TRÊS QUADRAS DE DIStância separavam dois eventos que pararam a avenida Hipólito Yrigoyen, principal via do centro de Córdoba, cidade no norte da Argentina. De um lado, um pequeno grupo de agricultores batia panelas e queimava pneus contra o governo da presidente Cristina Kirchner pedindo impostos mais brandos para o setor. Do outro lado, um grupo de estrangeiros rodeados por belas mulheres e pela imprensa do mundo inteiro também queimava pneus. Só que de outra maneira: acelerando na abertura do Campeonato Mundial de Rally (WRC), que aconteceu no último dia 27. Uma multidão de 50 mil pessoas espremidas e dependuradas em árvores acompanhava o ronco do motor de máquinas dirigidas por lendas da corrida na terra como o piloto francês Sébastien Loeb, da Citroën, e o finlandês Mikko Hirvonen, da Ford. No total, 60 carros de oito montadoras, como Subaru e Suzuki, entre outras, percorreram 1,4 mil quilômetros em condições extremas de aderência, velocidade e resistência.

Além de tentar vencer a competição de 15 etapas em 11 países, um negócio que movimenta US$ 300 milhões, as empresas automobilísticas usam o rali como laboratório de testes.

Uma delas é a francesa Citroën, que desenvolveu parte do motor de 143 cavalos de potência do modelo C4 depois de fazer testes com o motor de 300 cavalos de potência usado no rali. ?É muito mais valioso para a nossa marca estar no rali do que na Fórmula 1?, declara Olivier Quesnel, diretor de esportes da Citroën.

?Dessa forma, a tecnologia utilizada em nossos carros de prova pode ser aplicada nos modelos de rua, que são quase iguais?, completa. A japonesa Subaru utilizou a mesma estratégia. Para adotar o sistema de controle de tração do modelo Impreza WRX 2.5 Turbo, o que proporciona mais aderência dos pneus na pista, a montadora japonesa foi buscar a inovação nos ralis. A Fiat, por sua vez, aperfeiçoou o câmbio semi-automático no volante, recentemente incorporado ao modelo Stilo 2008. Outro carro conhecido dos brasileiros também leva tecnologia desenvolvida nos ralis. A Ford, terceira colocada na competição, trouxe das pistas irregulares o sistema de tração 4×4. Mas não são apenas as montadoras que buscam melhorias tecnológicas na competição.

NO RASTRO DA COMPETIÇÃO: Saiba quais são as tecnologias desenvolvidas pelas empresas no rali

A fabricante de pneus Pirelli, por exemplo, investiu parte dos 260 milhões de euros destinados à pesquisa e desenvolvimento para criar sete tipos de pneus que vão atender a todas as condições de terra, neve e asfalto nos circuitos do WRC. Com isso, até 2010, a multinacional italiana será a única fornecedora de pneus do campeonato. Ao final dos 20 mil quilômetros que deverão ser rodados nas 15 etapas da temporada, a empresa terá vendido 40 mil pneus para as equipes da competição, um total de vendas de 9,6 milhões de euros. ?Nosso modelo de pneu de terra utilizado nas provas é vendido no mercado europeu?, reforça Mario Isola, gerente de rali da Pirelli. ?É um evento que tem muita força para a nossa marca. Em nosso país, ele representa um aumento de 10% no volume de nossas vendas?, afirma Guillermo Kelly, diretor-geral da Pirelli na Argentina.