A deflação de 0,08% em junho é mais uma boa notícia para ser colocada em um caldeirão considerado bastante positivo para o governo neste ano. Junte-se aí a aprovação, na Câmara, da reforma tributária, na semana passada – talvez a notícia mais importante para a economia em muitos e muitos anos. Mas também houve outras vitórias, como a volta do voto de desempate para o governo no Carf – o tribunal que julga litígios envolvendo contribuintes e a Receita – e a aprovação do novo arcabouço fiscal (que ainda depende de uma votação na Câmara, mas que ninguém acredita que possa mudar muito).

O resultado do IPCA do mês passado chega em um momento importante para o governo. Em pouco mais de duas semanas, nos dias 1.º e 2 de agosto, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central se reúne para definir os rumos da taxa de juros. O mercado já dá como certo que a Selic vá começar a cair nessa reunião.

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Projeções

A melhora no cenário pode ser captada nas projeções de analistas ouvidos pelo BC no Boletim Focus, que é divulgado semanalmente. Em janeiro, a previsão era que o PIB tivesse um crescimento de 0,8% este ano. Na pesquisa divulgada na segunda-feira, esse número estava em 2,18%. No caso da inflação, a projeção em janeiro era de terminar 2023 em 5,31%. Agora, está em 4,95%, e caindo semana após semana.

Já há muitos economistas apostando até que o Banco Central pode entregar a inflação dentro da meta este ano. O objetivo perseguido é de 3,25%, com margem de tolerância de 1,5 ponto, para cima ou para baixo. Ou seja, se ficar em no máximo 4,75%, o BC terá cumprido seu papel, depois de dois anos seguidos de descumprimento.

É, em suma, um cenário muito melhor que o projetado no início do ano. Mas o jogo está muito, muito longe de estar ganho. Há muitas batalhas pela frente esperando o ministro Fernando Haddad.

Uma delas é colocar de pé o arcabouço fiscal, o projeto criado para substituir o teto de gastos, e que vai dar limites aos gastos do governo. Da forma como ficou, será necessário um aumento de arrecadação bastante robusto no ano que vem – estimado em mais de R$ 150 bilhões. Algumas vitórias, como a volta do voto de desempate pró-governo no Carf, ajudam nesse sentido, mas ainda não está claro de onde vai vir todo esse dinheiro. Não será uma tarefa fácil.

Reforma

Outra é evitar que o projeto de reforma tributária seja ainda mais desfigurado no Senado. Na Câmara, foi necessária uma série de concessões a grupos de interesse para que o projeto fosse aprovado, resultando em um número excessivo de produtos e serviços beneficiados com alíquotas mais baixas. Ainda dentro da reforma tributária, uma nova batalha deve começar em breve: a mudança dos impostos sobre a renda, como IRPF, IRPJ e CSLL.

O governo tem mesmo de comemorar o que já conseguiu até aqui, foi mais do que se esperava. Mas o trabalho está só no início, se o objetivo é mesmo criar uma forma de desenvolvimento que se sustente no longo prazo, e não aos soluços, como é, infelizmente, o normal no Brasil.

Bom para o consumidor, nem sempre para a economia

Em um País como o Brasil, que lutou por anos a fio contra a hiperinflação, pensar em deflação ainda pode soar meio estranho. Mas ela dá as caras de vez em quando. Mas, afinal, o que é deflação, e qual seu impacto para a economia?

A deflação se caracteriza pela queda generalizada dos preços durante um determinado período de tempo – é o oposto da inflação. Em geral, está associada a uma queda da demanda pelos produtos, seja porque a oferta de bens e serviços cresceu mais do que a procura, seja porque os consumidores ficaram mais retraídos em relação aos gastos (preferindo elevar o nível de poupança, por exemplo).

Há também as quedas de preços “artificiais”, provocadas por movimentos dos governos, por exemplo. No final de 2022, quando o Brasil registrou três meses seguidos de deflação, o motivo foi principalmente a redução de impostos incidentes sobre produtos como combustíveis e energia, sem haver uma queda generalizada de preços, o que caracterizaria uma deflação “clássica”.

Oferta

Para os consumidores, deflação pode parecer uma coisa boa, já que significa redução de gastos e mais dinheiro no bolso. Mas uma deflação persistente não é um bom sinal quando se pensa na economia como um todo. É um sinal de debilidade da atividade econômica. Quando há excesso de oferta de bens, ou ausência de demanda, há um aumento da capacidade ociosa na produção, e investimentos em novas fábricas, ou ampliação de linhas, por exemplo, deixam de fazer sentido. Um dos efeitos disso acaba sendo o aumento do desemprego. O remédio para combater esse quadro costuma ser o aumento dos gastos públicos, que pode levar a um endividamento maior do Estado. Ou seja, torcer para uma deflação permanente pode não ser uma boa ideia.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.