Parece até enredo de um filme romântico. Há pouco menos de dois anos, a Canon lançou 5D Mark II, uma máquina fotográfica voltada para o mercado de casamentos. O produto atendia a uma demanda antiga dos profissionais deste ramo, que precisavam diversificar os serviços filmando em alta definição. Acontece que outro mercado também se interessou pela câmera. Trata-se do setor de cinema, que movimentou no ano passado cerca de US$ 30 bilhões no mundo. Esse casamento inesperado acabou dando certo. 

 

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No set de filmagem: A série de tevê House e o filme Homem de Ferro 2 usaram a 5D (abaixo)

 

O episódio final da sexta temporada da série de tevê norte-americana House, que mostra o cotidiano de um médico especializado em diagnósticos complexos e registrou a maior audiência da tevê paga brasileira, foi inteiramente filmado com a 5D. Na sequência de O Homem de Ferro 2 também foi usado o equipamento. Na publicidade, a câmera já é presença constante. 

 

O que explica que uma máquina desenvolvida para fotógrafos de casamento fosse parar  nas mãos de grandes diretores de cinema?  Há duas razões para o sucesso. A primeira delas é o fato da 5D contar com um sensor de captação de imagens de 35 mm, maior do que o da maioria dos equipamentos. 

 

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Essa característica faz com que os vídeos gravados pela câmera fiquem muito parecidos com os de uma câmera de cinema. O segundo motivo é mercadológico. Enquanto o custo de uma câmera de cinema da Panavision, uma das poucas fabricantes desse tipo de equipamento, pode ultrapassar meio milhão de dólares, a 5D pode ser encontrada por menos de R$ 10 mil no Brasil. 

 

A trajetória da máquina da Canon acabou criando um novo mercado para os fabricantes. A Nikon, a maior rival da companhia, lançou no mês passado a D7000, uma câmera que filma em alta definição para competir com a 5D. 

 

A Panasonic, forte no setor de vídeo, foi por outra direção e está apostando na tecnologia 3D. Mas todos agora precisam correr atrás da pioneira. “A divulgação aconteceu de forma viral”, afirma Wagner Batistell, especialista em câmeras profissionais da Canon. 

 

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Sem incentivo e o apoio da Canon, a 5D começou a ser usada em diversos comerciais. É o caso da produtora O2, do premiado diretor Fernando Meirelles, que já utilizou a câmera em  comerciais da empresa de telefonia TIM, da montadora GM e da estatal Correios. 

“Ela é ótima como uma segunda câmera na cena”, explica Fábio Mendonça, um dos diretores de cinema da O2.

 

A Cia de Fotos, uma cooperativa de fotógrafos que começa a fazer filmes, também captou imagens para publicidade da empresa de cosmésticos Natura e para o Banco Real.“É uma revolução na fotografia, que está deixando de ser apenas estática”, diz Pio Figueiroa, fotógrafo da Cia. de Fotos. 

 

Atualmente, as câmeras fotográficas saem de fábrica com o recurso de filmagem (poucas ainda com o recurso de alta definição). Por isso, ao que parece, o casamento entre a fotografia e o cinema será eterno, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, até que uma nova tecnologia os separe.