Não, este superiate na abertura da reportagem não é apenas mais um superiate. Ele tem pedigree e fala alemão. Gigante de 135 pés, 472 metros quadrados distribuídos em quatro decks, além de quatro quartos para hóspedes e mais uma suíte presidencial, essa joia náutica pode ser sua por US$ 47,5 milhões. Contudo, o que realmente faz deste colosso algo único é saber quem o criou: a Porsche. A divisão de design da montadora de Stuttgart, que desenvolve objetos como sapatos, adegas e… superbarcos, levou para alto-mar tudo aquilo que seus carros esportivos têm ? menos as rodas, evidentemente.

96.jpg
Porsche flutuante: o supercatamarã Royal Falcon Fleet, de 135 pés, desenvolvido pelo estúdio de design da montadora alemã,
tem quatro quartos, suíte presidencial e quatro decks. Uma autêntica mansão de 472 m² sobre as águas

 
Com dose extra de esportividade e design, o Royal Falcon Fleet 135, RFF 135 para os íntimos, é um exemplo claro de uma tendência que começa a ganhar os oceanos mais ricos do planeta: a fusão entre montadoras de automóveis e o mercado de barcos exclusivos. A também alemã Mercedes-Benz Style, departamento da montadora focado em projetos fora de série, foi fundamental na apresentação, em setembro, da Arrow640 Granturismo, em parceria com o estaleiro Silver Marine, no Monaco Yacht Show 2013. A lancha, apelidada de ?Flecha de prata dos mares? pelos seus criadores, é uma clara referência aos carros de Fórmula 1 desenvolvidos em conjunto com a McLaren.
 

97.jpg
Flecha de prata: o Arrow640, criado pela Mercedes-Benz Style, tem entre os destaques cobertura de vidro inteligente
e ambientes customizáveis ao toque de um botão

?Esse iate, com suas características emocionais e de alta tecnologia, incorpora a filosofia de design da Mercedes-Benz?, diz Gorden Wagener, VP de Design da Daimler Ag., controladora da fabricante de carros. ?É uma expressão perfeita do luxo moderno.? O diálogo com os conceitos automobilísticos está em todo lugar no Arrow640. O teto da cabine é feito de uma ampla área envidraçada que, através de sensores, controla a luminosidade que penetrará no interior do barco. Você já viu isso nos parabrisas dos Mercedes-Benz, com os já conhecidos sensores de chuva. Por dentro, revestimento em couro e madeira de eucalipto, como nos painéis dos carrões.

No espaço social, implantou-se o conceito de ?plano aberto?: o dono pode tanto utilizá-lo como um grande lounge para dez pessoas quanto criar uma generosa sala de jantar ou fazer surgir uma suíte romântica, com cama king size e tudo. Basta acionar eletricamente os móveis. Eles deslizarão pelo deck e ficarão escamoteados na carenagem, ou melhor, no casco. Mal comparando, é como dobrar o retrovisor do seu sedã quando se desliga o motor. Na popa, outra particularidade. Uma plataforma hidráulica pode ser estendida e virar um terraço, ideal para quem quer pegar sol ou para facilitar o atracamento de jetskis.
 

99.jpg
Exclusividade: modelo Riva Aquarama Lamborghini, fabricado sob encomenda em 1968, ficou
abandonado na Holanda por quase duas décadas e passou por minuciosa reforma. O painel
de instrumentos foi refeito com peças originais. Já os dois motores V12 foram trocados

?Trata-se de um mix perfeito de design inovador, soluções high tech e uma excelência em ergonomia?, afirma Ron Gibbs, da Silver Arrow Marine, estaleiro que construiu o Arrow640. Foram 12 meses de trabalho, com uma equipe experts náuticos entre designers, engenheiros e especialistas em alta tecnologia. O resultado é um barco de 14 metros de comprimento com um projeto digno dos megaiates mais modernos. Tudo em troca de US$ 1,7 milhão. As primeiras encomendas já foram feitas e as entregas deverão acontecer no segundo semestre de 2015.

Na mesma linha da esportividade, a inglesa Aston Martin já tem em sua gaveta de projetos a lancha Martin Voyage 55. Criada pelo escritório De Basto Designs, de Miami, o barco de alta performance foi desenhado em homenagem aos carros como o Vantage e o DBS. A identificação com eles passa pelas cores, pela imensa logomarca na proa e por elementos como as grades nos lados do casco, que lembram as entradas de ar laterais dos bólidos de rua. Infelizmente, o Martin Voyage 55 é só um conceito e, por ora, não tem previsão de sair do papel. A comunhão de design entre carros e barcos não é exatamente nova.
 

98.jpg
Tudo para emplacar: inspirado nos carros Aston Martin, o Martin Voyage 55 é um barco-conceito que ainda
não foi autorizado pela montadora inglesa para se tornar realidade. Se depender da torcida,
no entanto, é só questão de tempo

Nos anos 1960, os italianos Carlo Riva e Ferruccio Lamborghini construíram uma lancha Aquarama única, que acaba de ser ressuscitada na Itália (leia o quadro ao lado). No entanto, foi a partir desta década que o compartilhamento de conceitos se intensificou. De volta a bordo do supercatamarã RFF 135 desenvolvido pela Porsche, o que se tem é uma nítida impressão do discurso industrial alemão. Não há excessos nem pirotecnia, apenas uma extrema preocupação com a funcionalidade, como nos carros oriundos daquele país. Para eles, um conjunto eficiente sempre prevalecerá sobre o detalhe extravagante, seja sobre rodas ou sobre as ondas.

A volta do mito

Abandonada por 17 anos, a Riva Aquarama Lamborghini volta aos mares depois de três anos de reforma

Os amantes de barcos do mundo inteiro sabiam da lenda. No final dos anos 1960, Ferruccio Lamborghini, fundador da montadora italiana de carros superesportivos, havia encomendado ao amigo Carlo Riva, fabricante das lendárias e charmosas lanchas de madeira, um modelo exclusivo. A ideia era reunir num só veículo o melhor do design de barcos com o motor de carro mais potente da época. A missão foi aceita e apenas três meses depois nascia a Riva Aquarama Lamborghini, carregando no compartimento de máquinas nada menos do que dois bravíssimos V12 de 350 cavalos, os mesmos usados nos Lambo 350GT.
 

100.jpg

O resultado foi a Riva mais veloz da história, com velocidade final de 89 km/h. Quando Ferruccio morreu, em 1993, a icônica Riva Aquarama sumiu do mapa. Um abnegado e anônimo fã das lanchas, no entanto, empreendeu uma longa investigação e descobriu, em 2010, a embarcação em um ancoradouro holandês, coberta com uma lona, praticamente abandonada. Sem condições para a sua remoção até a Itália, ela foi reformada ali mesmo pela empresa especializada Riva World. Além da delicada recuperação da madeira, um dos motores estava completamente inutilizado.
 

101.jpg

A saída encontrada foi comprar dois outros iguais aos da época e adaptá-los ao uso em barcos, com a ajuda de Sandro Morosini, mecânico que havia desenvolvido, 45 anos atrás, os motores para Ferruccio. No mês passado, três anos após ser encontrada em frangalhos, a Riva Aquarama Lamborghini 1968, estalando de nova, ganhou as águas outra vez no Lago d?Iseo, ao norte da Itália. Quando Carlo Riva, o próprio, virou a chave e fez bufar os dois V12, uma comoção tomou conta dos presentes, entre eles Fabio Lamborghini, neto de Ferruccio. Era o mito que renascia.
 

> Siga a DINHEIRO no Twitter 

> Curta a DINHEIRO no Facebook