Dez anos atrás, a paulistana Sara Zecker entendia muito sobre divisão celular e hormônios, temas das aulas que ministrava em colégios de Santo André, na Grande São Paulo. Sua ligação com telecomunicações se restringia ao uso do telefone para a administração do lar e da rotina dos três filhos. Hoje, a
ex-professora é uma das mulheres mais influentes do mercado de
infra-estrutura para telefonia e transmissão de dados no País. Verdadeira dama das fibras ópticas no Brasil, ela inaugura, no próximo dia 17, em Sorocaba (SP), a Draktel, uma fábrica com capacidade para suprir metade do mercado nacional de cabos para telecomunicações. Aos 52 anos, Sara é a dona da Telcon, empresa com faturamento de R$ 140 milhões que divide igualmente o controle da Draktel com a holandesa Draka. De início, a produção deve chegar a 600 mil km anuais, mas poderá ser ampliada para 2,4 milhões de quilômetros conforme a demanda. ?A fábrica cresceu tanto que já não dá mais para escondê-la debaixo do tapete?, diz ela.

Formada em Biologia e em Química Industrial, Sara precisou se desdobrar para competir com multinacionais como a japonesa Furukawa e a francesa Alcatel. Sua incursão no mundo dos negócios começou com uma fatalidade: a morte do marido Benjamim Zecker, um ex-diretor da Pirelli que há 16 anos montara um pequeno galpão para reparar fios de telefone. ?No funeral dele, pude ver vários profissionais especulando sobre quem iria comprar a Telcon?, diz ela. Sara, porém, não se curvou e começou a pesquisar sobre o mundo das telecomunicações. ?Eu entrevistei todos os trinta funcionários e pedi amostras dos produtos para entender como eles funcionavam?, conta. Em seguida, procurou ajuda profissional para gerir a empresa. Ao ler uma revista, gostou de uma nota sobre um livro de administração e ligou para a editora à procura do autor. Foi então que conheceu o consultor Uwe Waldemar Rasmussen. ?Ela aprendeu muito rápido e defendeu o patrimônio da empresa com um forte instinto maternal?, diz Rasmussen, que acompanhou a trajetória de Sara por quatro anos. A fábrica cresceu e chegou a faturar de R$ 20 milhões ao ano. Em 1997, porém, Sara sentiu que o alto nível tecnológico dos concorrentes poderia deixar a Telcon para trás e começou a procurar parceiros. Sem admitir perder o controle da companhia, Sara fechou com os holandeses da Draka ainda em 2000.

A inauguração da Draktel, contudo, pega o mercado em um momento de fragilidade. Em estado de crise declarada, a maior parte das operadoras de telecomunicações cancelou as compras de equipamentos. ?A demanda por cabos de fibra óptica caiu vertiginosamente?, diz Claudio Almeida, gerente de consultoria em telecomunicações do instituto de pesquisas IDC. O baque foi tão forte que algumas companhias simplesmente desistiram do setor. Em novembro, a Lucent vendeu uma unidade recém-inaugurada de cabos ópticos para a rival Furukawa. ?Está tudo parado?, lamenta-se Sara. A Telcon, que chegou a ter 300 funcionários há dois anos, hoje tem 100. ?Mas não estamos fazendo tudo isto pensando só no momento presente. Estou confiante de que tudo irá se normalizar em dois anos?, acredita ela.