Bem antes da popularização do termo economia circular, o mercado de móveis e objetos decorativos já cumpria um papel que ganhou novo fôlego na era do ESG. Se hoje o reúso é uma das formas mais sensatas de reduzir o impacto ambiental da indústria de luxo, no passado os antiquários eram os lugares onde arquitetos, decoradores e clientes em busca de itens para casa garimpavam peças que poderiam ganhar vida nova em outra casa. O que era nicho virou tendência global. Segundo estudo da plataforma de usados ThredUp, até 2026 o mercado de segunda mão crescerá 16 vezes mais rápido que a média do varejo. Outro dado da pesquisa: metade das transações de segunda mão será on-line já no próximo ano.

ACERVO RARO A garimpagem de peças para a plataforma se apoia na expertise das sócias em objetos de decoração e design. (Crédito:Divulgação)

Essas duas conclusões, somadas a um gosto pessoal por objetos do passado, encorajaram as irmãs Marcela e Paula Caio, sócias do e-commerce Theodora Home, a lançar uma nova marca amparada nos pilares da economia circular. Com abertura prevista para a segunda-feira (6), a TH Second Floor funcionará como “uma curadoria afinada de móveis e objetos de personalidade que estão prontos para continuar fazendo história”, nas palavras de Marcela. “Queremos ajudar as pessoas a comprar, vender e ressignificar móveis e objetos de maneira fácil e segura.” Segundo ela, a proposta inclui educar o público sobre o consumo de segunda mão em mobiliário e decoração a partir da expertise acumulada em mais de uma década de atuação da Thoedora Home em décor e design.

DO BERÇO AO BERÇO A economia circular na decoração entrou em voga em 2002 com o livro-manifesto Cradle to Cradle, de William McDonough e Michael Braungart, que ganhou edição brasileira em 2014 com o subtítulo Criar e Reciclar Ilimitadamente (Editora Gustavo Gilli). A obra refuta a ideia de que o ciclo de vida de um produto manufaturado vai do berço ao túmulo, em um processo linear de extração, produção e descarte. Passados 20 anos desde que o conceito Cradle to Cradle (C2C) surgiu, ele já originou até uma certificação, hoje adotada por empresas como Saint Gobain e C&A. A proposta da Second Floor se alinha a esse pensamento ao refletir as demandas da sociedade para reduzir o impacto ambiental da produção e do consumo de objetos de decoração.

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Marcela, que atuou no mercado financeiro antes de estudar design em Florença e em Paris, entende que há ainda ganhos econômicos no segundo uso. Isso vale tanto pela redução dos custos de extração e processamento de matérias-primas quanto por criar “oportunidades de negócios na indústria do reaproveitamento”, afirmou. A Second Floor tem como característica unir duas pontas do mercado: de um lado, clientes que apreciam peças vintage, arquitetos e colecionadores; de outro, pessoas físicas interessadas em vender suas peças antigas para a plataforma.

Para que funcione na prática, as empreendedoras buscaram boas referências internacionais. Uma delas é a startup americana de compra e venda de móveis AptDeco, que oferece produtos novos, usados e vintage em diferentes faixas de preço ­— da sueca Ikea até à grife de móveis de escritório Herman Miller. Outras inspirações são o marketplace Chairish e a plataforma 1stDibs, que revende apenas peças de alto luxo. Na visão desses players, todo objeto de decoração sempre pode ser uma segunda vida. E isso é bom para o planeta.