05/07/2013 - 21:00
Quando a rede canadense Four Seasons abriu as portas de sua primeira unidade em São Petersburgo, na Rússia, em sua estreia no país, no início de julho, foi apresentada a cereja de um bolo cada vez mais apetitoso do mercado de luxo global. Entre os países do BRICS, é a pátria de Lenin que mais retorno dá às cadeias hoteleiras do setor premium. Pesquisa de junho da divisão de Hospitalidade de Luxo, da École Hôtelière de Lausanne, na Suíça, mostra que o mercado russo cresceu 12,8% em 2012. São 550 hotéis no país, sendo 145 só na capital, Moscou, com oferta de 83.127 quartos. Destes, 21 são de bandeiras internacionais cinco-estrelas.
Requinte: à esq., a suíte do hotel Baltschug Kempinski, com a Praça Vermelha ao fundo. No centro, o restaurante do hotel Radisson Royal.
À dir., um dos quartos no Four Seasons em St. Petersburgo
Redes como Hilton, Hyatt, Radisson e Starwood, por exemplo, chegaram à cidade tão logo a Cortina de Ferro foi cerrada, nos anos 1990. E, hoje, só fazem aumentar seu portfólio na terra da glasnost. “Isso mostra não apenas um crescimento no turismo nos países do BRICS, mas uma maior preferência por acomodações de luxo”, afirmou aos pesquisadores Xavier Destribats, VP de operações dos hotéis Kempinski, com duas unidades em Moscou. A primeira, aberta em 1992, vizinha à Praça Vermelha, tem suítes com uma privilegiadíssima vista para a Catedral de São Basílio. A tese é também comprovada por outro número: das 50 marcas de luxo mais lembradas pelos russos, seis são de hotéis.
O estudo, desenvolvido pela consultoria Digital Luxury Group, mostra também que, com o país dos czares no radar do turismo global, a tendência é de que a ocupação desses hotéis por turistas de alto padrão cresça ainda mais. Dado recente de uma pesquisa encomendada pela cadeia Hilton, que opera quatro hotéis na Rússia e outros três a serem abertos nos próximos dois anos, aponta que, até 2016, os gastos de estrangeiros no país podem chegar a US$ 15,3 bilhões, seja a trabalho ou a lazer. Nos hotéis Kempinski, 65% dos hóspedes são executivos em viagem de negócios. Em comparação aos demais membros do BRICS, nem a China bate o sucesso dos ex-camaradas russos. O país asiático aumentou sua oferta de luxo em apenas 3,3%, com a bandeira Sheraton em 1o lugar no ranking dos hotéis mais procurados.
A Índia registrou índice semelhante (3%), com a rede Taj Hotels como favorita no país. E o Brasil? A oferta interna de luxo caiu 12,1%, no sentido oposto ao índice russo. Em comparação aos Estados Unidos, onde existe um quarto de hotel de rede para cada 100 habitantes, aqui a relação é de um para 2.800 brasileiros. Preocupante, sobretudo às vésperas da Copa do Mundo e da Olimpíada (leia abaixo em “Rio está na mira do Four Seasons”). “O mercado de hotéis de luxo é muito heterogêneo, dividido em categorias: superior, exclusivo e das grandes redes”, diz Samad Laaroussi, titular da cadeira na Ecole Hôtelière de Lausanne. “E o que vimos é um aumento expressivo do interesse por todos eles nos países do BRICS.”
O Four Seasons, de São Petersburgo, está na categoria superior. Ele ocupa o Palácio dos Leões, erguido em 1820, que foi bombardeado na Segunda Guerra Mundial, durante o cerco dos alemães à então Leningrado. Sua restauração começou nos anos 1960 e só terminou em 2011, com dinheiro privado da companhia local Tristar Investment Holdings. Sob o controle acionário do príncipe saudita Alwaleed Bin Talal e do fundador da Microsoft, o americano Bill Gates, a Four Seasons espera abrir um novo flanco em seus negócios globais, de 91 hotéis em 38 países. Em São Petersburgo, a rede oferece suíte presidencial de 152 m², com room service de restaurante estrelado no Guia Michelin e diária de US$ 15 mil. É de fazer Lenin revirar em sua tumba, no Kremlin.
Rio está na mira do Four Seasons
Colocado entre os bens postos à venda no mês passado pelo empresário Eike Batista, o tradicional Hotel Glória, no Rio de Janeiro, estaria no radar de novos negócios da rede Four Seasons. Embora os canadenses não confirmem, a falta de terrenos disponíveis e valorizados na zona sul carioca torna o antigo hotel uma excelente opção de investimento. Alínio Azevedo, diretor de desenvolvimento do grupo na América Latina, reconhece a carência de espaço, mas disse que “ainda não pode” comentar sobre o Glória. “Mas o Rio está, sim, em nossas prioridades”, afirmou.
Mistério: Alínio Azevedo, da rede canadense, quer o Rio. Só não diz onde
De concreto, apenas as duas unidades já anunciadas no começo deste ano, em São Paulo e Pernambuco. Na capital paulista, o empreendimento ficará no complexo batizado como Parque da Cidade, no bairro do Brooklin, e contará com 240 quartos, além de um investimento estimado em R$ 400 milhões. A segunda unidade será um resort, localizado na Praia do Paiva, em Cabo de Santo Agostinho, no litoral sul de Pernambuco, a 15 km do aeroporto de Guararapes, na capital Recife. O resort, que deve receber um investimento de R$ 250 milhões, deve ocupar apenas 20% da área de 500 hectares, com 160 suítes.
Colaborou: Bruna Borelli