Não é preciso muito esforço para encontrar passageiros indignados com a falta de infraestrutura nos principais aeroportos do Brasil. Na lista de reclamações, estão voos atrasados, filas no check-in, extravio de bagagem, entre outras mazelas. Surpreende, no entanto, que a maior irritação dos usuários seja com o preço dos produtos e alimentos cobrado nesses terminais, conforme constatou uma pesquisa da Secretaria de Aviação Civil (SAC) nos 15 aeroportos que servirão às cidades-sede da Copa do Mundo de 2014. 

 

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Mesmo com fluxo de clientes maior, o custo do ponto justificaria os preços mais altos cobrados no aeroporto paulistano

 

A insatisfação não é infundada nem exagerada. Nas duas últimas semanas, DINHEIRO comparou os preços cobrados em Congonhas, na capital paulista, considerado pelos entrevistados o aeroporto mais careiro do Brasil, com o valor pago fora de lá pelas mesmas marcas. Do pão de queijo à meia masculina, a variação de preços de um mesmo produto dentro e fora do aeroporto chega a 50% (leia tabela). ?O que mais pesa no orçamento da nossa loja em Congonhas é o custo do aluguel?, diz Caio Torres, analista de marketing da Casa do Pão de Queijo, sem revelar o valor do contrato. A empresa cobra R$ 4,50 por um pão de queijo tradicional no aeroporto e R$ 3,00 pelo mesmo produto em uma loja de rua no bairro dos Jardins, zona nobre da cidade. Uma diferença de 50%. 

 

Sob condição de anonimato, um executivo proprietário de lanchonete no aeroporto revelou à DINHEIRO que os valores médios dos aluguéis ali (R$ 180 mil) são até 18 vezes maiores que os de shoppings paulistanos (R$ 10 mil). ?O fluxo maior de clientes aqui não paga essa diferença?, afirma o executivo. No ano passado, cerca de 45 mil pessoas passaram diariamente pelos corredores de Congonhas, 40% a mais que a média de um shopping center. Segundo a Infraero, estatal que administra o aeroporto, a última licitação pública chegou ao valor de R$ 67 mil mensais ante um lance mínimo de R$ 17 mil. Tem-se, assim, o seguinte cenário: manter uma loja no aeroporto é muito caro; a maioria das empresas repassa o custo para o consumidor; e o cliente fica insatisfeito. 

 

?Os passageiros sabem que o preço varia conforme a conveniência, mas, é claro, não toleram abusos?, diz Sérgio Souza e Silva, professor de marketing da FAAP, em São Paulo. Há, no entanto, algumas exceções, como as redes O Boticário e Dudalina, que optam por não encarecer os seus produtos. ?Praticar os mesmos preços em todas as lojas é a nossa estratégia?, diz Rui Leopoldo Hess de Souza, diretor de varejo da Dudalina. O professor Silva acredita que essas companhias possam estar mais interessadas em expor suas marcas para um público seleto do que em tornar rentáveis suas operações dentro do aeroporto. ?É uma lógica que vale para o segmento de moda, mas não faria sentido no setor alimentício?, diz o professor da Faap. 

 

Já empresas como Brunella, Baked Potato, Cacau Show, Frango Assado e Lupo culpam o valor do aluguel para justificar os preços salgados. Em nota, a Lupo ressalta que ?a loja em Congonhas é um ótimo negócio e ,mesmo o aluguel sendo caro, o resultado, até agora, tem ficado dentro das expectativas?. A Baked Potato informa que ?a companhia trabalha com diversos níveis de preços, conforme localização e público?. Segundo a Cacau Show, ?a diferença de valores está relacionada à infraestrutura e aos custos operacionais do local, que influenciam diretamente no valor final do produtos?. 

 

Na mesma linha, a Brunella e o Frango Assado informam que ?o preço nos aeroportos é diferenciado de unidades de rua porque as operações são completamente distintas, o que reflete no preço final dos produtos?. Na principal praça de alimentação de Congonhas, onde se concentra o maior fluxo de pessoas, há quatro opções à disposição: Brunella, Frango Assado, Frontier Beer e Black Coffee. A concorrência, no entanto, é questionável quando se considera o fato de que essas quatro marcas pertencem a um mesmo grupo, o IMC (International Meal Company), que atua em mais de 200 restaurantes no Brasil, na Colômbia, no México e Caribe. 

 

Questionada, a Infraero disse seguir a lei das licitações. Com o objetivo de oferecer uma opção mais barata, a a estatal instalou máquinas de refrigerantes e salgadinhos e criou um espaço para uma lanchonete ?popular? no subsolo, com 15 itens tabelados. Um pão de queijo, por exemplo, custa R$ 2,50 e, um cafezinho, R$ 1,90. ?Eu só acredito que os preços caiam se houver concorrência?, diz Gustavo do Vale, presidente da Infraero. Em tempo: a lanchonete ?popular? de Congonhas opera sob a marca ?BC Express ? Food & Beverage?, que também pertence ao grupo IMC. Sim, o mesmo grupo que domina a praça de alimentação. O cardápio mistura os itens ?populares? com produtos caríssimos, como uma lata de cerveja por R$ 8,15. Procurada, a empresa não quis comentar 

o assunto.

 

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