Por Eduardo Simões

(Reuters) – A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, disse nesta terça-feira durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, que o Brasil defende uma meta global para a queda na perda de florestas e que preservar a floresta amazônica não é uma responsabilidade apenas brasileira.

Em painel ao lado do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, Marina afirmou que os investimentos necessários para sua pasta contam com a concordância de Haddad e disse que, caso o mundo não faça sua parte no combate às mudanças climáticas, a preservação da Amazônia pelo Brasil não terá efeito.

“O Brasil quer também liderar uma iniciativa global sobre florestas. Já estamos em diálogo com os países mega florestais para poder ter uma meta de redução de perda de florestas em termos globais”, disse a ministra durante o painel.

Marina também foi questionada sobre a candidatura recentemente anunciada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva da cidade amazônica de Belém, capital do Pará, como sede da conferência da Organização das Nações Unidas sobre o clima em 2025, a COP30, e disse que a ideia de sediar a reunião global visa sinalizar o compromisso brasileiro com a floresta, mas também chamar o mundo à responsabilidade.

“Ter uma COP do clima na Amazônia é uma demonstração em primeiro lugar do nosso compromisso do nosso continente, do nosso país com a proteção desse bioma tão importante para o mundo, mas particularmente para dizer que a responsabilidade de preservá-la não é só nossa. Precisamos de parcerias, precisamos de cooperação tecnológica, mas precisamos, sobretudo, que o mundo também faça sua parte”, disse.

“Nós podemos reduzir o desmatamento da Amazônia a zero, e se o mundo continuar emitindo CO2, usando combustível fóssil, a Amazônia será destruída igualmente”, disse ela, acrescentando que a ideia é que a COP30 “aconteça não mais no ambiente dos enunciados, mas dos resultados”.

ACORDO COM UE E FINANCIAMENTO

Em conversa com jornalistas após o painel, Marina disse que tem percebido uma grande intenção de governos, empresas e entidades filantrópicas em contribuir com financiamento para a preservação da Amazônia, especialmente via Fundo Amazônia, que ficou praticamente paralisado nos quatro anos de mandato do ex-presidente Jair Bolsonaro, marcado por recordes sucessivos no desmatamento e pelo desmonte de órgãos de cumprimento da lei ambiental.

A ministra citou, por exemplo, esforços da fundação liderada pelo ator de Hollywood Leonardo DiCaprio de arrecadar 100 milhões de dólares para o mecanismo, assim como a intenção da fundação do dono da gigante global de comércio eletrônico Amazon, Jeff Bezos, de contribuir.

“Há uma promessa muito vigorosa de investimentos no Brasil, tanto de empresas, quanto de governos quanto da filantropia. Agora mesmo estamos organizando uma ida de várias instituições filantrópicas para ajudar a captar recursos para o Fundo Amazônia”, disse Marina.

“Ainda quando estava no Brasil tive uma reunião muito promissora com os operadores da fundação do Leonardo DiCaprio que está fazendo um esforço para captar 100 milhões de dólares para o Fundo Amazônia e estamos em contato também com a Fundação Bezos que quer fazer aporte de recursos.”

A ministra disse ainda que se reuniu com o presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o brasileiro Ilan Goldfajn, e ele mostrou disposição do organismo multilateral de crédito para também contribuir com o fundo, seja por meio de linhas de financiamento, seja cedendo equipes técnicas para acelerar projetos.

Marina também comentou sobre o acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul, que vem encontrando dificuldades dado ao histórico ambiental da gestão Bolsonaro.

“No que concerne o acordo da União Europeia com o Mercosul, nós já temos um elemento fundamental, que é a confiança. O Parlamento Europeu está considerando que agora temos um governo que está comprometido com a proteção da Amazônia, dos demais biomas brasileiros, a defesa dos direitos humanos, a defesa da democracia e estabilidade política para que se possa finalizar o acordo”, disse ela.

(Reportagem de Eduardo Simões, em São Paulo)

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