Ana Luiza Sampaio deita na montanha de arroz e pensa. A safra está colhida, mas o preço da saca não está bom: R$ 13. ?Desse jeito, as contas vão terminar empatadas no final do ano?, analisa. Depois, abre o sorriso e admite que os plantadores de arroz são todos ?chorões mesmo?. Ela é dona de uma das mais altas taxas de produtividade de arroz do Rio Grande do Sul. Sua fazenda, a estância da Gruta, em Capão do Leão (RS), produz 7 toneladas de arroz por hectare, enquanto no resto do Estado a média é de 5 toneladas. Quem vê não imagina que um dia a fazendeira de 46 anos foi modelo fotográfico. Pois essa era a vida que Ana Luiza levava nos anos 70, no Rio de Janeiro, onde nasceu. Um dia, cansada dos holofotes ? ?era muito fútil??, largou tudo para administrar a fazenda da família, uma propriedade de 150 anos a meia hora de Pelotas.

O início não foi fácil. Ana Luiza estudou agronomia na Universidade de Pelotas (RS) em uma turma de 52 alunos onde era a única mulher. ?Sofri muito preconceito por isso?, recorda. No verão de 1984, aconteceu seu batismo no campo. Depois de convencer sua mãe, Antonia, e o produtor Carlos Alberto Iribarrem, que seu plano de plantio e colheita estavam certos, ela foi à lavoura. No final, o aumento de produtividade alcançado mostrou à sua mãe e a Iribarrem de que diante deles estava uma legítima fazendeira. ?Está no sangue das mulheres da minha família?, diz ela, a sexta administradora da estância da Gruta. Da experiência na primeira safra saiu uma parceria que perdura até hoje entre Ana Luiza e o produtor. Ao contrário de outras lavouras, onde o dono da terra aluga a área, ela participa ativamente da produção. Ana Luiza acompanha todo o processo desde a seleção de sementes até a armazenagem do arroz. Iribarrem entra com as máquinas e a mão-de-obra e os insumos são comprados em conjunto. O faturamento ano passado da lavoura de arroz foi de R$ 2,8 milhões.

Ana Luiza trabalha com o marido, o economista Roberto Quinto de Cameli. Os filhos ainda são pequenos: Antônio José, 11 anos, e Catarina, cinco, têm na fazenda de 10 mil hectares um imenso parque de diversões. Mesmo assim, Ana Luiza percebe que Catarina demonstra um interesse diferente pela estância, perguntando e se metendo onde pode. ?Ela é apaixonada pelas coisas da fazenda?, conta com o brilho nos olhos de quem vê na menina a sétima geração de administradoras da estância da Gruta.