Criada há mais de 160 anos, a francesa Louis Vuitton é, atualmente, a marca mais valiosa do mundo no segmento de luxo. Segundo dados do relatório BrandZ 2016, da britânica Millward Brown, ela possui um valor estimado em US$ 28,5 bilhões. Manter-se no topo não é uma missão fácil, especialmente para uma grife tão copiada em todo o mundo. Mas, a julgar pelas mais recentes iniciativas adotadas pela companhia, ela está sabendo se reinventar. Prova disso é a aposta da Louis Vuitton no segmento masculino. Desde 2010, a grife, originalmente voltada ao universo feminino, tem seduzido os homens com suas coleções. E, ao que parece, tem dado resultado. Atualmente, cerca de 45% do faturamento da empresa na América Latina já vêm dos homens. “Eles estão adotando novos padrões de comportamento e estão cada vez mais sensíveis à estética. E a moda tem um papel fundamental neste processo”, diz Alexandre Frota, diretor da marca para a América Latina, sem revelar cifras. Esse fenômeno também se deve ao fato de que, nos últimos cinco anos, houve um aumento nas vendas de vestuário masculino no mundo todo. Dados da Euromonitor mostram que, entre 2010 e 2015, esse número atingiu US$ 408,4 bilhões, representando um crescimento de 23,3%. No Brasil, o público masculino comprou US$ 7,6 bilhões, cerca de 28,3% a mais durante o mesmo período. Atenta a essa fatia, a Louis Vuitton passou a olhar esses consumidores com mais atenção.

Para uma grife que teve a primeira coleção dedicada a este público lançada apenas há 6 anos, as opções que estavam disponíveis em seu portfólio para os homens se restringiam a acessórios como pastas e bolsas no estilo satchel, criações feitas com couro taiga e o famoso padrão Damier (tabuleiro de dama) da marca na versão grafite. E, até então, a única linha de produtos para esse público era a America’s Cup, uma parceria de 35 anos com a regata que leva o mesmo nome, um dos maiores eventos náuticos do mundo. A cada temporada do torneio, uma coleção cápsula é desenvolvida pela grife. Nos últimos anos, assim como o calendário feminino, a Louis Vuitton passou a lançar novidades para as estações primavera-verão e outono-inverno. Um dos maiores responsáveis por essa transformação tem sido o jovem estilista britânico Kim Jones, de 36 anos, e que, há cinco anos, assina as criações masculinas da grife. Com seu impulso criativo, Jones deu uma repaginada no tradicional estilo, mostrando que é possível fazer uma fusão entre o formal e o casual, mantendo um equilíbrio de estilos mais esportivo sem abrir mão da elegância.

Existe também uma mudança no perfil do homem como consumidor. “O homem está há quase uma década mudando a maneira de encarar seu papel social”, diz Silvio Passarelli, diretor do MBA de gestão de luxo da FAAP. Mas isso vem mudando. Hoje já é mais fácil despertar seu interesse pela moda.

Quando convencidos do que precisam, eles ficam mais exigentes e não hesitam em investir em peças de qualidade e até mesmo transgressoras. “Essa mudança começa, geralmente, a partir de grupos mais jovens, que não têm receio de experimentar”, diz Passarelli. O especialista também aconselha que as marcas não devem mirar somente em um gênero de clientes. “Levando em conta que a população está dividida quase por igual, se a indústria da moda estiver focada em apenas uma ala, irá perder metade do mercado”.

Mas será que a indústria da moda já entendeu suas necessidades? Segundo Frota, o setor está bastante maduro, embora seja um processo contínuo. “As aspirações de nosso público estão evoluindo com uma velocidade jamais vista.” A fim de conquistar esse público para fortalecer ainda mais o peso de seu nome, a marca decidiu entrar em sintonia ao inaugurar, em junho de 2015, nos EUA, uma loja voltada exclusivamente para os homens. No Brasil, no entanto, eles são mais conservadores em comparação às mulheres e aos europeus, por exemplo. “Aqui os homens ainda precisam ser guiados, pois o terreno ainda é muito novo”, diz Frota. E as marcas de luxo têm um papel fundamental na exploração desta nova fronteira. “Os homens passaram a falar sobre modelagem até caimento”, diz Passarelli. “Creio que daqui a 10 anos teremos uma revolução ainda maior na maneira de consumir moda.”