18/07/2025 - 18:08
Imposição de tornozeleira eletrônica ao ex-presidente é exaltada por opositores e criticada por seus filhos e apoiadores. Em entrevista, Bolsonaro diz que espera ser condenado e preso em breve.A decisão desta sexta-feira (18/07) do Supremo Tribunal Federal (STF) que impôs ao ex-presidente Jair Bolsonaro o uso de tornozeleira eletrônica, dentre outras medidas cautelares, gerou uma onda de reações de apoiadores e críticos do ex-mandatário.
Saíram em sua defesa o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, os filhos Eduardo e Flávio Bolsonaro e vários de seus correligionários. Entre os que elogiaram a medida estão deputados federais do Psol Guilherme Boulos e Sâmia Bonfim e o líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias.
Por determinação do ministro Alexandre de Moraes, Bolsonaro será monitorado 24 horas por dia e não poderá acessar redes sociais ou deixar Brasília sem autorização. Também terá de permanecer em casa entre 19h e 7h e está proibido de se comunicar com embaixadores e diplomatas estrangeiros, bem como outros réus e investigados pelo Supremo – incluindo dois de seus filhos – e não poderá acessar embaixadas.
As ordens cautelares do STF foram motivadas pela possibilidade de Bolsonaro fugir do país e pedir asilo ao governo dos Estados Unidos.
Em entrevista à agência de notícias Reuters logo após deixar a PF, Bolsonaro chamou Moraes de “ditador-mor do Brasil” e disse contar com uma condenação ainda em agosto. O ex-presidente é réu por tentativa de golpe de Estado, e o processo está sob relatoria de Moraes no Supremo.
Aliados saem em defesa de Bolsonaro
Um dos principais cotados para representar Bolsonaro nas urnas em 2026 – o ex-presidente está inelegível até 2030 –, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, falou em “sucessão de erros que afasta o Brasil do seu caminho”, e sugeriu que a eleição de 2022, que Bolsonaro perdeu, não teria sido “justa”.
“Não haverá pacificação enquanto não encontrarmos o caminho do equilíbrio. Não haverá paz social sem paz política, sem visão de longo prazo, sem eleições livres, justas e competitivas”, disse em postagem nas redes sociais.
O governador também elogiou Bolsonaro, chamando-o de “corajoso”, reiterou seu apoio ao ex-presidente e disse que “o tempo trará a justiça”.
“Não faltou [coragem] quando atentaram contra a sua vida. Não faltou [coragem] para lidar com as crises sem precedentes que este país passou quando ele era presidente. Não faltou [coragem] para defender a liberdade, valores, ideais e combater injustiças. E não vai faltar agora, pois ele sabe que estamos e seguiremos ao seu lado.”
Os filhos do ex-presidente também saíram em defesa do pai e repetiram o argumento de que ele estaria sendo perseguido.
Via redes sociais, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) disse que a “humilhação” imposta pelo STF “deixará cicatrizes nas nossas almas”, mas que confia que o ex-presidente sairá dessa situação “ainda mais forte” para “liderar o resgate do nosso Brasil”.
O senador também criticou a proibição de contato entre o ex-presidente e demais investigados no inquérito da trama golpista, o que inclui o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), atualmente nos Estados Unidos, e o vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ). Segundo Flávio, “proibir o pai de falar com o próprio filho é o maior símbolo do ódio que tomou conta de Alexandre de Moraes”.
Também via redes sociais, Eduardo Bolsonaro afirmou que Moraes “redobra a aposta” ao tomar as medidas cautelares contra seu pai. No texto publicado em inglês, ele sugeriu que as medidas foram adotadas após a divulgação, no dia anterior, de um vídeo de Jair Bolsonaro endereçado ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
O senador Ciro Nogueira (PP-PI), ex-ministro da Casa Civil no governo de Bolsonaro, lamentou a decisão do STF em postagem em uma rede social.
