Para enfrentar o sol do verão, os óculos escuros são um dos principais itens da lista de compras dos brasileiros. O Ray-Ban que veste o Cristo Redentor na ilustração ao lado é o modelo mais vendido no País e no mundo, mesmo custando, em média, R$ 600. Se mesmo com o preço salgado o modelo é campeão de vendas, a situação só tende a melhorar. Na quinta feira 1º, a fabricante italiana de óculos Luxottica anunciou a compra de 100% da brasileira Tecnol por € 110 milhões, o equivalente a R$ 268 milhões. Depois de cinco meses de negociações, a italiana, dona da Ray-Ban e de outras 36 marcas, assumiu o controle da líder do setor no Brasil, que faturou R$ 220 milhões no ano passado. Pelo acordo, a Luxottica assume 80% da Tecnol em 2011 e os outros 20% até 2015, na razão de 5% ao ano. Sérgio Carnielli, fundador da Tecnol, permanecerá como uma espécie de consultor durante a transição. 

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Mercado redentor: 37 milhões de brasileiros usam óculos, o que faz do País
o quinto maior mercado para a Luxottica

Com a fabricação dos óculos, o preço de um Ray-Ban deve sair até 30% mais barato para o consumidor. A Luxottica, até então, contava apenas com um escritório administrativo em São Paulo – instalado em junho deste ano –, o serviço de atendimento ao cliente em Alphaville, na Grande São Paulo, e um centro de distribuição no Rio de Janeiro. Ao comprar a Tecnol, a italiana leva também a fábrica e o centro de distribuição em Campinas, no interior paulista, um laboratório e uma rede de cerca de 90 lojas de ótica no Estado de São Paulo, com a marca Óticas Íris. “A rede de distribuição da Tecnol é complementar à nossa”, disse com exclusividade à DINHEIRO o italiano Luca Lisandroni, 33 anos, presidente da Luxottica do Brasil, numa mistura de português, espanhol, italiano e inglês. “Estamos concentrados em shoppings, enquanto a Tecnol tem mais presença em lojas de rua.” Com a operação, a empresa italiana passa de oito pontos de venda próprios para 15 mil, no País. 

No Brasil desde 1992 apenas como importadora, a Luxottica decidiu investir para aproveitar o potencial crescimento da economia.“Queremos tirar a pecha de importador, que pode soar negativa, para nos tornarmos uma empresa doméstica”, diz Lisandroni.  “A Tecnol tem conhecimento do mercado local, por isso optamos pela negociação.” O Brasil já é hoje o quinto maior mercado global da empresa. Outra razão da aquisição foi transformar o País em sua principal base na América Latina. O interesse da Luxottica no mercado brasileiro se explica também pela força do setor ótico nacional, tanto no segmento dos modelos escuros quanto nos de grau. As vendas passaram de R$ 8,8 bilhões, em 2006, para R$ 15,9 bilhões, em 2010. 

 

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Lisandroni: desde junho no cargo, o italiano comandou a primeira aquisição do grupo no País

 

Para este ano, a expectativa é de uma evolução de 25% do setor, ainda pulverizado, que conta com 35 fabricantes nacionais e 25 internacionais. “Apesar dos números, é preciso mais profissionalização”, diz Bento Alcoforado, presidente da Associação Brasileira da Indústria Óptica. “A chegada da Luxottica vai fazer com que as empresas invistam na melhoria de sua infraestrutura, dando início a um processo de consolidação.” O potencial de crescimento do setor fica evidente quando se percebe que o número de brasileiros que precisam de óculos deve saltar de 37 milhões para 60 milhões, segundo a Organização Mundial da Saúde. Uma demanda potencial impossível de ser ignorada.

 

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