A notícia veio discreta e gerou uma forte repercussão, como tudo o que se refere a Daniel Dantas. Na segunda-feira 27, uma nota de quatro linhas no Diário Oficial da União informava que o Banco Central havia autorizado, no dia 13 de maio, uma mudança do status do Opportunity. A instituição financeira passou a operar apenas como banco de investimentos, abrindo mão da carteira comercial, que permite emprestar dinheiro. Aparentemente, apenas uma mudança burocrática – o Opportunity foi fundado em 1994 e, nesses quase 20 anos, Dantas nunca concedeu um real de crédito. No entanto, a alteração indica que o engenheiro e economista baiano vai acelerar a gestão de recursos. 

 

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Banqueiro controverso: Daniel Dantas enfrentou processos na justiça e brigou

com os sócios. Hoje ainda tem R$ 19 bilhões sob gestão

 

A meta também é participar, ainda que devagar, do pujante mercado de aberturas de capital de empresas, os Initial Public Offerings (IPOs), e de fusões e aquisições. A mudança representa uma volta às origens. Dantas, considerado um dos economistas mais brilhantes de sua geração, também é um dos empresários mais polêmicos do País, tendo se envolvido na maior disputa societária da história do capitalismo brasileiro. Ao participar da privatização das empresas de telefonia, realizada no fim dos anos 1990, Dantas associou-se com os fundos de pensão do Banco do Brasil e da Petrobras, com a Telecom Itália e com o Citibank. Seu estilo agressivo e competitivo o fez brigar com todos. 

 

Enfrentou incontáveis disputas judiciais, a ponto de, no fim da década passada, gastar cerca de 80% de seu tempo com advogados e de frequentar as manchetes. Ao escolher adversários pesados e conectados politicamente, Dantas não passou incólume. Alvo de duas operações da Polícia Federal, a Chacal, em 2004, e a Satiagraha, em 2008, o banqueiro chegou a ser preso por algumas horas em julho de 2008, mas foi libertado graças a um habeas-corpus do então presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes. A polêmica comprometeu a imagem do Opportunity como gestor de recursos e levou a empresa a um recuo estratégico na virada da década. 

 

No entanto, em 2010, a Justiça Federal de São Paulo travou o julgamento das acusações levantadas a partir da Operação Chacal (Dantas seria absolvido em 2012). Em 2011, o Superior Tribunal de Justiça anulou as provas que haviam sido colhidas na Satiagraha, o que extinguiu o processo contra ele.Inocentado e livre das pendências societárias, Dantas voltou a concentrar-se na gestão de recursos. Atualmente, o Opportunity gerencia R$ 18,9 bilhões, o que o coloca na 14a posição entre os gestores brasileiros, o maior não associado a grandes grupos financeiros. Em 2011, o banco lançou uma nova família de fundos, tanto imobiliários quanto de participações em empresas fechadas, o chamado private equity, cujo capital pretende abrir em breve. Procurado pela DINHEIRO, Dantas não concedeu entrevista.

 

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