A crise na Europa vem quebrando paradigmas de todos os tipos. O último deles é o da moratória. Quem não se lembra da reação indignada de investidores e bancos europeus ao calote argentino? Pois agora a própria Alemanha está propondo que a Grécia decrete uma espécie de  moratória em vez de negociar um novo pacote de ajudado Fundo Monetário Internacional (FMI) e da União Europeia.

A proposta veio numa carta do ministro alemão de Finanças, Wolfgang Schäuble, de estender por sete anos o vencimento de bônus que maturam entre 2012 e 2014. A troca traria, segundo o próprio ministro, uma “contribuição substancial dos credores” na solução do problema da dívida do país. As agências de rating traduziram: seria um calote no qual os compradores privados de títulos públicos  gregos perdem e não apenas os governos. 

 

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Seria a velha e boa maneira de evitar o “moral hazard” ou risco moral, fazendo com que os investidores que correram mais risco ganhando taxas de juros mais altas nos títulos de dívida sofram com o prejuízo. Há um ano, a Grécia recebeu um pacote de ajuda de E 110 bilhões, mas precisa de novo de recursos. Já se fala num novo pacote de E 80 a E 100 bilhões, e os contribuintes alemães estão irritados com a perspectiva de colocar mais recursos no sorvedouro de dinheiro. 

 

A sugestão de calote colocou a Alemanha em rota direta de colisão com o Banco Central Europeu (BCE). Seu presidente, Jean-Claude Trichet, disse que seria um “enorme erro” tomar uma decisão que resultasse num default da Grécia. A França também se declarou contrária à proposta. O BCE tem condições de recusar a solução alemã porque o banco central precisa aceitar os bônus da Grécia como garantia para emprestar dinheiro aos bancos. Mas o BCE diz não poder fazer isso se a Grécia estiver tecnicamente em default. 

 

O banco central também argumenta que um calote agora poderia minar a confiança já frágil dos investidores internacionais nos países da Europa periférica. Isso poderia criar problemas para economias maiores, como a Espanha ou a Itália, e detonar uma temida crise de maiores proporções na Zona Euro. 

 

O debate ocorre em meio à contagem regressiva para a Grécia, que deve ficar sem dinheiro em meados de julho. Nessa briga, a Alemanha assume um papel cada vez mais preponderante dentro da União Europeia. Até porque são os bolsos alemães que estão suprindo os bilionários pacotes de resgate aos países periféricos. Mas suas decisões podem começar a causar ressentimentos. 

 

Os protestos que não param na Grécia refletem a dor imposta pelas medidas de austeridade exigidas pelos pacotes de ajuda, velhas conhecidas das economias latino-americanas. No primeiro trimestre, o PIB grego caiu a uma taxa anualizada de 5,5%. Uma moratória, entretanto, não seria muito melhor para o país, já que perdas para credores privados costumam cortar o financiamento a governos e empresas por longos períodos. Para os gregos, faz pouca diferença se quem está arcando com o prejuízo é o contribuinte alemão, um banco ou fundo de investimento.