21/08/2008 - 7:00
EM ABRIL DESTE ANO, ERmenegildo Zegna, o CEO da poderosa marca italiana que faturou 843,4 milhões de euros em 2007, desembarcou no Brasil para inaugurar uma loja nos Jardins, bairro nobre de São Paulo, e anunciar que, a partir daquele momento, trabalharia sem intermediários, gerenciando a própria grife no País. Em maio, o badalado estilista americano Tom Ford, aterrissou em São Paulo, para celebrar a abertura de sua primeira loja na América do Sul, na Villa Daslu. Até o fim do ano, o estilista Marc Jacobs, o homem que revolucionou a Louis Vuitton e criou uma marca com o seu nome, visitará o Brasil para inaugurar sua loja própria. Em setembro, Laudomia Pucci, filha do estilista Emilio Pucci, vem ao Brasil para inaugurar a loja da Pucci dentro da Daslu. No mesmo mês, Marco Bizarri, o CEO da grife inglesa Stella McCartney, desembarca em terras brasileiras para inaugurar o primeiro ponto da grife dentro da loja paulista NK Store e participar da Atualuxo, conferência sobre negócios voltados para o público AAA. “Estamos empolgados com o fato de chegar ao Brasil com um espaço nosso já no próximo mês”, antecipou Marco Bizarri à DINHEIRO. “Também estamos negociando a abertura de uma loja própria.” Essas grifes e outras dezenas delas estão voltando suas atenções para o Brasil cada vez mais. Trata-se de um desembarque silencioso, mas constante. “Sinto que precisávamos ter um relacionamento maior com o cliente brasileiro, por isso resolvemos administrar nossa marca pessoalmente”, disse Ermenegildo Zegna à DINHEIRO, em sua recente visita ao País. “Hoje, atuamos em 80 países e estamos crescendo 20% nos países dos BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China). O Brasil é um país que está crescendo muito.” Tom Ford, em entrevista à Istoé Platinum, decretou: “O Brasil e a América do Sul surgem como mercados importantes para o luxo e continuaremos a acompanhar esse desenvolvimento”.
As visões de Zegna e Ford revelam dois pontos esclarecedores sobre o mercado nacional e internacional. O primeiro é que a economia brasileira está crescendo e as marcas estão de olho nos indicadores. O segundo é que, pressionadas por lucros e diante de um cenário de desaceleração no consumo na Europa e nos Estados Unidos, as empresas estão buscando novos mercados, como Ásia, Leste da Europa e América Latina. “O Brasil ainda está longe de ser um mercado como a Ásia”, diz Carlos Ferreirinha, diretor da MCF Consultoria & Conhecimento. “Mas está amadurecendo aos poucos.” Não é à toa que a Devanlay, dona de 35% da francesa Lacoste, decidiu não renovar o acordo de representação com a brasileira Paramount Têxtil para assumir a operação das mais de 50 franquias no Brasil. “A Lacoste posiciona o Brasil como mercado-chave para dar continuidade ao seu crescimento global”, diz Ricardo Palmari, diretorgeral da Devanlay Ventures do Brasil. Representantes de outras marcas também têm a mesma visão sobre o País. É o caso de Kika Rivetti e Tânia Wagner, que inauguraram uma loja da francesa Longchamp, no shopping Cidade Jardim, em maio deste ano. “A vendas estão dobrando a cada mês”, diz Kika. “Vamos abrir filiais em Belo Horizonte, Curitiba, Recife, Brasília, Porto Alegre e Rio de Janeiro”, adianta Tânia. A americana Gant, que inaugurou sua primeira loja no shopping Crystal, de Curitiba, e depois abriu outras no shopping Cidade Jardim e na rua Bela Cintra, ambas em São Paulo, tem os mesmos planos. “Nos próximos dois anos, vamos inaugurar dez lojas no Rio de Janeiro, em Brasília, Belo Horizonte e São Paulo”, revela Andréa Gusmão, diretora de marketing da marca. Ao todo, a grife deverá investir R$ 40 milhões no País. “As lojas no Brasil são os primeiros pontos-de-venda da Gant na América Latina”, conta.
