A revolução data-driven, termo utilizado para descrever a utilização de dados sobre os consumidores para tomada de decisões, já chegou em diversos setores do mundo corporativo, não somente na publicidade. Quem está entrando na onda agora é a área da saúde. Foi com essa oportunidade em vista que a Semantix decidiu fazer a aquisição da Zetta Health Analytics e mergulhar de cabeça no mercado de dados do setor. “Isso traz uma rica camada de plataforma segmentada para o setor de saúde”, afirmou à DINHEIRO André Frederico, general manager para a América Latina da Semantix. “Vai possibilitar o aporte de uma série de elementos dentro do ecossistema.” A companhia brasileira abriu este ano seu capital na Nasdaq e tem investimento de empresas como Bradesco/Inovabra, Crescera e Innova Capital. Na quarta-feira (7), o valor de mercado era de US$ 181,9 milhões.

O objetivo confesso da empresa, que tem 12 anos e mais de 300 clientes em 15 países, é ser a líder de mercado. Para isso, as ações de M&A (fusões e aquisições) vão “ajudar a entrar onde ainda não temos expertise”, disse Frederico. Foi esse o racional usado na aquisição da Zetta, que deve levar os recursos da healthtech para o Semantix Data Platform. Trata-se de um ecossistema que oferece várias soluções de inteligência de mercado em um só lugar. “Antes, era necessário contratar diversas respostas individuais. Numa plataforma única, eliminamos essas fricções”, afirmou. Com isso, os clientes acessam informações de variados sistemas e de fontes públicas para tomar decisões mais embasadas e criar modelagens de dados para o negócio.

TRANSPARÊNCIA A Zetta já foi eleita por duas vezes consecutivas, em 2020 e 2021, a healthtech número 1 no ranking Top 100 Open Startups em seu segmento. É especializada em criar soluções SaaS (software como serviço) para políticas públicas, epidemiologia e gestão de custos assistenciais. Oferece unificação de bases, gestão de saúde corporativa, ferramentas de inteligência de mercado e recursos para aumentar a rentabilidade das empresas. Fundada em 2019, já processou R$ 42 bilhões de sinistros de planos de assistência médica nos 648 clientes atendidos.

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“A aquisição da Zetta vai possibilitar o aporte de uma série de elementos dentro do ecossistema da saúde”André Frederico General Manager para a América Latina da Semantix.

Para Thiago Pavin, fundador da Zetta, a startup contribui “com a transparência e a sustentabilidade financeira do mercado de saúde suplementar”. Seus produtos finais são painéis de dados (dashboards) e insights. “A gente ensina as instituições a cuidarem melhor dos colaboradores e das pessoas, enquanto economizam.” Segundo ele, a organização dos dados e a criação de indicadores comparáveis é uma demanda dos gestores do setor, sejam eles de empresas, hospitais ou seguradoras. Na plataforma Semantix, isso será feito com escala.

A gestão de dados é cada vez mais decisiva e estratégica num cenário data-driven e justamente por isso há forte preocupação com segurança. Como o modelo de negócio gira em torno desse ativo, é essencial a preocupação com a cibersegurança. “Não podemos ficar expostos a esse tipo de riscos”, disse Frederico. São diversas ferramentas para garantir que não haja vazamentos, além da implementação de políticas para educação dos funcionários quanto ao tema. “Tem que estar culturalmente enraizado”, afirmou.

COMPLEXIDADE A discussão sobre a privacidade de dados ganhou força com a adoção de leis e regras em diferentes partes do mundo que punem as empresas com multas bilionárias em casos de vazamentos ou mau uso. No Brasil, elas estão sob a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). Na área médica, o tema é ainda mais complexo. Segundo Pavin, da Zetta, a tensão é maior porque, de um lado, há a necessidade de cada pessoa ter suas informações preservadas. De outro, o uso de dados maciços de um espectro amplo de pessoas gera elementos inerentes do setor que ajudam a cuidar da população, prevenir doenças e até pandemias. Por isso, para Pavin, o importante é colocar o paciente no centro do processo e entender que seus dados são extremamente sensíveis. “Precisamos ter uma responsabilidade adicional com isso”, disse. “Porque as pessoas ficam muito fragilizadas quando estão doentes.”

Segundo ele, logo serão desenvolvidos modelos para que haja monetização das informações, onde as pessoas estarão mais no controle dos dados e que também vai possibilitar mais ensaios clínicos e pesquisas. “Todos sairão ganhando.”