O empresário paulistano Lucio Di Domenico, 45 anos, construiu uma carreira no mercado financeiro e em grandes empresas da área de consumo. Foi dirigente do Banco Nacional, ocupou o posto de diretor-geral da Gradiente e, até 2008, era o responsável pelas estratégias de marketing do Banco Real. Foi nesse privilegiado posto de observação que ele definiu seu futuro. Não como executivo, mas como empreendedor. Di Domenico aproveitou os conhecimentos na área de sustentabilidade, aprendidos em sua temporada no Real, para mergulhar de cabeça no segmento de reciclagem.

A aposta foi certeira: à época emergente, o setor movimenta perto de R$ 12 bilhões por ano no País,  de acordo com o Compromisso Empresarial para Reciclagem (Cempre). Em vez de disputar espaço nos nichos tradicionais, como papelão, vidro e metal, Di Domenico se especializou no chamado lixo eletrônico. Fez isso desembolsando R$ 500 mil para criar a Descarte Certo, a despeito de um certo ceticismo dos amigos. “Até minha família duvidou da viabilidade do projeto”, afirma  Di Domenico.

 

26.jpg

Chip reciclado: empresa fundada por Di Domenico (foto), em 2009, tem como clientes Samsung, Cybelar, Santander e Carrefour

 

Em 2009,  Ernesto Watanabe, 52 anos, um ex-colega de diretoria na Gradiente, enxergou o potencial do negócio e se associou à Descarte Certo, cujo objetivo era fazer a coleta e a manufatura reversa de aparelhos eletrônicos. “Fazemos exatamente o caminho inverso da cadeia de produção”, afirma Di Domenico. Na prática, o que a Descarte Certo faz é retirar o produto de circulação, desmontá-lo e destinar as peças reaproveitáveis para reciclagem, depositando o restante em aterros, dando um fim ecologicamente correto aos equipamentos. 

 

Trata-se de um mercado tão promissor que já atraiu a atenção de empresas globais como a belga Umicore. Na década de 1950, ela se instalou no Brasil para captar e exportar componentes automotivos e depois migrou para ramo do chamado e-lixo. A aposta da dupla Di Domenico-Watanabe tem se mostrado acertada até agora. Tanto que em maio eles venderam 49% do controle da Descarte Certo para o grupo Ambipar, de São Paulo, dono de outras seis empresas que atuam no ramo ambiental, com faturamento de R$ 400 milhões por ano. Com isso, eles garantem as ferramentas necessárias para que a companhia possa crescer. 

 

Algo difícil para quem tem pequeno porte, com receita de R$ 3 milhões. “Além de poder usar toda a estrutura do grupo, teremos mais recursos para crescer por meio da instalação de bases em todo o Brasil”, diz  Di Domenico. Sob o guarda-chuva do Ambipar, o empreendedor espera multiplicar por 12 o faturamento atual da Descarte Certo, chegando aos  R$ 40 milhões ao final de 2016.

 

27.jpg

 

 

O aumento da consciência ecológica e a Lei de Resíduos Sólidos também deverão ajudar a viabilizar os planos do fundador da Descarte Certo. “As companhias que quiserem estar na liderança de seus segmentos terão de saber explorar os serviços sustentáveis de maneira a agregar valor e receita”, diz Marina Grossi, presidente executiva do Conselho Empresarial Brasileiro de Desenvolvimento Sustentável (CEBDS). É exatamente isso que Di Domenico oferece aos clientes. 

 

Hoje, seu portfólio inclui clientes como a divisão de cartuchos de impressora da sul-coreana Samsung e o banco Santander, que disponibiliza o serviço para os correntistas Van Gogh. Para ganhar musculatura, Di Domenico assestou suas baterias no varejo. Ele mantém parceria com as redes varejistas Cybelar e Carrefour, onde os serviços da Descarte Certo são vendidos diretamente para o consumidor final por preços entre R$ 9,90 e R$ 130 dependendo do produto recolhido – a empresa retira o equipamento no domicílio dos clientes dessas redes . 

 

Segundo Éfren Nunes, gerente da Cybelar, por mês são vendidos cinco mil cupons. “O cliente compra um tíquete e pode agendar diretamente com a Descarte Certo a retirada do produto que está comprando, num prazo entre dois e dez anos,  ou do que será substituído em sua casa”, afirma Nunes.