Por Angelo Verotti

A Nissan vive uma fase de crescimento no mercado brasileiro. Entre automóveis e comerciais leves, a montadora japonesa comercializou 59,1 mil unidades no acumulado deste ano até outubro — alta de quase 25% na comparação anual. Um resultado importante e que coincide com a celebração dos 23 anos de presença no País. Para manter os negócios em evolução, a marca anunciou na quarta-feira (8) investimento de R$ 2,8 bilhões na fábrica de Resende (RS), com a meta de atender não só o Brasil, mas todos os países da América Latina, além de outras regiões pelo mundo.

A estratégia faz parte do Ambition 2030, projeto que marca a virada tecnológica da empresa para a eletrificação. “Levando em consideração as necessidades e realidades do Brasil e da América do Sul, temos uma estratégia local que garantirá a nossa transformação nos próximos anos”, afirmou Makoto Uchida, presidente e CEO da Nissan Motor Co., que esteve pela primeira vez no País. “Precisamos demonstrar o nosso compromisso com novas ações para construir uma base sólida e seguirmos evoluindo e, assim, contribuir para atingir os objetivos globais.”

O atual plano de negócios do grupo no País, que engloba os anos de 2023 a 2025, foi incrementado em R$ 1,5 bilhão, tendo em vista que o aporte previsto no período era de R$ 1,3 bilhão. O investimento contemplará instalação de equipamentos, ampliações na linha de produção e a evolução de processos no complexo fabril do Rio de Janeiro.

Mais do que isso, o montante vai possibilitar a fabricação de dois novos SUVs, sendo que um deles dará continuidade à bem-sucedida linhagem do Nissan Kicks, que é o carro-chefe da marca no Brasil. Apenas dele, foram vendidas 41,7 mil unidades até outubro, aumento de 21% em relação a igual período do ano passado (32,7 mil). O aporte na planta brasileira contemplará a fábrica de motores, com um propulsor turbinado que equipará os veículos.

(Divulgação)

A aposta da montadora no Kicks é justificada pelos números. Inicialmente pensado para atender o mercado nacional, o carro se tornou um produto global, segundo Uchida, “vendido para mais de 70 países”, disse.

“O Kicks é um grande sucesso desde o lançamento e com as exportações reafirma a missão da fábrica de Resende como polo exportador.”
Makoto Uchida, presidente e CEO da Nissan Motor Co.

Inicialmente, a nova geração de SUVs será distribuída nos 20 países da América Latina.

Makoto Uchida, presidente global da Nissan

“Precisamos demonstrar o nosso compromisso com novas ações para construir uma base sólida e seguirmos evoluindo.”
Makoto Uchida, presidente e CEO da Nissan Motor Co.

MAIOR PARTICIPAÇÃO

Com o investimento, os planos da empresa são mais do que dobrar a participação no mercado interno brasileiro. Em 2022, as vendas locais deixaram a fabricante na nona posição do ranking da Fenabrave, com 2,7% de share. A meta é alcançar 7% até 2026.

“O Brasil e a América Latina são mercados estratégicos para o grupo. Dos dois SUVs que serão produzidos, um deles será o novo modelo do Kicks, que é um grande sucesso no País”, disse o presidente. O SUV é o único modelo fabricado na planta brasileira. Os sedãs Versa e Sentra, assim como a picape Frontier, são importados.

O novo investimento no Brasil, segundo a Nissan, reforça a consistência da estratégia no mercado nacional e em toda a América do Sul. Para sua construção, o complexo industrial de Resende recebeu, à época, R$ 2,6 bilhões, o que até hoje é um dos maiores montantes aplicados em uma fábrica de automóveis no País.

Assim, os aportes realizados pela montadora por aqui, incluindo os que agora garantem a produção dos dois novos SUVs e a montagem do motor turbo, somam um total de R$ 6,2 bilhões em dez anos.

Inaugurada em abril de 2014, a fábrica da Nissan em Resende atua em dois turnos desde o ano passado, o que culminou à epoca na contratação de quase 600 colaboradores. Não há plano para a abertura de vagas, mas um terceiro turno pode ser implementado em 2027, caso as metas da empresa sejam alcançadas até lá.

Dois dias antes do anúncio do investimento na planta brasileira, o executivo japonês se encontrou, em Brasília, com o presidente Lula e com o vice-presidente, Geraldo Alckmin.

Para a América Latina, a postura adotada pela Nissan é de cautela. A região enfrenta instabilidade econômica e baixo crescimento, sobretudo na Argentina, um dos principais parceiros comerciais do Brasil.