O período de 2015 a 2017 foi um dos piores na vida de Greice Ciarrocchi.

Tanto pelo lado pessoal quanto pelo profissional. A empresa da família, a CCS Tecnologia e Serviços S/A, especializada em peças de aço soldadas e montadas de alta complexidade para empresas de máquinas de construção civil, mineração e agrícola, passava por dificuldades decorrentes da crise política e econômica causada por escândalos de corrupção e medidas equivocadas tomadas pelo governo Dilma Rousseff (PT).


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Houve perda da capacidade financeira da União, redução de consumo e queda nos investimentos internacionais, com aumento dos juros e do desemprego. Pouco antes, a empresa já havia feito uma jogada sem sucesso, ao investir R$ 50 milhões em 2013 para montar uma planta em Palmeiras (PR) e atender exclusivamente a Caterpillar. Quatro meses depois da inauguração, a produção teve de parar porque a Caterpillar suspendeu temporariamente as atividades por causa da crise.

Em meio ao caos nos negócios, Greice também passava por uma situação pessoal delicada. Seu pai, Almir Ciarrocchi, estava doente. Morreu em uma sexta-feira de março de 2017. O enterro foi no sábado. Segunda-feira, às 6h, a executiva assumiu as rédeas da companhia para dar sequência ao sonho do pai, que havia criado a CCS em 1995 — antes fazia portões, grades e vitrôs no fundo do quintal de casa e entregava em uma carroça, na cidade de Limeira (SP). “Não deu tempo de viver nosso luto. Tinha de mostrar que iria tocar a empresa e passar confiança para todos”, disse Greice.

Todos, naquele momento, significavam os funcionários, clientes, fornecedores, credores e bancos. Houve renegociação, com extensão de prazos para quitar os débitos. Paralelamente, acentuou a atividade do departamento comercial para atrair novos contratos, já que a situação era crítica. No pior momento da empresa, em 2016, eram R$ 82 milhões em dívidas, com apenas R$ 75 mil de Ebtida. “Eu nem olhava muito para os números, preferia olhar para frente. Nunca deixamos de acreditar. É uma lição deixada por meu pai”, afirmou Greice, que recebia ligações de cobranças e assinava papeis mesmo no hospital, enquanto visitava seu Almir. Uma consultoria foi contratada para ajudar a reerguer a CCS. Com diagnóstico pessimista, o prognóstico foi catastrófico: fechar a empresa. A sugestão foi ignorada e o trabalho continuou.

DivulgaçãoEXPANSÃO Além da fábrica em Limeira (SP), empresa possui planta na cidade de Palmeira (PR), em área de cerca de 110 mil m². (Crédito:Divulgação)

Aos poucos, a roda começou a girar a favor. A partir de 2017, o mercado esboçou reação e as demandas começaram a crescer, tanto pelos já clientes quanto pelos novos. Ano a ano, a contabilidade foi azeitada. As dívidas foram sendo quitadas e a saúde financeira da empresa, passo a passo, foi restabelecida. Em 2020, no primeiro ano de pandemia, a receita foi de R$ 350 milhões. “Razoável”, disse Greice. Em 2021, “muito bom”, afirmou ela, com sorriso largo, sobre o faturamento de R$ 1 bilhão, aumento de 185%. Uma avaliação humilde, outra lição aprendida com o pai, filho de um ferreiro com uma cozinheira e que começou a trabalhar aos 14 anos. Para 2022, a previsão é de vendas 40% superiores, alcançando R$ 1,4 bilhão de receita. “O mercado está aquecido.”

FAZ-TUDO A CCS Tecnologia e Serviços quase perdeu Greice Ciarrocchi para a Mercedes-Benz. Depois de se formar em administração na Unesp de Araraquara (SP), foi selecionada para estágio na companhia alemã, em 1999. “Eu tinha a ideia de fazer carreira em uma multinacional”, disse ela. Após nove meses de treinamento e muita pressão do pai, deixou o estágio para ajudar na CCS como faz-tudo. “Pegava os pedidos feitos por fax, ajudava na área de compras, formulava orçamentos, entrevistava candidatos para as nossas vagas… Aprendi de tudo um pouco, na raça”, afirmou a executiva, hoje com 43 anos. “Cresci com a companhia, aprendendo os caminhos.”


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Nessa época, a CCS era uma empresa com 20 colaboradores, em uma área alugada de 700 m². A passagem por diversos setores ajudou Greice a comandar o processo de crescimento da companhia quando foi fechado o primeiro grande contrato, ainda no início dos anos 2000, com a francesa Schneider Electric. Foi aí que a CCS construiu um grande galpão na Rodovia Anhanguera, em Limeira (SP). Atualmente, essa planta possui 330 mil m², sendo 53 mil m² de área construída, além do parque em Palmeira (PR), em área de 110 mil m².

Ao todo, são 2,2 mil funcionários, e um plano de expansão em andamento, com R$ 50 milhões de investimento entre 2021 e 2022. “Nossa característica é de encarar os desafios. Não podemos perder isso”, disse Greice, que está de férias nos Estados Unidos, mas trabalhando para aumentar a carteira de clientes no exterior, responsável por 5% do faturamento. Afinal, para quem saiu da quase falência para ganhar R$ 1 bilhão, chegar ao segundo bilhão é mais realidade do que sonho.