Para o fundador e CEO do Grupo Stefanini, Marco Stefanini, o investimento direcionado ao negócio de data center é algo relevante, mas tem recebido mais atenção do que deveria. Isso, porque na sua concepção não se trata de um negócio de tecnologia.

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“Eu entendo que um investimento em data centers é algo necessário para o país, mas ele não tem o peso que talvez todos estejam pensando. Na verdade é um negócio muito mais de real estate“, comenta.

Real estate, termo utilizado pelo empresário, se refere ao setor de imóveis físicos, à compra, venda, aluguel e desenvolvimento de imóveis residenciais, comerciais e industriais. Em suma, Stefanini defende que investir em data centers é mais como levantar um prédio do que como desenvolver uma nova tecnologia.

“Então eu acho que o mesmo incentivo que foi dado aos data centers deveria ser dado ao que a gente chama de conteúdo de inteligência artificial, construção de softwares, soluções baseadas em IA“, defende.

Os data centers armazenam, processam e distribuem informação, incluindo aplicações, serviços em nuvem, IA, streaming e a conhecida internet das coisas. Com o advento e a popularização da Inteligência Artificial, o tema passou a ser mais relevante e estratégico.

Possuir um data center localizado perto do usuário reduz latência (tempo de resposta) e melhora performance, reduzindo drasticamente a dependência de infraestrutura externa – que se torna ainda mais estratégica para dados que são sensíveis e críticos.

O Governo Federal editou uma Medida Provisória (MP), a Redata, passando a isentar de tributos federais como PIS, COFINS, IPI e tarifas de importação para equipamentos de data centers.

Também há incentivos condicionados, como exigência de energia limpa, uso sustentável de água e contribuição ao desenvolvimento regional.

Em simultâneo, órgãos como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) tem apoiado o setor com linhas de crédito – em setembro do ano passado, o banco lançou uma linha de R$ 2 bilhões em parceria com o Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (FUST).

‘Brasil é um dos países mais complexos’

Atualmente o Grupo Stefanini está presente em 46 países e, do total, o Brasil integra a ‘tríade dos mais complexos’, segundo o CEO da companhia. À IstoÉ Dinheiro, conta que a complexidade – jurídica e tributária – tornam o Brasil, a Itália e a Argentina geografias pouco business friendly.

“Dentro de todos os países que a gente opera, o Brasil certamente é um dos países mais difíceis. Primeiro, carga tributária é muito alta.. O ambiente jurídico também tem uma insegurança, até em relação ao passado, e temos uma burocracia bastante forte. Então é um país que ainda, vamos chamar assim, não é o maior incentivador da iniciativa privada”.

Sobre a regulação, defende que a Lei da Informática deveria ser revisitada. A tese é de que, dado que a legislação tem mais de três décadas, uma repaginação seria necessária para balancear incentivos ao setor.

“É uma lei que observava a realidade na época. Ela incentiva basicamente o que a gente chama de hardware. São os computadores, que hoje não é onde tem o maior valor agregado. O maior valor agregado são nas empresas atividades de software e de serviços de tecnologia. E essas não são são abordadas, não são incentivadas pela Lei da Informática. Para mim, há um gap aí.”