Em meio a pressões do PMDB para a troca da cúpula da Polícia Federal, o diretor-geral da corporação, Leandro Daiello, aceitou ontem pedido do ministro da Justiça, Torquato Jardim, e permanecerá por mais um período no comando da instituição.

“Fiz o convite e ele aceitou”, disse Torquato ao “Estadão”. Questionado sobre o prazo de sobrevida de Daiello, o ministro afirmou que ele ficará “o tempo que for necessário” para consolidar o trabalho realizado.

A manutenção de Daiello no cargo ocorre no momento em que o presidente Michel Temer e outros políticos do PMDB – incluindo ministros, senadores e ex-deputados – são alvo da Lava Jato e de ações da PF.

“Pedi para ele ficar porque temos vários projetos em andamento. Precisamos dar continuidade à preparação da nova Política Nacional de Segurança Pública e à modernização da Polícia Federal com mais atuação em tecnologia e internacional. Não me pareceu adequado que o diretor-geral da Polícia Federal se afastasse agora”, afirmou Torquato, sem falar de Lava Jato.

Daiello sairá de férias por duas semanas e, depois, retomará suas funções na PF, cargo que ocupa desde janeiro de 2011. O acerto entre ele e Torquato foi feito ontem, em Araxá (MG).

A pressão do PMDB para o ministro substituir o comando da PF aumentou após a ação que resultou na descoberta do “bunker” atribuído ao ex-ministro Geddel Vieira Lima, com R$ 51 milhões. Além disso, o Planalto não escondeu irritação com o “vazamento” de relatório da PF sobre o “quadrilhão” do PMDB. As conclusões do inquérito serviram de base para o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, apresentar nova denúncia contra Temer, por organização criminosa e obstrução da Justiça.

As negociações para a troca de direção na PF estavam sendo feitas entre Torquato e o próprio Daiello desde que o ministro assumiu a pasta, no fim de maio. Alegando estar cansado, o diretor-geral da PF – que é responsável pelas principais investigações de combate à corrupção – pôs o cargo à disposição e disse que iria se aposentar.

‘Instabilidade’

O nome mais cotado era o de Rogério Galloro, número 2 de Daiello. Ao Estado, o presidente da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF), Carlos Eduardo Sobral, defendeu Galloro, mas afirmou que, agora, o melhor é a permanência de Daiello. “Nesse ambiente de grande instabilidade política, é razoável que o atual diretor permaneça para a continuidade das investigações que estão em andamento”, disse Sobral.

O presidente do PMDB, senador Romero Jucá (RR), negou a pressão para emplacar alguém ligado ao partido no comando da PF. “Não há nenhuma indicação do PMDB. A Polícia Federal é um cargo de confiança do presidente da República e do Ministério da Justiça e tem de ser levada em conta a meritocracia da instituição”, disse Jucá.

Nos bastidores, porém, auxiliares de Temer e a cúpula do PMDB avaliam ser preciso esvaziar o que os investigados da Lava Jato classificam de “investigações midiáticas”. A expectativa no Planalto é a de que Raquel Dodge, sucessora de Rodrigo Janot, faça uma espécie de “auditoria” no Ministério Público e arquive ações consideradas “políticas”. Raquel assumirá o cargo na próxima segunda-feira. O governo também traçou uma estratégia para transformar a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPI) da JBS em um palanque para desmoralizar a segunda denúncia de Janot contra Temer.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.