A senadora e candidata à Presidência pelo MDB, Simone Tebet, recebeu a avaliação mais positiva no primeiro debate de 2022 segundo pesquisa qualitativa do Datafolha, que ouviu um grupo de 64 eleitores indecisos ou que pretendem anular o voto para presidente.

Segundo a pesquisa, a senadora convenceu mais gente do que o candidato Ciro Gomes, já veterano de debates e campanhas. Menos conhecida do eleitorado, ela aproveitou a chance para reforçar seu bordão, segundo o qual mulher vota em mulher. Ela se solidarizou com a jornalista Vera Magalhães após esta ter sido insultada por Bolsonaro, afirmou não temer as ameaças do presidente e usou uma de suas perguntas para relembrar que ele “agride as mulheres brasileiras”. E questionou de forma objetiva: “Candidato Bolsonaro, por que tanta raiva das mulheres?”

Mulheres roubam cena de Lula e Bolsonaro em primeiro debate entre presidenciáveis

O presidente respondeu dizendo ter sido dele o governo que mais sancionou leis defendendo as mulheres (sem citar nenhuma), cumprimentou a primeira-dama (sua esposa) sobre o “brilhante trabalho” que ela faz pelo voluntariado e acusou a senadora de não defender duas médicas que teriam sido humilhadas ao participar da CPI da Covid, da qual Tebet era integrante.

O que importa aqui não é o quanto Bolsonaro fugiu dessa reposta especificamente e sim a forma como o embate nesse campo repercutiu. A julgar pelos comentários dos apoiadores do presidente nas redes sociais, as mulheres é que devem parar de acusá-lo de misoginia, como se o histórico de agressões verbais do Messias não fosse o suficiente para provar o contrário. Tebet ainda precisa fazer muito mais se quiser tirar o voto de mulheres que votariam em Bolsonaro por ignorar o que ele realmente pensa sobre gênero.

A senadora, que já se declarou feminista, mostrou convicção em sua forma de lidar com o adversário em um campo no qual ele tem evidente fragilidade e nem sequer esconde o desconforto ao ser confrontado. A candidata de Mato Grosso do Sul sabe disso e fez sua parte na TV. Serena e sem se inflamar, ela passou as mensagens corretas mesmo sob ataque, mas ainda precisa evitar alguns deslizes. É difícil fazer isso ao falar de improviso, mas escolher as palavras corretas se faz necessário em uma campanha.

Ainda que ela não tenha incorrido em nenhum erro grosseiro como o do candidato do Novo, Luiz Felipe D’Ávila, que se referiu à Lei Maria da Penha como Maria da Paz, Tebet disse, talvez sem perceber, que é preciso “acabar com as creches” e que “as mulheres precisam arrumar a casa”. Aqui as frases estão intencionalmente fora de contexto. Ela se referiu, primeiro, a concluir obras paralisadas em creches. E “casa” foi o terno coloquial usado por ela para o Estado brasileiro.

Tirar frases do contexto, como nos exemplos, é uma prática de quem espalha fake news, algo  corriqueiro na estratégia de campanha bolsonarista. E mesmo que pequenos deslizes de fala não sejam suficientes para comprometer a imagem que a senadora tem se esforçado para construir, podem ser usados contra ela em seu futuro político.