29/06/2004 - 7:00
O mercado brasileiro de sucos prontos tem o seu divisor de águas: antes e depois da mexicana Sucos Del Valle. Fenômeno de vendas no balcão da padaria ou na prateleira do supermercado, a companhia, que jamais gastou um centavo em publicidade, apostou que incluiria a bebida de fruta no cardápio nacional. Acertou em cheio. Tanto que despertou a fúria dos fabricantes de refrigerantes e a sede da concorrência. A brasileira Sucos Mais, Maguary e até a Santal da combalida Parmalat resolveram também testar o paladar do brasileiro. E até gigantes mundiais, como Coca-Cola e Pepsi, se renderam à nova onda natural: o segmento de sucos hoje movimenta 192 milhões de litros e R$ 630 milhões por ano. A vantagem ainda é folgada para a Del Valle e os dados da consultoria AC Nielsen atestam o desempenho. Atualmente, a mexicana responde por 25,5% desse mercado. Mas para se ter uma idéia, só a Sucos Mais, em dois anos de operações, captou 14% dos bebedores de suco no País. ?A ofensiva dos rivais era esperada. A Del Valle criou esse mercado no Brasil e sabia que, em médio prazo, a concorrência iria se mexer?, comenta um executivo de uma grande rede de supermercados do País. ?Para nós essa briga é ótima.?
Para a Del Valle é combustível para investir cada vez mais no País e tentar defender suas conquistas no mercado local. Com um discurso cauteloso, a vice-líder Sucos Mais diz que não se preocupa com a posição no ranking. ?O importante é trabalhar bem o mercado local e abrir espaço no exterior?, diz Ricardo Tavares, presidente da Sucos Mais. ?O objetivo é ter metade do faturamento atrelado às exportações?, completa. Até porque o mercado ainda hoje é pequeno. Em 1999, quando as primeiras embalagens Tetra Pak do produto mexicano engatinhavam nos pontos-de-venda do País, o consumo anual era ao redor de 0,2 litro por pessoa. Hoje, a realidade é completamente diferente. Estima-se que, até o final de 2004, cada habitante brasileiro responderá por 1,1 litro. O número ainda é baixo, em relação aos 9 litros per capita do México ou dos 44 litros dos Estados Unidos, mas vem crescendo ano a ano. Por isso mesmo, a Del Valle não quer deixar espaços. ?Vamos investir pesado em marketing no ponto-de-venda e reforçar a distribuição?, avisa Enrique Lechuga, diretor-geral da Sucos Del Valle no Brasil. Ele só não revela a quantia que será desembolsada pelos mexicanos. ?O que posso dizer é que em cinco anos teremos uma participação maior do que a atual num mercado maior, onde o consumo anual por habitante será de 5 litros?, afirma o executivo.
A meta principal de Lechuga é fazer com que, em 2009, a filial brasileira tenha pelo menos 20% do faturamento global da empresa e dobre suas exportações. Não é pouca coisa. No ano passado, o grupo mexicano bateu os US$ 500 milhões em vendas mundiais e a filial brasileira ficou com pouco mais de 12% da receita. Os embarques com o selo ?made in Brazil? também deverão subir em cinco anos. Atualmente, representam 8% das receitas da filial (R$ 165 milhões em 2003). ?A idéia é que em 2009 atinjam 16% das vendas?, diz Lechuga.
Capacidade na fábrica para tocar o novo projeto há de sobra. A unidade de Americana (SP) ? única operação do grupo fora do México desde 2002, quando a unidade de Porto Rico foi fechada ? recebeu US$ 40 milhões de investimento para ter uma capacidade de 204 milhões de litros por ano. Mesmo não revelando o tamanho da ociosidade, Lechuga assegura: ?Não haverá necessidade de novos investimentos fabris pelos próximos dois anos?. Com o atual nível de produção, a subsidiária do País já manda Del Valle para Suíça, Portugal, China, por exemplo. Até o fim do ano, outros dois países europeus serão incluídos no roteiro de Americana, cujos nomes são mantidos em sigilo. ?As sete fábricas do México estão voltadas para o mercado interno, América Central, Estados Unidos e Canadá. O alvo do Brasil é a Europa Ocidental e o Oriente?, afirmou o diretor-geral.
Convém não duvidar da sede mexicana. Os números da Del Valle são impres-
sionantes. De 1998 para cá, as vendas só disparam. Pularam de R$ 13 milhões
para R$ 165 milhões no ano passado. Em pontos-de-venda, o desempenho é semelhante: aumento de quase 200% entre 1999 e 2003, o que significou um
salto de 120 mil para 350 mil estabelecimentos que comercializam sua marca.
Os mexicanos são bons de briga.