O empresário Marcos Koenigkan tem uma história de sucesso e uma velha paixão mal resolvida. Em Brasília, ele é dono de uma das maiores imobiliárias da capital, que leva seu nome, líder no segmento de luxo. Nesse ponto ele é bem resolvido. O que estava pegando é sua paixão pela arte. Louco por leilões, Koenigkan é um colecionador compulsivo de quadros e esculturas. Comprou sua primeira obra aos 17 anos, um óleo sobre tela do brasiliense Omar Franco. Hoje, aos 40 anos, mais de 200 obras de renome já passaram por suas mãos, como Di Cavalcanti e Guignard. Ainda assim, Koenigkan é apenas um iniciante diante de colecionadores do porte de Gilberto Chateaubriand e Sérgio Fadel. O empresário, porém, deu um jeito de se transformar, ainda que de forma transversa, em uma das principais fontes de informação do País no ramo das artes. Na sexta-feira 10, véspera do Carnaval, ele inaugurou o mais novo portal brasileiro do segmento, o Catálogo das Artes (www.catalogodasartes.com.br).

Trata-se de um site no qual 98% dos artistas cadastrados são brasileiros. “É minha contribuição para democratizar a arte”, diz o empresário.

O portal já nasce grande – e relevante. Está sendo inaugurado com exatamente 22.703 artistas catalogados, contra 2.850 artistas do site do Itaú Cultural. A maior parte dos sites em operação lista apenas artistas já consagrados. Um dos diferenciais do Catálogo das Artes é a política de incluir todo mundo. Estão lá as biografias de todos os brasileiros, desde os tempos da colônia até dezembro último. Os mais antigos são os holandeses Albert van Der Eckhout e Franz Post, que vieram com Maurício de Nassau e pintaram Pernambuco entre 1637 e 1644. Também estão lá emergentes como Lúcia Helena, de Pernambuco, sobrinha de Reynaldo Fonseca, ou Luís Costa, cada vez mais presente nas paredes de políticos e autoridades de Brasília, mas que jamais expôs em São Paulo.

Antes da inauguração, o site fotografou e cadastrou 55,8 mil objetos, entre quadros, esculturas e antigüidades. O artista com maior presença é Di Cavalcanti, com 385 catalogações. São obras que nos últimos quatro anos, período em que o portal vem sendo alimentado com informações de uma equipe de oito especialistas, foram arrematadas em leilões ou postas à venda por galerias do País. Cândido Portinari, que aparece com 182 quadros, é o artista brasileiro mais caro da atualidade. Tem cinco obras dentre as dez mais caras comercializadas nos últimos anos. Sua tela “O Espantalho” é a recordista, foi a leilão em setembro de 2007, no Rio de Janeiro, e arrematada por R$ 3,8 milhões. Di Cavalcanti, por sua vez, tem duas obras na lista das Dez Mais, entre elas “Mulatas e Flor”, arrematada em 2007 por R$ 1,5 milhão.

Um dos pontos fortes do portal é o método de avaliação das obras. O acesso dos artistas é livre, qualquer um pode entrar. Como em um blog, é só inserir sua biografia e aguardar a checagem da equipe responsável. Mas para vender só através das 747 galerias, leiloeiros, livrarias e antiquários cadastrados. “Pouco me importa quanto o dono diz que vale a obra, mas o quanto o mercado avalia”, diz Koenigkan. O site só informa o valor de obra que tenha sido vendida no mercado brasileiro. Por isso, Tarsila do Amaral, que, de acordo com os marchands, seria a artista mais cara do País, fica atrás de Portinari, Di Cavalcanti e Ismael Nery na avaliação do novo portal. Isso porque há muitos anos não aparece nenhuma tela relevante de Tarsila nos leilões nacionais. Além disso, o “Abaporu”, considerada a obra mais importante das artes plásticas brasileiras, não se encontra no Brasil. Foi vendida para um empresário argentino há quase duas décadas por US$ 1,5 milhão, em um leilão em Nova York.

Para alguns marchands e destaques das artes, o sistema do novo portal parece estranho. Pelo menos cinco artistas renomados já procuraram Koenigkan para se queixar do fato de figurarem catalogados no mesmo balaio de meros emergentes. “Avisei que não tiro e nem vou tirar”, diz o empresário. “O objetivo é mesmo democratizar as artes.”