Desde que passou a presidência da fabricante de eletrônicos Semp Toshiba para seu filho, Afonso Antonio Hennel, em 2000, o empresário Affonso Brandão Hennel nunca deixou de frequentar a sede da empresa, no bairro de Santo Amaro, em São Paulo. O doutor Affonso, como é conhecido entre os funcionários, era visto por lá pelo menos duas vezes por semana, mas não se envolvia com os assuntos do dia a dia. Em meados do ano passado, porém, as visitas passaram a ser diárias. No começo deste mês, aos 84 anos, o veterano comandante voltou ao batente. Reassumiu a operação, acumulando a função de CEO e de presidente do conselho. 

 

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O retorno do veterano: Affonso Brandão Hennel, em foto de 1999, um ano antes

de deixar o comando da Semp Toshiba

 

Afonso Antonio fica apenas com uma vaga no conselho. A volta de Hennel, filho do fundador da Semp Toshiba, acontece em um período turbulento para a companhia. Nos últimos dois anos, a empresa perdeu estimados R$ 100 milhões. Desde 2009, o prejuízo é ainda maior: R$ 150 milhões, de acordo com uma fonte. A sangria vem principalmente da área de informática, mas o setor de televisores também operou no vermelho. O faturamento de R$ 1,4 bilhão ficou estagnado em 2012. Nos tempos áureos, a receita da Semp Toshiba chegou a R$ 2 bilhões. Não bastasse isso, a parceria com os japoneses da Toshiba também está estremecida há tempos. 


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Ceo afastado: a aposta de Afonso Antonio na área de informática

não trouxe resultado

 

Tanto que, no ano passado, a Semp Toshiba negociou uma associação com uma empresa chinesa. Sua primeira medida foi cercar-se de ex-funcionários de confiança. Voltaram a dar expediente Ricardo Schiel, que atuou como diretor industrial da empresa, e Antônio Wolff, da área de RH. Eles estão, segundo DINHEIRO apurou, trabalhando como consultores. Na próxima semana, dois executivos da cúpula da Toshiba desembarcam em São Paulo para uma reunião com Hennel. “Até agora nada foi anunciado e ninguém demitido”, diz um funcionário. A dúvida é se a Semp Toshiba retornará aos seus tempos de glória. 

 

A companhia perdeu o bonde das telas de LCD e não conseguiu competir com os coreanos da Samsung e da LG, que hoje lideram o setor de televisores no Brasil. Na área de informática, uma aposta de Afonso Antonio, o filho afastado, a empresa nunca se transformou em um fornecedor relevante. Há poucas opções na mesa, avaliam analistas de mercado. Uma delas é enxugar a operação e focar-se em alguma atividade. “O doutor Affonso dá liberdade e responsabilidade”, diz uma fonte que conviveu com o empresário, sobre seu estilo de gestão. “Mas se pisar na bola, você está morto.” Se não for duro em seu retorno, quem pode não sobreviver talvez seja a Semp Toshiba.

 

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