24/10/2019 - 10:07
As forças curdas sírias deixaram nesta quinta-feira as posições que controlavam há anos ao longo da fronteira turca, após um acordo russo-turco que pôs fim aos seus sonhos de autonomia.
O exército russo, por sua vez, realiza as patrulhas que iniciaram na quarta-feira ao longo da fronteira, preenchendo a lacuna deixada pela súbita partida das tropas americanas deste setor do norte da Síria, em guerra desde 2011.
Aliado de Moscou, o regime de Damasco também mobilizou suas tropas na região, com o acordo russo-turco alcançado na terça-feira permitindo ao presidente Bashar al-Assad recuperar uma parte significativa do território que perdera.
Segundo o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH), as Forças Democráticas Sírias (FDS), uma aliança liderada por combatentes curdos, deixaram esta manhã várias posições no leste do país, perto da fronteira.
“As FDS se retiraram de posições entre Derbassiyeh e Amuda, na região de Hassake”, disse à AFP o diretor do OSDH, Rami Abdel Rahman.
Segundo ele, combatentes da milícia curda das Unidades de Proteção do Povo (YPG, principal componente das FDS ), continuam presentes em muitos pontos ao longo da fronteira sírio-turca que se estende por cerca de 440 km.
– 300.000 civis deslocados –
Em uma reunião em Sochi, na Rússia, o presidente Vladimir Putin e seu colega turco Recep Tayyip Erdogan concordaram em uma retirada das forças curdas e em um controle comum de grande parte da fronteira entre a Turquia e a Síria.
Esta cúpula, descrita como “histórica” por Erdogan, foi precedida por um acordo entre Ancara e Washington prevendo a retirada das YPG de uma zona de 120 km, respeitada pelos curdos. Mas os turcos querem a partida dessa milícia de toda a região.
Erdogan ameaçou tomar “todas as medidas necessárias” se o acordo de retirada das YPG não fosse respeitado.
O presidente americano Donald Trump, aliado de longa data das forças curdas na luta contra o Estado Islâmico (EI), afirmou na quarta-feira que “um grande sucesso” foi alcançado com a “zona de segurança” controlada em conjunto pelos russos, turcos e sírios.
A saída das tropas americanas do norte da Síria abriu caminho para a ofensiva turca contra os curdos em 9 de outubro, que o chefe do Pentágono, Mark Esper, chamou de “injustificada” nesta quinta-feira.
“A Turquia nos colocou em uma situação terrível com essa incursão injustificada”, disse em Bruxelas, antes de uma reunião com seus colegas da Otan.
A organização deve discutir uma iniciativa alemã para criar uma “zona de segurança sob controle internacional” no norte da Síria.
A operação de Ancara deslocou cerca de 300.000 civis curdos, que agora têm muito pouca chance de voltar para casa, de acordo com o OSDH.
Os curdos, que estabeleceram uma autonomia no norte e nordeste da Síria, estão preocupados com a retaliação armada turca e o deslocamento forçado de pessoas para permitir o retorno de parte dos 3,6 milhões de refugiados sírios na Turquia.
Para o regime de Damasco, trata-se de uma grande vitória, uma vez que nesta região estão localizados alguns dos principais poços de petróleo e áreas agrícolas férteis do país.
E se os curdos acusaram os Estados Unidos de tê-los “abandonado” após o anúncio de sua retirada do norte da Síria, parecem querer preservar suas relações com Washington. Trump disse na quarta-feira que Mazlum Abdi, comandante das FDS, agradeceu a ele.
Abdi havia deixado claro após o início da recente ofensiva turca que era melhor chegar a um acordo do que correr o risco de um “genocídio”.