Principais países da União Europeia, além de Turquia, China, Arábia Saudita e Austrália, expressaram críticas veementes à medida. Estados Unidos foi a exceção.A decisão de Israel de controlar militarmente toda a Cidade de Gaza, no território palestino da Faixa de Gaza, aprovada nesta sexta-feira (08/08) pelo gabinete de segurança e assuntos políticos do país, provocou críticas veementes de grande parte da comunidade internacional.

Um dos países a reagir foi a Alemanha, tradicional aliado de Israel em função de sua responsabilidade histórica decorrente do Holocausto. O chanceler federal Friedrich Merz afirmou que Israel “tem o direito de se defender do terror do Hamas” e que a libertação de reféns israelenses e negociações resolutas para um cessar-fogo eram as prioridades da Alemanha, mas que “a ação militar ainda mais dura do Exército israelense na Faixa de Gaza (..) torna cada vez mais difícil para o governo alemão ver como esses objetivos serão alcançados”.

Além de condenar a decisão de Israel, Merz anunciou a suspensão das exportações para Israel de equipamentos militares que possam ser usados em Gaza.

O premiê britânico, Keir Starmer, afirmou que a decisão de Israel de controlar toda a Cidade de Gaza era errada e pediu que ela fosse reconsiderada. “Esta ação não fará nada para colocar um fim neste conflito ou para ajudar a garantir a soltura dos reféns. Ela irá apenas provocar mais derramamento de sangue”, afirmou.

“A cada dia que passa, a crise humanitária em Gaza piora e os reféns capturados pelo Hamas continuam detidos em condições terríveis e desumanas. O que precisamos é de um cessar-fogo, um aumento da ajuda humanitária, a libertação de todos os reféns pelo Hamas e uma solução negociada”, disse Starmer.

Espanha prevê “mais destruição e sofrimento”

O ministro das Relações Exteriores da Espanha, José Manuel Albares, postou uma mensagem no X em que condenou a decisão do governo israelense, que segundo ele “só provocaria mais destruição e sofrimento”.

“São urgentes um cessar-fogo permanente, a entrada imediata e em grande escala de ajuda humanitária e a libertação de todos os reféns. A paz definitiva na região só será alcançada com a implementação da solução de dois Estados, que inclua um Estado palestino realista e viável”, afirmou.

A Espanha reconheceu os territórios palestinos como um Estado em 2024. A França e o Reino Unido anunciaram que planejam fazer o mesmo neste ano.

A França afirmou que a decisão de Israel “agravaria uma situação já catastrófica”. Em um post no X, o ministro francês das Relações Exteriores, Jean-Noël Barrot, escreveu: “A França condena veementemente o plano do governo israelense que visa preparar a ocupação completa de Gaza. Tal operação agravaria uma situação já catastrófica, sem permitir a libertação dos reféns do Hamas, seu desarmamento ou sua rendição.”

A Bélgica afirmou que convocaria o embaixador de Israel no país para expressar sua “total desaprovação a essa decisão, assim como à continuada colonização (…) e o desejo de anexar a Cisjordânia”.

A medida também foi criticada pela Holanda, que enfatizou que “Gaza pertence aos palestinos”. O ministro das Relações Exteriores, Caspar Veldkamp, afirmou no X: “O plano do governo Netanyahu de intensificar as operações israelenses em Gaza é uma medida errada. A situação humanitária é catastrófica e exige melhorias imediatas. Essa decisão não contribui de forma alguma para isso e também não ajudará a trazer os reféns de volta para casa.”

A ministra das Relações Exteriores da Suécia, Maria Malmer Stenergard, afirmou que a decisão de Israel poderia constituir uma violação do direito internacional. “Vejo com grande preocupação a decisão tomada pelo governo israelense. Precisamos de um cessar-fogo e essa decisão corre o risco de levar o desenvolvimento para a direção oposta”, disse ela, de acordo com a emissora pública sueca SVT. “Já reiterei anteriormente que qualquer tentativa de anexar, alterar ou reduzir o território de Gaza violaria o direito internacional”, acrescentou.

Em uma mensagem no X, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, pediu que Israel reconsiderasse sua decisão. “Ao mesmo tempo, deve ocorrer a soltura de todos os reféns, que estão sendo mantidos em condições desumanas. E ajuda humanitária deve ter acesso imediato e desimpedido a Gaza para entregar o que é urgentemente necessário”.

China: “Gaza pertence ao povo palestino”

A ministra das Relações Exteriores da Austrália, Penny Wong, pediu em um comunicado que Israel reconsiderasse a decisão, “que irá apenas piorar a catástrofe humanitária em Gaza”.

O Ministério das Relações Exteriores da Turquia descreveu o plano de Israel de tomar a cidade de Gaza como um “duro golpe” à paz e à segurança. “Apelamos à comunidade internacional para que cumpra suas responsabilidades de impedir a implementação dessa decisão, que visa deslocar à força os palestinos de suas próprias terras”, afirmou em comunicado.

A China expressou “sérias preocupações” sobre o plano de Israel de controlar a Cidade de Gaza e pediu que o país “interrompa imediatamente suas ações perigosas”. “Gaza pertence ao povo palestino e é parte inseparável do território palestino”, disse um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores à agência de notícias AFP. “A resolução completa do conflito em Gaza depende de um cessar-fogo. Só então será possível pavimentar o caminho para a desaceleração do conflito e garantir a segurança regional.”

A Arábia Saudita condenou de forma enfática a decisão. Em um comunicado, o Ministério das Relações Exteriores afirmou que o país “denuncia categoricamente a persistência das autoridades de ocupação israelenses em cometer crimes de fome, práticas brutais e limpeza étnica contra o povo palestino irmão”.

ONU fala em “destruição insensata e crimes atrozes”

O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, considerou o plano israelense de assumir o controle da cidade de Gaza uma “escalada perigosa”.

O chefe de Direitos Humanos da ONU, Volker Turk, disse que a decisão causará mais mortes e sofrimento e deve ser interrompida imediatamente. Em comunicado, Turk afirmou que o plano israelense vai na direção oposta à decisão da Corte Internacional de Justiça (CIJ), que insta Israel a pôr fim à ocupação o mais rápido possívele endossa uma solução de dois Estados e o direito dos palestinos à soberania.

“Com base em todas as evidências até o momento, essa nova escalada resultará em mais deslocamentos forçados em massa, mais mortes, mais sofrimento, destruição insensata e crimes atrozes. Em vez de intensificar essa guerra, o governo israelense deveria colocar todos os esforços para salvar a vida dos civis de Gaza, permitindo o fluxo total e irrestrito de ajuda humanitária. E os reféns devem ser libertados imediatamente e incondicionalmente pelos grupos armados palestinos”, declarou Turk.

Um país que não criticou Israel por sua decisão foram os Estados Unidos. O seu embaixador em Israel, Mike Huckabee, disse que se tratava de “uma decisão que os israelenses e somente os israelenses podem fazer”. “Não é nosso trabalho dizer a eles o que devem ou não fazer”, afirmou à rede CBS. Antes da decisão ser tomada, o presidente americano, Donald Trump, disse que uma eventual ocupação de Gaza “depende basicamente de Israel”.

bl/ra (AFP, Reuters, ots)