“Na prática, é como se o presidente Bolsonaro, que é um homem de bem, já estivesse cumprindo a pena antes do julgamento”, escreveu. Ele afirmou que Bolsonaro “jamais sairia do país e não representa, como nunca representou, nenhum risco para a sociedade”. “Dezenas de milhões de brasileiros irão dormir com a sensação de que o presidente merece mais, e não menos, apoio.”
Alex Bruesewitz, assessor de Trump na Casa Branca, postou nas redes sociais que “o que Alexandre de Moraes e o Supremo Tribunal Federal estão fazendo com o presidente Bolsonaro é perverso e errado”. “Esse nível de instrumentalização do governo contra um oponente político é tão ruim quanto o que tentaram fazer com o presidente Trump.”
Bruesewitz, de 28 anos, é considerado um dos principais estrategistas responsáveis pelas redes sociais de Trump.
Oposição comemora decisão do STF
O líder do PT na Câmara dos Deputados, Lindbergh Farias, afirmou que a decisão de colocar a tornozeleira eletrônica em Bolsonaro é fruto de um inquérito que teve origem em uma representação criminal protocolada por ele em maio deste ano na qual pedia a tornozeleira para Bolsonaro e prisão preventiva pra Eduardo.
“Em 11/7/25, ao denunciar a tentativa de Tarcísio [de Freitas] de facilitar a fuga de Jair, reforçamos a urgência da medida cautelar de monitoramento eletrônico com tornozeleira. É uma vitória do Estado de Direito contra o golpismo transnacional”, escreveu.
Em um vídeo publicado em seu perfil no X, Lindbergh que diz ter cumprido suas “obrigações como parlamentar” ao entrar com os pedidos.
O deputado federal Guilherme Boulos (Psol-SP) também comemorou nas redes sociais a decisão do STF. “Grande Dia! Bolsonaro recebe visita da PF e passa a usar tornozeleira eletrônica. No Brasil, os golpistas vão ser punidos”, escreveu.
Luiz Marinho, ministro do Trabalho do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou em postagens que “um possível plano de fuga ficou mais difícil”.
“Respeito às leis, honra à pátria e integridade”, escreveu em seu perfil no X o ministro da Advocacia-Geral da União (AGU), Jorge Messias. “Sob a liderança do presidente Lula, estamos juridicamente preparados para defender nossa soberania, nossos empregos, nossas empresas, nossa democracia, nossos Poderes e, consequentemente, a integridade da nossa Constituição.”
Bolsonaro diz que será preso “até o mês que vem”
Em entrevista à agência de notícias Reuters, Bolsonaro disse sentir uma “suprema humilhação” pelo fato de estar usando a tornozeleira. “Tenho 70 anos de idade, fui presidente da República por quatro anos”, reclamou.
Ele negou qualquer plano de deixar o país, mas disse que se encontraria nos Estados Unidos com Donald Trump, se pudesse ter acesso ao seu passaporte, apreendido pela polícia no ano passado. Ele também afirmou ter procurado o principal diplomata americano no Brasil para discutir a ameaça tarifária de Trump.
Nas últimas semanas, Trump tem pressionado o Brasil a interromper o processo judicial contra Bolsonaro, afirmando que seu aliado estaria sendo alvo de uma “caça às bruxas” e ameaçando impor uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros a partir de 1º de agosto.
Bolsonaro chamou ainda de “covardia” a ordem judicial que o proíbe de falar com os filhos. Disse à Reuters que conversa com Eduardo quase diariamente, mas negou que ele estivesse tentando fazer lobby junto ao governo americano para beneficiá-lo, e que espera que o filho busque a cidadania americana para evitar o retorno ao Brasil.
O ex-presidente disse não ter dúvidas de que será condenado e preso pelo STF no processo em que é réu por tentativa de golpe de Estado, e queixou-se de o caso não estar sendo decidido na primeira instância do Judiciário.
“Ele [Moraes] quer me tirar da participação no jogo político do ano que vem”, afirmou.
rc/ra (Reuters, ots)