27/10/2025 - 13:06
Às margens da via expressa que liga os distritos nova-iorquinos do Brooklyn e do Queens, os motoristas dificilmente conseguem ignorar o enorme cartaz amarelo que proclama: “Vote em Zohran por uma cidade acessível”.
O crescente custo de vida na cidade, talvez mais do que qualquer outro tema, impulsionou o candidato democrata Zohran Mamdani à liderança na disputa pela Prefeitura de Nova York.
A votação antecipada começou no sábado (25) e o dia da eleição será em 4 de novembro.
O preço astronômico dos aluguéis e a escassez de moradias são problemas generalizados na cidade mais populosa dos Estados Unidos. Nesta metrópole de 8,5 milhões de habitantes, uma em cada quatro pessoas não têm recursos para suprir adequadamente suas necessidades básicas (alimentação, moradia).
Em junho, o aluguel médio em Nova York superou, pela primeira vez, os quatro mil dólares (aproximadamente 21,8 mil reais, na cotação da época), segundo o site imobiliário StreetEasy, mais que o dobro da média americana. E os aluguéis não regulados aumentaram 5,6% no primeiro trimestre de 2025 em comparação com 2024.
Membro da ala à esquerda dos democratas, Mamdani, um advogado de 34 anos, disse que quer congelar os aluguéis para os dois milhões de inquilinos, cujos aumentos nos preços são regulados pela cidade, e construir 200 mil moradias adicionais na próxima década.
“Não podemos deixar que o mercado decida quem tem o direito a viver dignamente”, diz o candidato.
Os críticos dizem que suas políticas podem desencorajar a manutenção e o investimento.
Durante o mandato do prefeito em fim de mandato, Eric Adams, que assumiu o cargo em 2022, os aluguéis regulados subiram 12,6% com a aprovação de uma junta independente que Mamdani quer reformar.
“Mamdani percebe que, depois da covid e da inflação, tudo está muito caro e as pessoas se sentem pressionadas”, explicou Daniel Schlozman, professor associado de ciências políticas na Universidade Johns Hopkins.
“E soube falar destes problemas de uma maneira que seu principal adversário, Andrew Cuomo, não tem feito”, apontou, em alusão ao ex-governador do estado de Nova York, também democrata, mas que concorre como independente.
– Lojas municipais –
Perto de um comício de Mamdani, Santiago, um aposentado de 69 anos que não revelou seu sobrenome, levava um cartaz que dizia “queremos moradias acessíveis para nossa comunidade”.
“Estamos sobrecarregados pelos custos da moradia”, disse sob a sombra da ponte George Washington, que conecta a cidade a Nova Jersey, o estado vizinho para onde muitas famílias tiveram que se mudar para conseguir aluguéis mais baixos.
Santiago deu como exemplo o Bronx, onde o preço crescente dos aluguéis superou o valor médio dos salários mais baixos.
Para Lex Rountree, uma ativista pelo direito à moradia e partidária de Mamdani, o tema é claro: “Os inquilinos representam 70% dos moradores de Nova York, então somos a maioria”, afirmou.
“Se nos unirmos, teremos uma verdadeira oportunidade de causar um grande impacto”, acrescentou a jovem de 27 anos.
A outra fonte constante de reclamações dos nova-iorquinos é o preço dos alimentos. Os preços dos ovos, carne, aves e peixe aumentaram 8,9% na cidade, no último ano.
Nove em cada dez nova-iorquinos dizem que o custo dos alimentos aumenta mais rápido que seus rendimentos, segundo a campanha de Mamdani.
“Os preços dos alimentos estão fora de controle. Como prefeito, criarei uma rede de lojas de alimentos de propriedade da cidade”, prometeu Mamdani no Instagram.
A proposta foi criticada pelos opositores.
Cuomo perguntou “por que subsidiar as compras de alimentos dos ricos”. E o presidente americano, Donald Trump, um feroz opositor de Mamdani, chamou o candidato de “comunista”.
Mas, uma pesquisa do instituto Data for Progress mostrou que dois terços dos nova-iorquinos apoiavam sua iniciativa.
“Ele entendeu que a questão da acessibilidade é absolutamente central”, insistiu Schlozman.
Steven Looez, um garçom de 41 anos, admitiu à AFP ter considerado trocar Nova York por uma cidade mais acessível.
“Sempre ficamos um pouco perplexos sobre para onde vai nosso dinheiro”, disse. “Tudo se acumula”.
“Mas me sinto um pouco mimado em Nova York, onde tudo o que a gente pode precisar em termos culturais e sociais está ao alcance da mão. É difícil igualar isto”, admitiu.
