A Fundação Getulio Vargas (FGV) avaliou no relatório do Indicador de Comércio Exterior (Icomex) que o aumento no volume das exportações em 2023 sinalizou o crescimento da penetração dos produtos brasileiros, seja dos mesmos produtos e/ou novos produtos. A balança comercial fechou o ano de 2023 com um superávit de US$ 98,8 bilhões, o segundo recorde consecutivo.

O maior superávit foi o da agropecuária, US$ 74,3 bilhões, seguido da extrativa, no valor de US$ 62,8 bilhões. O déficit da indústria de transformação passou de US$ 57,2 bilhões para US$ 37,7 bilhões, uma redução de US$ 19,5 bilhões, ou 34%. “A redução do déficit da indústria de transformação contribuiu para o aumento do superávit em 2023”, disse a FGV.

Em termos agregados, o aumento do volume exportado por setores mostra a liderança da agropecuária e da indústria extrativa, com crescimento de 25% e 16,5%, respectivamente, com queda de preços em ambos os casos.

O principal produto exportado foi a soja em grão (participação de 16%), seguido do petróleo (13%) e do minério de ferro (9%), que são os principais produtos exportados pelo Brasil desde o início dos anos 2010. A seca na Argentina, porém, favoreceu o aumento das vendas brasileiras de soja em grão, que aumentaram em quantidade, 29,4%.

“Além disso, também favoreceu as vendas de farelo de soja na pauta brasileira, passando a ser o segundo principal produto exportado da indústria de transformação, em 2023. A Guerra na Ucrânia e problemas na safra dos Estados Unidos levaram ao aumento das exportações de milho (11,8%), que foi o segundo principal produto das vendas do setor agropecuário, em 2023”, informou a FGV.

De acordo com o relatório do Icomex, os investimentos em infraestrutura na China no segundo semestre favoreceram as exportações de minério de ferro, e além disso, o aumento da exploração do petróleo no Brasil foi positiva para as exportações.

O aumento das exportações foi liderado pelo avanço dos produtos tradicionais, mas choques adversos na Argentina e nos Estados Unidos permitiram maior penetração de produtos em que o Brasil não se destacava. Com o fim da seca na Argentina, porém, as exportações de farelo de soja devem recuar e o mesmo vale para as vendas de milho, com a normalização das condições para o produto nos Estados Unidos.

O desempenho favorável das exportações da agropecuária e da indústria extrativa ao longo dos anos 2000, seja por choques positivos de preços ou por aumento de volume, levou a um aumento da participação desses setores nas exportações totais do Brasil e queda da manufatura.

No início da série em 1998, a participação da agropecuária era de 8,9%, da extrativa de 7,2% e da transformação de 82,9%. Em 2023, essas participações foram de 23,1% (agro), 23,2% (extrativa) e 53,5% (transformação).

A indústria de transformação é a principal compradora de produtos importados. Sua participação não tem sofrido grandes variações ao longo da série histórica iniciada em 1998. Nesse ano, era de 88%, em 2022 foi de 89% e em 2023, de 91%. A queda no volume importado, portanto, está associada ao fraco desempenho desse setor, que pela previsão do modelo Ibre deverá registrar queda de 0,5%, na comparação entre 2022 e 2023.