30/07/2008 - 7:00
NO MUNDO DA MODA, AS vozes que ditam as tendências vêm da França, da Itália e dos Estados Unidos. A França porque é o berço da alta-costura, a Itália porque é de lá que vem o prêt-à-porter e os EUA porque é o maior mercado consumidor do mundo. Quebrar essa tradição é uma tarefa impossível, mas, aos poucos, alguns conceitos estão sendo revistos pelas grifes. A Daslu, tradicional butique de luxo que fez história vendendo moda internacional, vai apostar no estilo brasileiro. No dia 12 de agosto, a grife abrirá as portas para uma exposição de arte e artesanato brasileiro para celebrar o lançamento da coleção Daslu Chic-Xique, inspirada principalmente na festa maranhense do Bumba Meu Boi. O que poderia ser o simples lançamento de uma coleção sazonal de moda é, na verdade, uma ambiciosa estratégia para se posicionar no mercado internacional. “A nossa idéia é lançar duas coleções brasileiras por ano e vender também no Exterior”, diz Eliana Tranchesi, a dona da Daslu. Com isso, poderá pegar carona na próxima onda do mercado de varejo, de olho nos BRICs, bloco de países em franco desenvolvimento formado por Brasil, Rússia, Índia e China. “Destes países, o Brasil é o único que reúne uma série de características que o mundo precisa”, diz Ucho Carvalho, sócio da agência de comunicação N Idéias, que assessora a Daslu. “O Brasil tem valores facilmente percebidos como informalidade, sensualidade, diversidade e irreverência.”
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COLORIDAS: as roupas da coleção Chic-Xique são inspiradas em festas como Bumba Meu Boi |
Essa mistura pode ser vista na nova coleção da Daslu. As roupas são inspiradas em temas do folclore nordestino e confeccionadas com rendas e materiais produzidos por comunidades do interior de Pernambuco e de Fortaleza. A Daslu Casa também venderá produtos artesanais criados pelas comunidades. Para isso, a grife acaba de lançar uma área de e-commerce no site que recebe 700 mil acessos por mês. “Poderemos vender até fora do Brasil”, diz Eliana. Há, contudo, quem enxergue um certo exagero na estratégia da marca em criar roupas com a cara do folclore brasileiro. “Será que alguém lá fora vai entender o que é Bumba Meu Boi?”, indaga André Robic, diretor do Instituto Brasileiro de Moda (Ib- Moda). “O consumidor americano, por exemplo, nem vai querer saber o que é isso.” Esse é, na verdade, um grande desafio para a grife: saber se comunicar e traduzir os conceitos para os consumidores. Essa é uma tarefa que ficará a cargo de Eliana, que cuida do marketing da empresa. “Agora estou voltando a criar, levando a vida normalmente”, diz Eliana, referindose aos problemas ocasionados com a Operação Narciso, deflagrada em julho de 2005 e que culminou em milionários processos de sonegação fiscal.
O ano passado pode ser considerado o ano da virada para a empresa. Depois de um longo período sem poder importar peças, a Daslu voltou a trazer roupas das grifes internacionais e fechou 2007 com um faturamento de R$ 245 milhões. Para 2008, a previsão é de faturar R$ 320 milhões. O crescimento, acredita Eliana, virá da nova butique no shopping Cidade Jardim, em São Paulo, a primeira de uma série de quatro planejadas pela marca, e do incremento de 50% nas exportações, que no ano passado atingiram US$ 3,5 milhões. “A Daslu está voltando a ser o que era”, conclui Eliana.