado seu povo da “chaga” da guerra.