O País está se tornando base para as operações das marcas que pretendem invadir os outros mercados do continente sul-americano. A italiana Binda, que produz e distribui jóias e relógios, acaba de fincar bandeira em São Paulo e deve partir para o ataque em breve. “Investiremos R$ 10 milhões nos próximos dois anos”, diz Raffaele Quinto, diretor executivo da Binda no Brasil. Parte do dinheiro será destinada à abertura de duas lojas próprias da Breil Milano, uma de suas principais marcas. Há quem discorde que exista um movimento de desembarque de marcas no Brasil. “Em 2005, com a abertura da Daslu, tivemos muito mais operações desembarcando no País”, diz Eliana Tranchesi à DINHEIRO. De fato, com a nova Daslu, dezenas de marcas vieram para o País. Mas, agora, elas estão começando a olhar o Brasil como um todo e não apenas para a Daslu.
A própria Gucci, trazida ao Brasil por Eliana e que tem uma loja dentro da badalada butique paulistana, vai abrir um pontode- venda no shopping Iguatemi, em novembro deste ano. Com 470 metros quadrados, ela oferecerá toda a linha de produtos da marca tanto masculinos como femininos. “O Brasil é um país em rápido crescimento e por isso faz parte dos planos de expansão de negócios da Gucci. Nós também estávamos interessados em atingir um público que talvez não fosse alcançado pela Daslu”, disse a Gucci por meio de sua assessoria de imprensa. Outras marcas como a francesa Hermès e a Marc Jacobs, ícones do mercado de luxo, também buscarão outros pontos. A Hermès abrirá uma loja, no início de 2009, no shopping Cidade Jardim, e a Marc Jacobs terá uma loja ao lado da NK Store, da empresária Natalie Klein, que também comandará a Jacobs no Brasil. “A loja em São Paulo será a primeira da América Latina”, diz Natalie. “Em dois anos, abriremos outra loja em algum shopping da capital paulista.”
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Marca francesa abriu sua primeira loja no País em maio deste ano |
A própria Daslu, que iniciou o processo de importação e trouxe dezenas de renomadas grifes ao País, está apostando na chegada de novas marcas. Além de ter trazido Balenciaga e Tom Ford no primeiro semestre deste ano, ela abrirá uma loja da Pucci, em setembro, e outra da Chanel, no shopping Cidade Jardim, em novembro deste ano. A cereja do bolo, entretanto, é a chegada da francesa Goyard, a exclusivíssima grife de malas usadas pelo estilista Valentino e pela cantora Madonna. “Ela será aberta em novembro deste ano”, diz Eliana Tranchesi. “É a primeira loja da Goyard na América Latina.” Os produtos da marca são tão artesanais que um funcionário da Daslu viajará à França para aprender como pintar os monogramas que serão gravados nas malas cujos exemplares deverão custar R$ 6 mil. A Daslu também deverá lançar outras 30 novas marcas no País com a abertura do espaço chamado D Market, que será inaugurado em novembro e no qual estarão reunidas 60 grifes para jovens como See by Chloé, Fred Perry, Jasmine de Milo, Juicy Coulture, Valentino Red, entre outras. Em setembro, também trará novas marcas de sapatos como as desejadas Christian Louboutin, Jimmy Choo, Manolo Blahnik, Sergio Rossi e outras 12 grifes que dividirão espaço no ambiente batizado de Shoespace. Ali, cerca de 12,5 mil pares de sapatos femininos farão as mulheres perderem o chão diante de tantas opões. Se isso não pode ser chamado de uma nova invasão das marcas, pode, pelo menos, ser um grande passo rumo ao amadurecimento do mercado.
Em novembro, a exclusiva marca francesa Goyard abrirá uma loja na Villa Daslu, em São Paulo
O DESEMBARQUE DAS MARCAS