Todo ano, nesta época, uma cidadezinha no interior da Suíça vira notícia nos jornais, revistas e telejornais de todo o mundo. Presidentes de países tentam provar como seus mercados são atraentes, dirigentes de empresas querem mostrá-las como sólidas e inovadoras, e economistas otimistas e pessimistas desfilam suas previsões para os meses seguintes. 

 

Há 40 anos, “o mundo se encontra em Davos”, como se costumava dizer. E costumava ser assim mesmo. As salas e corredores do Kongresszentrum já presenciaram encontros importantes. Foi lá, nos anos 80, que os primeiros-ministros grego e turco sentaram-se lado a lado para discutir economia. 

 

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E foi lá que, em 1990, as duas Alemanhas discutiram a reunificação. Mas será que Davos ainda é tão importante quanto costumava ser? Ainda vale a pena se deslocar para uma estação de esqui para ouvir palestras e mais palestras sobre o estado da economia mundial? Vale a pena para a sua empresa? 

 

A resposta a esta pergunta deve ser precedida por uma informação importante. Por mais tentador que pareça passar uns dias numa estação de esqui, os seis dias de eventos podem custar o mesmo que o salário anual de um executivo de primeira linha. 

 

O editor do New York Times Andrew Ross Sorkin fez as contas: a filiação com direito a participação em todos os eventos para cinco pessoas de uma empresa custa US$ 662 mil. O equivalente a R$ 1,1 milhão. 

 

E isso é só para participar dos encontros. A conta aumenta muito se a empresa organizar um jantar para clientes. Mas será que tamanho investimento tem retorno? Que tipo de informação o executivo ouvirá nas palestras ou nos corredores do congresso que valem tanto?

 

Aí é que está o problema. O fórum já contou com a participação de líderes importantes. Bill Clinton ia quando era presidente americano (ainda vai, mas agora como dono de ONG), assim como o ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair. 

 

O ex-secretário de Comércio americano Donald Evans desdenhou do custo da guerra do Iraque quando ela ainda parecia fácil. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez lá sua primeira aparição no palco internacional, em 2003, com uma palestra defendendo o combate à pobreza. 

 

Foi efusivamente aplaudido. Neste ano, Dilma Rousseff esnobou Davos. A presidente considerou que o Brasil, agora credor do Fundo Monetário Internacional e liderando o processo de reforma do sistema financeiro internacional, já não precisava pedir a bênção dos países ricos. 

 

O problema é que vários outros governantes e dirigentes de empresas pensaram parecido. Países como China e Índia, assim como o Brasil, enviaram apenas ministros. Chefes de governo, basicamente da Europa. Barack Obama e Hu Jintao? Nem pensar.

 

O mesmo se pode dizer do meio empresarial. Os organizadores afirmam que o encontro tem a participação de mais de 1,4 mil líderes de mil empresas. Mas uma lista dos 100 principais presidentes de empresa (organizada pelo próprio fórum) lista apenas seis indianos e três chineses, os dois países que mais crescem no mundo. 

 

E apenas um brasileiro (o presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli). A diversidade é pequena. E aproveitando um conceito discutido nos debates do fórum, o do crescimento da economia mundial em duas velocidades diferentes, o setor privado era representado basicamente pelos países que crescem em velocidade mais lenta. 

 

Por isso tudo é que vale a pena perguntar: será que hoje em dia Davos ainda é o local onde “o mundo” se encontra ou apenas o mundo em crise?