08/10/2008 - 7:00
Parte da equipe do Seu Jarbas: transporte dos paulistanos dos bares para casa cresce tanto quanto o número de motoristas da empresa
O paulistano Luiz Martins trabalhou normalmente no dia 20 de junho passado em sua pequena imobiliária, sem saber que, horas mais tarde, daria um novo passo em sua vida empresarial. À noite, ao chegar em casa, o noticiário da tevê falava da promulgação da chamada lei seca federal, aquela que restringe o consumo de álcool pelos motoristas. Ele e o filho, o estudante de administração Guilherme, discutiram o fato e comentaram como a vida dos boêmios das animadas noites da cidade ficaria mais fácil se houvesse um serviço de motoristas para levá-los para casa. Os dois riram de imaginar a situação e, quase juntos, decidiram: seremos os motoristas! Naquele instante, embriagados pelo instinto empreendedor, pai e filho se tornaram sócios. Criaram ali mesmo a empresa Seu Jarbas, especializada em conduzir as pessoas dos bares até as residências, com o carro dos próprios clientes. O negócio começou pequeno, com a divulgação de um cartaz e displays nas mesas de quatro bares do badalado bairro da Vila Madalena, onde os dois moram. Logo na primeira noite, cinco clientes foram atendidos. ?Hoje, atendemos uma média de 35 pessoas de segunda a quinta-feira e de 60 nos finais de semana?, afirma Luiz, que tem o serviço conveniado com 20 bares em outros lugares agitados, como Itaim, Brooklin, Moema e Vila Olímpia. Além do apoio de um site e um telefone ligado dia e noite, a empresa conta com a mídia espontânea e a fidelidade dos clientes. ?Depois que conhecem nosso trabalho, eles preferem sair e beber sossegados?, comenta. O crescimento da procura é visível no número de motoristas, que subiu de oito para 22. ?Até agora, porque a cada semana mais dois são contratados?, conclui Luiz.
Anthony Talbot (abaixo), rodeado por algumas das 950 funcionários do Beleza Natural, e Célio Antunes, da Impacta : idéias pioneiras para bons negócios
Observar o mundo à sua volta em busca de oportunidades costuma estar no DNA dos grandes empreendedores, assim como a centelha que os faz embarcar, sem hesitar, em um novo plano. É um movimento que exige, ao mesmo tempo, uma visão da conjuntura em que se está investindo e uma boa dose de coragem. Mas não é só. ?Além de uma boa idéia, é preciso um bom planejamento antes de começar o negócio?, afirma Antonio Carlos de Matos, gerente da consultoria empresarial do Sebrae-SP. Segundo ele, a falta de planejamento operacional antes de iniciar um projeto empresarial, aliada à deficiência no processo de gestão dos negócios e ao perfil do empresário, forma a lista dos erros mais comuns de pequenas e médias empresas. ?O ideal é saber onde exatamente se quer chegar, de que maneira e quanto se pode esperar de retorno e considerar o risco de tudo não dar certo?, afirma ele. A diferença entre conhecer ou não os próximos passos pode ser crucial. Um levantamento recente do Sebrae- SP mostra que 27% das empresas abertas em São Paulo ? em média há 15 mil por mês ? não passa do primeiro ano de funcionamento. Segundo Matos, a maior parte sucumbe por não ter um plano de negócios eficiente e claro. Há exceções, é claro. ?Provavelmente os que sobrevivem sem o devido planejamento mantiveram o mesmo entusiasmo empresarial desde o início até o amadurecimento da empresa?, conclui.
Foi esse mesmo entusiasmo de enxergar uma oportunidade boa diante de um desafio econômico que levou Fábio Bueno Neto a largar um emprego seguro para correr atrás de uma idéia. Em 2000, ele levou à empresa em que trabalhava a proposta de vender livros bons e baratos em máquinas de auto-atendimento. ?Pensei nisso quando vi uma que vendia salgadinhos, balas e refrigerantes e me perguntei por que não livros??, lembra. Como o projeto não foi levado adiante, Bueno decidiu tocá-lo sozinho. Levou dois anos para tornar o sonho realidade. Procurou editoras para produzir os livros, fez parcerias com o Metrô e adaptou as máquinas para vender os produtos. ?Investi R$ 600 mil no negócio. Imagina quanto estava ansioso para que tudo desse certo?, diz ele. Às 6 h da manhã do dia 29 de março de 2003, a operação da empresa 24×7 começou na estação São Joaquim. O empresário ficou o dia todo ali, ao lado da engenhoca repleta de livros oferecidos por três reais. Nenhuma venda, apesar da fila crescente que se formava para ele explicar o que era aquilo. Depois de três dias, apenas dez livros foram vendidos. Bueno não desistiu e a máquina de livros emplacou. Em nove meses, veio o retorno do investimento. ?Vendo até 15 mil livros por mês, na média de R$ 5 cada, e tenho parceria com mais de 50 editoras?, afirma. Hoje, ele tem 20 máquinas espalhadas pelas principais estações de metrô das cidades de São Paulo e Rio. ?O próximo passo é montar franquias. Quero oferecer livros baratos em lugares acessíveis em um país onde a leitura é para poucos?, conclui.
Computador também era coisa para poucos no Brasil, quando o estudante de engenharia eletrônica Célio Antunes de Souza registrou a marca Impacta. ?Mandei até fazer um letreiro com o nome Impacta, sem saber onde o colocaria um dia?, lembra ele. Ele descobriu o objeto de sua empresa observando os computadores de onde trabalhava. Era fim dos anos 80 e havia poucos profissionais da área de informática, que começava a receber grandes investimentos. Souza reuniu os livros que tinha sobre o assunto, as sucatas de hardwares em seu antigo empregador, contratou uma telefonista e alugou uma pequena sala com telefone e fax. Seu projeto: oferecer treinamento para profissionais de informática. ?Mandei fazer 120 mil folhetos dos treinamentos, para pagar dali a 120 dias, e distribuí sozinho na Fenasoft, único evento de tecnologia daquele tempo.? O resultado surpreendeu. Na primeira semana, mais de cem telefonemas foram recebidos. ?Com o dinheiro das matrículas comprei micros, contratei professores e mandei fazer as apostilas?, afirma Souza. Ele ri quando lembra como começou a Impacta Tecnologia, que hoje treina mais de 72 mil alunos ao ano em 300 cursos diferentes, ocupa oito andares na Avenida Paulista, coração da capital de São Paulo, e conta com uma faculdade, um colégio profissionalizante e faturamento anual de de R$ 40 milhões ao ano.
Como Souza, a ex-empregada doméstica Luiza Helena Assis, a Zica, não imaginou que iria oferecer em seu negócio próprio algo esperado por muita gente. Ela tentava, há 11 anos, descobrir uma maneira de melhorar o visual de seus cabelos crespos, quando se deparou com uma fórmula que conseguia suavizar os cachos. Convenceu o marido, a irmã e o cunhado a largarem o emprego e abrirem um salão com ela. O primeiro salão ficava nos fundos de uma casa, em Usina, um bairro do subúrbio do Rio. ?Agora temos oito salões, 950 funcionários e 600 clientes por dia em cada um dos salões?, conta Anthony Talbot, executivo contratatdo para dirigir o Grupo Beleza no lugar dos quatro sócios que viraram conselheiros. A empresa hoje fatura R$ 65 milhões e possui uma fábrica, um espaço de pesquisa e desenvolvimento e deve abrir mais nove salões até 2010. Tudo fruto de uma oportunidade, coisa da cabeça empreendedora de dona Zica.