No 19°andar de um edifício comercial no  centro do Rio de Janeiro, sentado em sua cadeira de couro preto, Roger Agnelli, 51 anos, que comanda a mineradora Vale há quase dez anos, deve estar se perguntando: “Como eles podem me demitir?” Sua reflexão faz sentido. 

Na quinta-feira 24, a Vale anunciou um lucro de R$ 30,1 bilhões em 2010, crescimento de 190% sobre o ano anterior, o maior da história da indústria de mineração e de uma empresa não estatal no Brasil, de acordo com a consultoria Economatica. 

 

“Estamos vivendo os nossos melhores dias”, declarou o executivo, em um comunicado enviado para a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) naquele mesmo dia. Mesmo assim, Agnelli viu sua substituição ser discutida publicamente com os rumores de que seu contrato, que vence em maio, não será renovado. Fábio Barbosa, presidente do conselho de administração do banco Santander, é considerado pelo mercado um dos favoritos a assumir o posto.

 

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Agnelli, da Vale: ”Dias melhores estão por vir”

 

O desempenho de Agnelli, ao menos no campo financeiro, é inquestionável. Nos últimos cinco anos, o lucro da Vale triplicou. Só no quarto trimestre, ele foi de R$ 10,5 bilhões, maior do que o acumulado nos quatro trimestres de 2009. 

 

A receita operacional atingiu R$ 85,3 bilhões em 2010, outro recorde. Esse resultado foi influenciado pelo aumento do preço do minério de ferro nos mercados mundiais, pela demanda da China e pela nova política de reajuste trimestral adotada pela empresa –  até então, era anual. “Acredito fortemente que dias ainda melhores estão por vir”, disse Agnelli.

 

Na esfera política é que residem os seus problemas. Em 2008, no auge da crise financeira global, ele anunciou demissões e paralisou os investimentos, o que desagradou ao governo federal. 

 

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Para uma empresa com forte presença do BNDESPar e de fundos de pensão estatal no bloco de controle, esse é um pecado capital. Em princípio, portanto, o resultado recorde de 2010 pode ter garantido um novo fôlego para Agnelli na Vale. 

 

O problema é que ao transformar a mineradora numa fábrica de lucros gigantescos, ele pode estar também aumentando o apetite de todos os que cobiçam a sua cadeira.