Uma delegada da Polícia Civil foi presa em flagrante por tentativa de homicídio após atirar contra os policiais que tentaram resgatá-la, depois que ela se trancou durante 31 horas em sua casa, em Belo Horizonte (MG). Segundo a corporação, os agentes da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) foram até seu apartamento para avaliar as condições de saúde e recolher a arma da policial. A delegada Monah Zein impediu a entrada e disparou ao menos quatro vezes contra os agentes, mas não os atingiu. Um dos seus advogados diz que ação foi em legítima defesa.

Ela se trancou na terça-feira, 21, após fazer um desabafo nas redes sociais alegando assédio moral, e só deixou o apartamento na tarde de quarta, 22, quando recebeu voz de prisão. Devido ao estado emocional e de saúde, ela foi internada em uma unidade hospitalar. Nesta sexta-feira, 24, em audiência de custódia, a juíza Juliana Pagano, da Central de Flagrantes de Belo Horizonte, concedeu liberdade provisória para a delegada. O caso está em segredo de Justiça.

Após reclamar que tinha apresentado queixas do assédio sem que fossem tomadas providências, ela decidiu que não retornaria ao trabalho. Amigos da policial que viram as postagens entraram em contato com a Polícia Civil. Uma equipe foi à residência dela, no bairro Ouro Preto, região da Pampulha, na capital mineira.

Os disparos aconteceram no oitavo andar do prédio, quando os policiais tentavam convencer a delegada a entregar as duas armas que estavam com ela. Os tiros atingiram a escada de incêndio, onde os agentes se abrigaram. Conforme a Polícia Civil, o revólver que pertence à instituição deveria ter sido devolvido quando a delegada foi afastada por orientação médica. Ainda não havia informação sobre a origem da outra arma.

No fim da tarde de quarta-feira, 22, a delegada saiu do apartamento e foi atendida por uma equipe do Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu). Ela foi levada para um hospital particular e permaneceu internada sob escolta policial.

Conforme o delegado Saulo de Castro, porta-voz da Polícia Civil, tudo teve início quando a delegada começou a enviar mensagens para os colegas nas quais dava sinais de instabilidade emocional. “Os próprios colegas do setor no qual ela estava lotada decidiram comparecer à casa dela para acolhimento e a prestação de um possível socorro. Os delegados não chegaram a ingressar na casa dela, pois houve uma reação dela e houve necessidade de um negociador”, disse.

Segundo ele, a Core foi deslocada para equacionar a crise e preservar a vida da colega. Eles pediram que entregasse a arma porque, na ocasião da licença médica, já havia uma determinação para recolhimento. Como houve resistência, foi chamado um negociador.

Conforme Castro, foram feitos pelo menos quatro disparos, mas o trabalho pericial ainda não foi concluído. “Os policiais poderiam ter repelido a agressão com disparos letais, mas usaram apenas disparos de impulso elétrico (taser). O objetivo foi socorrer e amparar a colega que apresentava uma situação de instabilidade, estando de posse de duas armas de fogo.”

A Corregedoria da Polícia Civil está investigando o caso. A delegada Francione Fintelman, da corregedoria, compareceu ao local e acompanhou as buscas no apartamento da delegada. “Após o atendimento dela, realizamos o cumprimento do mandado de busca e apreensão das armas. Foi lavrado o auto em flagrante pela tentativa de homicídio pelos disparos efetuados”, disse.

A defesa da policial disse que ela está internada em unidade de terapia intensiva de um hospital particular sem previsão de alta médica, e que, a partir da decisão judicial, deixou de estar sob escolta. O advogado Bruno Correia, um dos defensores da policial, disse que tanto a promotora de Justiça quanto a juíza acolheram a tese de legítima defesa. Segundo ele, a delegada só efetuou disparos depois que um dos agentes atirou nela com uma pistola de taser.