QUEM VAI À SALA DE REUNIÕES DA Amaro Participações, empresa com investimentos nos setores aéreo, agronegócio e luxo, encontra uma folha de papel sulfite branco colada na parede, quase imperceptível a olhos desatentos. Nela, as assinaturas de próprio punho dos funcionários se misturam com os três lemas da companhia digitados na folha: ?É importante quebrar paradigmas?, ?Always be a fair play? (Sempre jogue limpo) e ?É preciso se divertir trabalhando?. Esta última frase tem sido levada como um dogma pelo jovem Marcos Amaro, de 23 anos, dono da empresa. Ele, que atua no mercado de luxo com a World of Luxury, importadora de óculos TAG Heuer e Alain Mikli, está rindo à toa. Nessa semana, Amaro deve assinar a compra de 65% da Ótica Carol, rede fundada em 1997, que possui 220 franquias espalhadas pelo Estado de São Paulo e é dona de um faturamento anual de R$ 120 milhões. Ele não revela o valor da transação, mas, o mercado estima que Amaro tenha desembolsado cerca de R$ 60 milhões. ?O setor de óticas é pouco desenvolvido no Brasil. Com o crescimento da economia, víamos a necessidade de também entrar no varejo?, disse Amaro, com exclusividade à DINHEIRO. ?Vamos transformar a Carol em uma marca forte e pretendemos ter 600 lojas dentro de cinco anos.? É um plano extremamente ambicioso, pois prevê a abertura de uma loja a, praticamente, cada cinco dias. ?Ambicioso, mas possível?, rebate Amaro, que é filho do visionário Rolim Amaro, fundador da TAM.

 

O plano é sofisticar as lojas Carol e dar um atendimento mais personalizado para os clientes, predominantemente das classes B e C. ?Esse público também gosta do luxo?, explica. Mas os óculos que ele importa, o TAG Heuer, que custa em média R$ 2 mil, e o da grife Alain Mikli, que sai por R$ 1,8 mil, não serão encontrados na Carol. A rede, com 80% das lojas no interior paulista e o restante na capital, dispõe de produtos que custam cerca de R$ 250. A operação da World of Luxury será separada da da Carol. ?Vamos unir apenas as áreas financeira, jurídica e de sistema?, diz Amaro, que também pretende trazer outras marcas de luxo para o Brasil tanto no setor ótico como na área de moda. Por isso, resolveu deixar a gestão da Carol nas mãos do experiente Daniel Mandelli Martin, ex-presidente da TAM. ?Todas as óticas têm produtos, o que falta são serviços?, diz Mandelli. ?Estamos estudando novidades que traremos para o setor?, avisa o executivo.

Outro responsável por manter o relacionamento com os franqueados é Odilon Santana, fundador da Carol. ?A proposta do Marcos é interessante porque prevê a expansão da rede para outros Estados e para outros países da América do Sul?, diz Santana. Para pôr em prática o plano de expansão, Amaro separou R$ 30 milhões que serão investidos na abertura de novas lojas nos principais shoppings de São Paulo, em comunicação, no laboratório onde são produzidas as lentes de receituário e em um amplo centro de distribuição. A idéia acalentada por ele é expandir a marca Carol para depois abrir capital. Para ser um franqueado da Carol, é necessário investir, em média, R$ 250 mil e pagar uma taxa de 8% de royalties sobre o faturamento bruto. ?O investimento se paga em três anos?, diz Amaro. O crescimento da rede é baseado em números promissores do mercado ótico. Dados da Abióptica, associação que representa o setor, apontam que a indústria faturou R$ 3,4 bilhões em 2007, e no próximo ano deverá crescer 20%. Acontece, entretanto, que esse mercado é bem pulverizado. ?Juntas, as cinco maiores redes do Brasil não possuem 10% desse mercado?, diz Amaro.

Ele também quer pegar carona na mudança da imagem dos óculos perante os consumidores. Se antes eles eram vistos como necessidade, hoje são observados como acessórios de moda. ?Esse movimento acontece mais na Europa e nos Estados Unidos?, diz Marcelo Reverzani, diretor da Marcolin no Brasil, empresa italiana que fabrica óculos assinados por grifes como Tom Ford, Roberto Cavalli, Montblanc, entre outras. ?Ainda é preciso crescer economicamente para os brasileiros terem esse costume?, explica. Isso é comprovado estatisticamente. Estudos apontam que os homens trocam de óculos de grau a cada dois anos e as mulheres todo ano. No mercado de luxo, esse índice é maior: os homens trocam todo ano e as mulheres duas vezes por ano. O objetivo é levar essa cultura dos consumidores do universo do luxo para as lojas da Carol. Sem contar, é claro, o envelhecimento da população. De acordo com o IBGE, 30% da população brasileira é jovem e, no futuro, precisará de óculos. É de olho nessa turma que Amaro continuará investindo.