21/02/2022 - 10:00
Da colonização francesa até a independência da Argélia se passaram 132 anos de uma batalha violenta e traumática, que também afeta a memória do período.
– Conquista e colonização –
Em 14 de junho de 1830, os franceses chegam a este território do norte da África, após um incidente diplomático com o dei de Argel vinculado a uma dívida que o cônsul da França se nega a pagar.
A derrota de Abd el-Qáder em 14 de agosto de 1843 inclina a balança a favor da França, e a Argélia se converte, constitucionalmente, em território francês em 1848.
Em 1870, o decreto Crémieux concede a cidadania francesa apenas aos judeus da Argélia. Onze anos depois, um Código do Indígena concede aos administradores poderes disciplinares sobre os autóctones.
Este código permanecerá em vigor até 1946. Dois anos antes, foi decretada a igualdade de direitos entre muçulmanos e não muçulmanos, mas a cidadania de dupla velocidade permaneceria até 1958.
Após manifestações nacionalistas na Argélia, o Exército reprime distúrbios, com violência, em maio de 1945. Milhares de muçulmanos e mais de 100 europeus morrem nos confrontos.
– Guerra de independência –
Em 1954, a Frente de Libertação Nacional (FLN) reivindica os atentados de 1º de novembro que deixaram 10 mortos na Argélia. O governo francês se recusa a negociar.
Em 20 de agosto de 1955, uma violenta repressão acontece, após uma série de massacres no nordeste do território do norte da África. A França amplia o estado de emergência para toda Argélia.
No início de 1957, a FLN comete atentados com bomba em cafeterias e estádios de Argel, que deixam 15 mortos e dezenas de feridos.
Liderada pelo general francês Jacques Massu, a “Batalha de Argel” começa em 7 de janeiro do mesmo ano e é marcada pela perseguição dos membros da FLN e pelo uso de tortura em larga escala por parte do Exército.
– “Eu entendo vocês” –
Em 13 de maio de 1958, após os distúrbios a favor da Argélia francesa em Argel, Massu faz um apelo ao general Charles de Gaulle, dias antes de sua posse como presidente do Conselho de Ministros.
“Eu entendo vocês”, diz De Gaulle aos “pieds-noirs” – pessoas de origem europeia nascidas na Argélia francesa e que acabaram se mudando para a França – em Argel, em 4 de junho.
Em 23 de outubro, ele propõe “a paz dos corajosos” à FLN, que havia criado em 19 de setembro o governo provisório da República argelina.
– Golpe dos generais em 1961 –
Em 16 de setembro de 1959, De Gaulle proclama o direito dos argelinos à autodeterminação. No fim de janeiro de 1960, uma “semana de barricadas” dos partidários da Argélia francesa deixa 20 mortos em Argel.
Em 8 de janeiro de 1961, o “sim” à autodeterminação da Argélia recebe 75% dos votos em um referendo celebrado nos territórios da França na Europa.
No mês seguinte, é criada a Organização do Exército Secreto (OAS, na sigla em francês), braço armado dos extremistas partidários da Argélia francesa.
Na madrugada de 21 para 22 de abril, acontece o golpe dos generais franceses. Dois se entregam, e outros dois passam à clandestinidade, ao lado da OAS.
Em 17 de outubro, em Paris, a polícia reprime violentamente um protesto de argelinos partidários da FLN, com um balanço de dezenas de morto.
– Acordos de Evian em 1962 –
A OAS multiplica os ataques com explosivos.
Em 8 de fevereiro de 1962, a repressão de uma manifestação anti-OAS deixa nove mortos no leste de Paris.
De Gaulle negocia com a FLN e, em 18 de março, os acordos de Evian proclamam um cessar-fogo.
Em 8 de abril, os cidadãos da França continental aprovam o pacto por 90% dos votos. Em 1º de julho, na Argélia, um referendo apoiado por 99,72% das pessoas consagra a independência.
Começa, então, o êxodo de quase um milhão de “pieds-noirs”. Ao menos 55.000 “harkis” – combatentes argelinos que lutaram do lado da França – são assassinados na Argélia.
Em 5 de julho, a Argélia proclama sua independência.
O conflito deixou quase 500.000 mortos entre civis e militares, incluindo 400.000 argelinos, segundo os historiadores franceses.