Pouco diagnosticado e sem tratamento durante séculos, o câncer passou por uma revolução terapêutica nas últimas décadas. As inovações se multiplicam, ainda que isso não signifique substituir as terapias tradicionais.

Cirurgia

O câncer tem sido diagnosticado desde o Egito antigo. Mais tarde, o médico grego Hipócrates lhe atribuiu um nome: “karkinos”, que significa caranguejo em grego.

Os primeiros tratamentos para a doença, no final do século XIX, se concentravam na cirurgia para a retirada do tumor.

+ Câncer, um velho inimigo que pouco a pouco revela seus segredos

+ Mortalidade prematura por câncer no Brasil deve cair até 2030

Atualmente, estas intervenções seguem como “uma arma terapêutica” importante, segundo o professor Steven Le Gouill, onco-hematólogo responsável pelo ambulatório do Instituto Curie, em Paris.

“Câncer de mama, de cólon, sarcoma… muitos tumores são deixados nas mãos dos cirurgiões”, diz.

Mas a cirurgia também é “uma porta de entrada em muitos tipos de câncer, e é graças a ela que temos acesso ao tecido tumoral que permite o diagnóstico”, acrescenta.

Radioterapia

A radioterapia surgiu a partir dos avanços do físico alemão Wilhelm Röntgen, que descobriu os raios X em 1895. Este método continua executando um papel importante atualmente, já que mais de 70% dos tratamentos contra o câncer incluem sessões de radioterapia. Estas consistem em enviar raios (elétrons, fótons, prótons) que destroem as células cancerígenas.

Sua desvantagem é danificar os tecidos pelos quais passam até chegar ao tumor. Muitas inovações tentam remediar este problema, entre elas, a radiação de alta frequência com doses mais fortes.

Trata-se de “ser o mais preciso possível e enviar a dose de radiação mais forte possível ao nível do tumor, sem tocar no tecido saudável”, explica Steven le Gouill.

Quimioterapia

Abrange medicamentos citotóxicos (várias moléculas regularmente utilizadas de forma combinada) que também vão destruir as células cancerígenas. Embora frequentemente associada aos seus efeitos colaterais, como a queda de cabelo, esta terapia continua se mostrando eficaz, como para casos de leucemia aguda.

Vacinas

Existem vacinas para a prevenção do câncer quando ele está associado a um vírus: as vacinas contra papilomas humanos e a hepatite B (que pode causar câncer de fígado).

Há anos se investiga sobre as “vacinas terapêuticas”. Neste caso, trata-se de produzir antígenos tumorais (através do RNA mensageiro ou do próprio vírus), que permitem que o sistema imunológico ative e produza uma resposta apropriada em pacientes com câncer.

– Terapia-alvo

Há algumas décadas, a terapia-alvo tem mudado a vida de muitos pacientes. Trata-se de moléculas químicas concebidas especificamente para bloquear ou interromper um mecanismo molecular essencial para o avanço, proliferação ou sobrevivência das células tumorais.

Imunoterapia

É a grande revolução dos últimos anos. Consiste em reforçar o sistema imunológico do paciente para ajudá-lo a detectar e matar as células cancerígenas.

A imunoterapia é baseada em anticorpos sintéticos, produzidos em laboratórios, e várias modalidades são possíveis.

Estes anticorpos atacam, por exemplo, uma proteína na superfície das células cancerígenas. Ao fixar-se na célula atacada, os anticorpos provocam uma ação antitumoral de forma indireta ou por estímulo do sistema imunológico.

As células CAR-T

Trata-se de uma terapia celular cujo objetivo é ensinar o sistema imunológico a reconhecer e atacar células cancerígenas.

As células do sistema imunológico do paciente (muitas vezes linfócitos T) são removidas, geneticamente modificadas em laboratório e depois reinjetadas na pessoa. Sua tarefa será atacar as células cancerígenas.

Empresas de biotecnologia também apostaram nas chamadas células CAR-T alogênicas. Nesse caso, os cientistas vão modificar geneticamente células que não são do paciente, mas de um portador saudável.

As CAR-T mostraram eficácia em tipos de câncer no sangue, como os linfomas, algumas formas de leucemia aguda e o mieloma múltiplo. Porém, ainda é um método caro.

“O interesse é combinar todas essas abordagens e novas terapias para ter um plano personalizado para o paciente”, observa o professor Le Gouill, que se mostra otimista.

“Passamos de uma etapa em nosso entendimento sobre a célula tumoral. O câncer continua sendo um desafio, mas os avanços foram feitos de forma exponencial”, afirma.