A tradicional rede de lanchonetes Casa do Pão de Queijo entrou com um pedido de recuperação judicial na última sexta-feira, 28, com dívidas que somam R$ 57,5 milhões.

O documento protocolado na justiça aponta que a empresa tem dívidas de R$ 55,8 milhões com credores sem garantia, R$ 1,3 milhão de débitos com credores que se enquadram como microempresas e empresas de pequeno porte e outros R$ 244,3 mil associados a dívidas trabalhistas.

No documento apresentado para a justiça, a companhia afirma que nos primeiros meses de 2020 o faturamento caiu 97%, muito afetado pelo fechamento dos aeroportos onde a rede mantinha lanchonetes.

A empresa chegou a ter mais de 1000 pontos de vendas somando 400 lojas franqueadas e 600 pontos de venda, como vitrines em lojas de conveniência em 2008 e hoje soma 192, com 22 lojas próprias e 170 franquias. As franquias estão fora do pedido de recuperação.

Marcelo Paganini de Toledo, professor de marketing do curso de Administração da ESPM, acredita que uma recuperação judicial sempre acontece por uma série de fatores e que a pandemia mudou processos do setor alimentício.

“Toda a recuperação judicial tem algumas características. A primeira é uma conjuntura econômica que às vezes não favorece ninguém e a segunda são tomadas de decisões equivocadas e investimentos mal feitos. A gente teve um fator externo que foi a pandemia, que fez com que essas marcas ficassem sem poder vender da maneira como ela estava acostumada e em paralelo a isso um surgimento de um mercado imenso de delivery, que fez muitas companhias ficarem no meio do caminho”, disse.

A justiça solicitou uma perícia para aceitar ou não o pedido.

Logo da marca é baseado em matriarca da família

  • O logo da marca faz referência a Arthêmia Chaves Carneiro, mãe do fundador da rede Mário Carneiro. 
  • De acordo com a empresa, ela é a autora da receita que é usada até hoje pela lanchonete. Arthêmia faleceu em 1997, aos 92 anos.
  • A família Carneiro fundou o negócio em 1967 e chegou a vender a maior parte da participação na rede, se tornando sócia minoritária. Porém, em 2012, a família voltou a ser a única dona do negócio.  
O logo da marca faz referência a Arthêmia Chaves Carneiro, mãe do fundador da rede Mário Carneiro
O logo da marca faz referência a Arthêmia Chaves Carneiro, mãe do fundador da rede Mário Carneiro (Crédito:Reprodução)

Setor está em crise?

Outro caso de rede em crise é a SouthRock, que controlava a rede de cafeteria Starbucks e o Subway, que entrou em recuperação judicial com uma dívida de R$ 482 milhões.

Para o advogado especialista em Planejamento Estratégico Empresarial Fernando Canutto, o setor alimentício vive um momento difícil e ainda sofre com alguns reflexos da pandemia.

“Os principais desafios são as margens de lucro estreitas; os custos de insumos, aqui incluindo energia elétrica, gás e combustíveis; a complexa gestão de estoque, pelo fato dos insumos serem perecíveis; e a expansão acelerada, muitas empresas no ramo alimentício buscam expandir rapidamente, aumentando seus custos com aluguéis, pessoal e marketing”, afirma Canutto.

Toledo destaca que, apesar de atuarem na mesma área, as situações da Casa do Pão de Queijo e da Starbucks são diferentes entre si, já que a dívida da primeira é muito menor.

“A Casa do Pão de Queijo tomou decisões equivocadas sobre o ponto de vista do negócio, como por exemplo as lojas em aeroportos. Já a Starbucks é um grupo imenso que arriscou demais. A Casa do Pão de Queijo tem poucas lojas próprias e a maioria de franquias. É possível que a rede volte às origens e corrija a rota para colocar a casa em ordem”, diz.