27/06/2021 - 7:51
Depois de um ano atacando impiedosamente seus rivais ocidentais, os “guerreiros lobos” da nova diplomacia chinesa estão experimentando seu próprio remédio. Após a recomendação para diminuir o tom, eles agora são o alvo da fúria nacionalista de suas próprias fileiras.
Nos últimos anos, a China trouxe à tona uma nova geração de diplomatas que receberam o nome de “guerreiros lobos” por seu tom beligerante, até ofensivo, contra aqueles que os criticaram por violar direitos humanos ou ocultar informações sobre a pandemia de covid-19.
Em uma mudança de direção, o presidente Xi Jinping pediu no mês passado a altos funcionários políticos que modificassem essa estratégia e cultivassem uma imagem internacional “confiável, admirável e respeitável” para aumentar o ‘soft power’ da China.
A liderança do Partido Comunista percebeu que “a recente estratégia diplomática não foi bem recebida no exterior, inclusive entre aliados em potencial”, mas essa mudança requer um equilíbrio delicado, disse Florian Schneider, diretor do Leiden Asia Center na Holanda.
“Os líderes chineses se lançaram em uma armadilha. Por um lado, prometeram ao mundo uma China temperada e benevolente. Por outro, prometeram ao público interno uma China forte e decisiva”, acrescentou.
– “Traidores” –
Em junho, líderes de opinião “patrióticos” influentes no Weibo atacaram intelectuais chineses que participaram de um programa de intercâmbio acadêmico administrado pelo governo japonês, acusando-os de serem “traidores” por aceitarem dinheiro japonês e escreverem positivamente sobre o país.
Pequim defendeu o programa como uma forma de “construir confiança e uma amizade mais profunda” com Tóquio.
A campanha coincidiu com uma visita de senadores americanos à ilha de Taiwan para doar vacinas contra o coronavírus, a qual o ministério do Exterior emitiu apenas uma crítica leve.
“Por que não os abatemos? Eles violaram nosso espaço aéreo!”, reagiu um usuário do Weibo. “Tão fracos e incompetentes”, lamentou outro.
Pequim encorajou o nacionalismo doméstico quando era conveniente, mas agora mesmo alguns de seus defensores mais ferrenhos admitem que uma retórica mais calma se encaixaria melhor no papel de grande potência que o país reivindica.
A mudança de tom, no entanto, não se reflete nas ações, como mostra a aprovação de uma lei para punir as empresas que obedecem a sanções estrangeiras, suas incursões na zona de defesa aérea de Taiwan ou o golpe policial contra o jornal oposicionista Hong Kong Apple Daily, forçado a fechar.
Para Adam Ni, analista do Centro de Política Chinesa em Canberra (Austrália), os objetivos do regime comunista são contraditórios.
“Quer uma imagem internacional melhor, mas fatores políticos internos, assim como a necessidade de reivindicar seus interesses, fazem com que continue a implantar ações na direção oposta”.