A MÃE DO AMERICANO Gary Heavin morreu de insuficiência respiratória enquanto dormia. Ela tinha 40 anos e ele, 13. Inconformado, Heavin imaginou que, se ela tivesse praticado esportes, jamais teria ficado doente. Sem ter para onde ir, ele foi morar com o pai. O tempo passou e o rapaz decidiu estudar medicina. Sem dinheiro, teve de desistir da faculdade. Aos 20 anos, sem nada melhor em vista ? e com a idéia fixa de ajudar as pessoas a manterem a boa forma, uma espécie de homenagem à mãe ?, juntou uns trocados com o irmão e abriu uma academia de ginástica em Harlingen, no Texas. O negócio fez sucesso. Em dez anos, sua rede tinha 14 endereços nos Estados Unidos. Mas a sina do fracasso parecia persegui-lo. O excesso de empregados, somado à má administração, levou tudo a perder. Heavin faliu e sua mulher o deixou. Pior: como não pagava a pensão aos filhos, foi parar na cadeia. Nos três meses em que esteve confinado, leu a Bíblia obsessivamente e todo tipo de literatura que trouxesse histórias de pessoas que se reergueram após fracassos retumbantes. Foi atrás das grades que amadureceu a idéia de criar academias só para mulheres. Isso foi em 1985. Após 23 anos, a rede Curves tornou-se um império presente em 64 países e com um faturamento anual de US$ 2 bilhões.

Na quinta-feira 4, em visita a São Paulo depois de cruzar o continente pilotando seu próprio avião, Heavin conversou com a DINHEIRO. ?Eu cometi todos os erros possíveis e aprendi a não repeti-los?, diz. Sua trajetória é assombrosa. Após ser solto, a idéia de ter uma academia estava fortalecida. Ele maturou o projeto durante sete anos. Neste período, viajou pelo mundo e trabalhou em diversas redes para mergulhar a fundo no universo da malhação. Em 1992, junto com a segunda mulher, Diane, investiu US$ 10 mil em uma academia só para o público feminino. O negócio começou pequeno, com poucas dezenas de alunas. Hoje, são quatro milhões de freqüentadoras.

Muitos fatores contribuíram para o sucesso da Curves. Por não oferecer piscinas, saunas ou duchas, a manutenção é mais barata, o que possibilita ter preços mais acessíveis. Os equipamentos são específicos para mulheres e, por isso, mais leves ? e baratos. Outro fator relevante é levar em consideração o desejo da maioria das pessoas em ter mais tempo livre. A proposta da Curves é que a pessoa vá à academia três vezes por semana, em sessões de meia hora de malhação. Para completar, o ambiente é acolhedor e não-competitivo, propício para mulheres que não se sentem confortáveis ao verem corpos de músculos definidos nas academias comuns. Na Curves, nem sequer há espelhos. ?É para não lembrar as alunas que elas não estão exatamente com o corpo que gostariam?, diz Heavin. O público feminino também é prioridade na gestão. Heavin mantém um verdadeiro exército de empresárias. Mais de 90% de suas franquias são dirigidas por mulheres. E isso ocorre em países com forte tradição masculina, como China e Arábia Saudita. Seu desejo é fazer da Curves o McDonald?s das academias. Fôlego não falta. A Curves já chegou a crescer à velocidade de uma nova franquia a cada três horas. Atualmente, ganha uma nova filial por dia. ?A Curves apareceu em um momento em que muita gente está cansada, pelo menos no discurso, da busca de um corpo perfeito?, diz Renata Natacci, da consultoria Troiano. Heavin parece realmente entender a alma feminina.