14/11/2007 - 8:00
Caminhando rapidamente pelos corredores do Royal Palm Plaza, um imponente hotel com 385 quartos, localizado em Campinas, cidade a 100 quilômetros de São Paulo, o empresário Armindo Dias, de 75 anos, mostra orgulhoso um pequeno vitral com cerca de um metro quadrado. “Está vendo isso aqui?”, pergunta ele com um acentuado sotaque português. “Íamos derrubar tudo, mas pedi para o arquiteto preservar como recordação”, sorri. Armindo, um simpático português nascido no vilarejo de Vila Ansião, a 40 quilômetros de Coimbra, tem motivos de sobra para sorrir. Ele desembarcou no Brasil, em 1956, com uma mão na frente e outra atrás, foi vendedor de doces, dono de atacado, criou os biscoitos Triunfo, uma gigante que chegou a ser líder de mercado, e vendeu a empresa para o grupo Danone, em 1997, por cerca de US$ 350 milhões. Com tanto dinheiro na mão, poderia ter se aposentado. Fez o contrário. No mesmo ano em que deixou de ser industrial, comprou o hotel, pôs tudo abaixo e, desde então, já investiu US$ 100 milhões no negócio. “Este hotel foi fundado em 1974 e a ala mais antiga dele é de 1999”, diz Antônio Dias, filho de Armindo e comandante do empreendimento. E novas áreas estão a caminho. Em outubro de 2008, será inaugurado um novo hotel anexo ao resort. Ele se chamará The Palms, terá 116 novos apartamentos cinco-estrelas e consumirá R$ 30 milhões em investimentos.
O projeto em fase de construção será o quarto do grupo Arcel, o nome do conglomerado de Armindo, na área de hotelaria. Além do Royal Palm Plaza Resort, eles também possuem o Royal Palm Tower e o Royal Palm Residences, todos em Campinas. “Mas estamos de olho em áreas no litoral norte de São Paulo”, diz Antônio. O grupo ainda é dono de 13 concessionárias das marcas Hyundai, Ford, Fiat e Volkswagen, e também possui dezenas de imóveis comerciais para locação. Todos os negócios, é bom salientar, no setor de serviços. “Minha fase de indústria já passou”, diz Armindo. “Fui bem-sucedido e agora estamos apostando em outros negócios. O que interessa é que estamos criando empregos e, quanto mais postos de trabalho abro, mais saúde tenho.” No total, o grupo Arcel tem 1,5 mil funcionários e, em 2008, deverá contratar mais 100. O grupo tem feito sucesso, mas ainda cabe uma pergunta. Por que Armindo resolveu vender uma empresa de sucesso e criar um outro grupo em áreas desconhecidas? “Era uma empresa familiar, existiam outros sócios e, para falar a verdade, eu tinha medo de que houvesse briga na família.” Armindo, então, vendeu no auge. Para se ter uma idéia, a Companhia Campineira de Alimentos, a dona da marca Triunfo, fabricava 1,5 milhão de pacotes de biscoito por dia, faturava US$ 160 milhões ao ano, tinha 9,5% de participação de mercado – o que lhe garantia a liderança em um setor tão pulverizado -, contava com 2,3 mil funcionários e tinha 500 caminhões. “Quando comecei com a Campineira, em 1964, tinha só cinco caminhões”, diz Armindo.
A estratégia de se desfazer da Companhia Campineira de Alimentos e partir para novos negócios foi bem-sucedida. Primeiro porque ele resolveu os problemas de sucessão, os quatro herdeiros têm um ótimo relacionamento e uma consultoria especializada em governança familiar foi contratada para costurar um acordo societário bem definido. “Temos uma reunião por mês e esse trabalho deve durar cerca de um ano e meio”, diz Renato Bernhoeft, da Bernhoeft Consultoria Societária. O segundo ponto crucial para o sucesso dos negócios do grupo Arcel foi o momento em que ele entrou no mercado.
Há dez anos, o setor de hotelaria, principalmente no interior de São Paulo, carecia de uma estrutura que abrigasse grandes eventos. Com um caminhão de dinheiro na mão e experiência em gestão, o grupo Arcel entrou no negócio, trouxe novos executivos e ganhou espaço no mercado de viagens corporativas, um segmento que, de acordo com a Associação Brasileira de Gestores de Viagens Corporativas (Abgev), movimenta R$ 33,6 bilhões ao ano. “Além de atenderem todas as exigências de serviço das agências, o Royal Palm Plaza está em uma localização privilegiada”, diz Mauro Schwartzman, presidente do Fórum das Agências de Viagens Especializadas em Contas Comerciais (Favecc). O empreendimento está próximo do aeroporto de Vira Copos e a 100 quilômetros de São Paulo, onde a maioria das empresas está.
O hotel, com 56 mil metros quadrados de área construída em um terreno de 58,5 mil metros quadrados, tem uma taxa de ocupação anual de 60%. Detalhe: a diária custa a partir de R$ 550. De todas as receitas, 50% são representadas por eventos como convenções de empresas, 35% vem de viagens de negócios e 15% de lazer. Além das salas de convenções com área de 5,2 mil metros quadrados, o hotel possui um espaço voltado para treinamentos corporativos ao ar livre. Trata-se do Kata Kuka, um local que ocupa uma área de 4,5 mil metros quadrados e que consumiu investimentos de R$ 5 milhões. Inaugurado em outubro de 2006, esse lugar mescla provas que exigem trabalho em equipe com esportes de aventura como arvorismo. “Fizemos vários eventos lá e foi excelente para relaxar e conhecer melhor os nossos funcionários”, diz Wagner Maeyama, supervisor de treinamento da montadora Honda. Devido ao fato de o hotel não pertencer a uma cadeia gigante, ele é mais flexível. O próprio Antônio faz questão de dizer que esse é um grande diferencial. “Já houve empresa que pediu para montar uma tenda onde havia um chafariz”, conta. “Fizemos os cálculos e mandamos derrubar a construção para atender o cliente.” Isso não é nada demais. Destruir paredes para erguer outras é motivo de orgulho para seu Armindo.