Começa hoje (20) a 4º reunião do  Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central. O presidente do BC, Roberto Campos Neto, e demais membros devem decidir pela manutenção da taxa básica de juros em 13,75%. A equipe do BC vai contra a direção trazida por economistas e membros do mercado financeiro, que avaliam ser possível já reduzir a Selic em 50 pontos base, ou seja, em 0,5% ao ano. Aguarda-se, para além, uma sinalização positiva na ata da reunião.

“O que pode haver é uma mudança na sinalização, em face dos dados mais recentes de desaceleração a inflação e também de queda acentuada acumulada na inflação ao produtor. É possível que o conselho comece já sinalizar uma redução a partir de agosto”, avalia André Roncaglia, economista e professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

+ PIB cresce, inflação desacelera e a ‘bola está no campo do Banco Central para reduzir os juros’

Para ele, há uma diretoria dividida sobre o momento de reduzir os juros do país, principalmente em termos do nível de restrição necessária para ancorar o que se entende pelas expectativas do mercado. Nesta segunda (19), o Boletim Focus mostrou que a expectativa para a taxa básica de juros no fim deste ano caiu: a mediana para os juros básicos no fim de 2023 baixou para 12,25% a.a.

“Mesmo havendo riscos em relação as metas [de inflação], caso a situação se mantenha, se prevê o primeiro corte de juros em setembro, com a Selic chegando a 12,50% até fim do ano”, considera Érica Arruda, assessora de investimentos e sócia da Acqua Vero, que alerta para outro evento do mês de junho – o Conselho Monetário nacional também vai discutir as metas de inflação.

Commodities em queda em todo o mundo, o fluxo de entrada de dólar – que vai além da economia doméstica – mantendo real valorizado, há controle maior da inflação, segundo defende Bruno Musa, também sócio da Acqua Vero. “Isso abre espaço para que o banco comece a cortar os juros numa próxima reunião se assim se mantiver [o cenário]”.

Campos Neto não quer ceder a pressões

Roncaglia avalia, para além da expectativa, que a decisão do Copom é mais política do que estritamente técnica, considerando dados de PIB, inflação e expectativas do próprio mercado. “Difícil que haja uma redução nessa porque isso implicaria uma mudança no padrão de comportamento muito grande. O BC tem sido muito conservador nesse sentido, como tentativa de sinalizar autonomia, mantém sua forma de pensar independente ou até insensível as pressões políticas”, explica.

Campos Neto e Lula vivem, desde o começo da gestão do petista, um conflito por conta dos juros altos. De um lado, o presidente vê cenário positivo para Selic menor; o Banco Central, no entanto, força a cautela para preservar a autonomia da instituição e sem fazer movimentos bruscos.

Lula voltou a criticar a decisão monetária. “Apenas o juro precisa baixar, porque também não tem explicação. O presidente do Banco Central precisa explicar, não a mim, porque eu já sei o porque ele não baixa, mas ao povo brasileiro e ao Senado, por que ele não baixa [a taxa]“, disse, em live do Conversa com o Presidente.

“As sinalizações recentes, principalmente no boletim de ontem, mostram  que há um espaço maior para convencer os conselheiros do início da diminuição do aperto a partir da reunião de agosto”, acrescenta Roncaglia, ponderando que há “uma busca por credibilidade diante das pressões e tentativa de suavizar a trajetória da política monetária, com comunicação cuidadosa”, finaliza.