24/10/2022 - 8:15
O déficit comercial da indústria de ponta no Brasil voltou a crescer neste ano. Os setores mais avançados no uso de tecnologia até registraram uma melhora nas exportações, mas as importações também avançaram, mantendo o saldo comercial no vermelho.
No primeiro semestre, a indústria de alta tecnologia acumulou déficit de US$ 21,1 bilhões, 28,6% acima do apurado entre janeiro e junho do ano passado (US$ 16,4 bilhões), de acordo com um levantamento do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). A diferença foi de US$ 4,7 bilhões (cerca de R$ 24,25 bilhões). Na indústria de média-alta tecnologia, o rombo cresceu ainda mais (34,6%), de US$ 28,6 bilhões para US$ 38,5 bilhões no mesmo período.
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“O déficit nos setores de maior intensidade tecnológica reflete, claramente, um problema de competitividade do País, porque esses ramos têm mais etapas, com cadeias produtivas longas”, afirma Rafael Cagnin, economista-chefe do Iedi. “Com cadeias globais longas, as distorções existentes, como tributárias e de infraestrutura, se acumulam.”
A indústria de ponta é composta por vários setores, como automotivo, químico e eletroeletrônico, entre outros.
Nos demais segmentos, o Brasil colheu superávits comerciais de janeiro e julho. No setor de baixa e média-baixa tecnologia, o resultado ficou positivo em US$ 36,8 bilhões e US$ 49,2 bilhões, respectivamente. “Os ramos de menor intensidade tecnológica, em parte, estão associados à atividade primária exportadora”, diz Cagnin. Na indústria média, o superávit foi de US$ 7,5 bilhões.
O QUE EXPLICA
São fatores conjunturais e estruturais que explicam um número mais negativo do resultado comercial para os setores de mais alta tecnologia. A alta dos preços globais – diante da desorganização das cadeias produtivas provocada pela pandemia – e o crescimento econômico acima do esperado contribuem para o aumento do peso da importação. As previsões mais recentes para o Produto Interno Bruto (PIB) de 2022 já estão próximas de 3%. Na virada do ano, uma parte dos analistas chegou até a projetar uma leve recessão.
O déficit nesses setores crescente indica também, de acordo com especialistas, que o Brasil fica para trás na corrida por uma indústria de ponta e mais moderna, além de evidenciar uma economia fechada, sem grandes acordos comerciais.
“Os ramos mais intensivos em tecnologia são o principal veículo numa integração mais sistêmica da nossa economia com o resto do mundo. São eles que pilotam a nossa inserção dentro das cadeias globais de valor”, afirma o economista do Iedi. “À medida que o País não avança na integração (global), na participação de mais acordos e na redução barreiras no comércio exterior, esses ramos de maior intensidade tecnológica também são prejudicados.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.