13/04/2005 - 7:00
“O apelo à saúde fará com que os sucos tomem mercado dos refrigerantes”
“O Brasil tem juros altos, o que inibe investimentos. Meirelles terá de resolver isso”
DINHEIRO ? Nos últimos meses aumentaram os rumores sobre uma possível venda de parte ou de todo capital da Sucos Del Valle para a PepsiCo ou até mesmo para a Coca-Cola. O que há de verdade nisso?
ALBARRÁN ? Não existe nada. Acho que os rumores surgiram porque há uma forte tendência de consolidação no mundo. Também acredito que essas especulações acontecem porque a empresa tem uma participação boa de mercado. Somos competitivos porque somos especialistas em sucos. Temos grande força em países como o Brasil, o México e os Estados Unidos. Além disso, exportamos para mais de 50 nações. Para mim, isso só quer dizer uma coisa: a nossa fórmula de negócio funciona bem. Então, não sentimos qualquer necessidade de fazer uma fusão com grandes grupos. Não precisamos disso para ganhar espaço. Sem contar que os sucos prontos têm menos de 6% de participação no mercado global. A esmagadora parte fica com os refrigerantes. Creio que os sucos deverão tirar uma parcela importante desses produtos. Até porque os hábitos de consumo estão mudando no mundo. Há um interesse crescente no setor de sucos.
DINHEIRO ? O senhor nunca foi procurado por nenhuma dessas multinacionais?
ALBARRÁN ? Não.
DINHEIRO ? Então, a Sucos Del Valle não está à venda?
ALBARRÁN ? Não.
DINHEIRO ? O motivo da sua viagem ao Brasil foi dizer isso aos 300 funcionários da subsidiária local?
ALBARRÁN ? Não foi só isso. Temos também uma revisão de resultados a fazer a cada três meses.
DINHEIRO ? Parte do sucesso da empresa está na internacionalização. Quando o senhor iniciou esse projeto?
ALBARRÁN ? A Sucos Del Valle tem mais de 50 anos. Nasceu pequena e depois cresceu bastante. E nos anos 90 pensamos em desenvolver novos mercados. Antes disso, não havia exportações. Começamos a vender para os EUA e, depois, para países da América Central. Logo, fomos para a América do Sul. No Brasil, tivemos uma resposta muito positiva. Hoje, temos sete fábricas no México e uma no Brasil. É nossa única operação fabril fora do país de origem, já que fechamos a unidade de Porto Rico em 2002.
DINHEIRO ? Qual será o próximo passo?
ALBARRÁN ? Desenvolver os nossos mercados principais, que são Estados Unidos, México e Brasil. E o papel que cabe ao Brasil na nossa estrutura é bem importante. Primeiro, o País é uma grande fonte de abastecimento de frutas. Hoje, praticamente 100% das frutas que usamos na operação local são de produtores nacionais. Depois, temos uma equipe de pesquisa e desenvolvimento muito forte por aqui. Além disso, o País é uma das áreas mais importantes em exportação da Del Valle e manda produtos para mais de 30 países. Do ponto de vista de faturamento, o Brasil também tem um papel relevante. Cerca de 13% das receitas de US$ 500 milhões são geradas aqui. É maior que os Estados Unidos, que contribuem com 10% do faturamento. Os demais países ficam com 5%. E o restante é gerado no México.
DINHEIRO ? Como será 2005 para a Del Valle no Brasil?
ALBARRÁN ? Primeiro, é importante dizer que o consumidor brasileiro é muito seletivo e se preocupa com a sua saúde. Mas a Del Valle não tem dúvidas de que o fator número um de desenvolvimento do consumo de sucos é a melhora do poder aquisitivo, que trará novos consumidores. A nossa meta, então, é manter a fatia de 30%. Vamos crescer com o mercado.
DINHEIRO ? De que forma a companhia poderá acompanhar o
crescimento do setor?
ALBARRÁN ? No ano passado, a empresa faturou R$ 212 milhões. Em 2005, esperamos um aumento de 15% na receita. Só conseguiremos isso, porque continuaremos focando na nossa estratégia, que é varejo e distribuição. Além disso, a categoria também manterá o ritmo de crescimento. Em 2004, o setor faturou R$ 900 milhões com 350 milhões de litros vendidos, um aumento, em volume, de 52% em relação ao ano anterior e, em receita, de 43%. Mas um dado que realmente chama a atenção é o elevadíssimo consumo de fruta no Brasil, o que dá idéia do potencial. Outro dia, estava pesquisando números sobre o consumo de suco de laranja preparado em casa. E esses dados, obviamente, não contêm os índices do produto industrializado. Garanto: a demanda é de 10 litros per capita só em laranja no País. É maior que o consumo industrializado no México. É incrível. Isso mostra que há espaço para ampliação. Depois, ainda tem um detalhe importante nesse segmento: a mudança no cotidiano da mulher. Ela trabalha, não fica mais em casa. Então, não há tempo para preparar o suco. Acredito que esses são alguns sinais do comportamento futuro desse mercado no País.
DINHEIRO ? E no mundo, quais as expectativas da Del Valle?
ALBARRÁN ? Queremos ter um faturamento global acima dos US$ 800 milhões em cinco anos. Provavelmente, isso terá o dedo dos Estados Unidos, que têm uma grande comunidade hispânica. Esse mercado é naturalmente um alvo nosso, porque existem cerca de 25 milhões de mexicanos por lá. É bem provável que o mercado americano represente 20% da receita no futuro. O Brasil também terá um papel fundamental. Num futuro próximo, queremos transformar o País na sede da Del Valle na América do Sul. É uma forma de administrar melhor o crescimento da companhia no Mercosul. Também há planos para reforçar a atuação na Europa. Em meia década, os nossos maiores mercados serão, pela ordem, México, Brasil, Estados Unidos e Europa.
DINHEIRO ? O senhor pretende também abrir o capital na Bovespa?
ALBARRÁN ? Hoje temos papéis na bolsa mexicana. Mas não temos intenção de fazer uma oferta pública na Bovespa. Uma alternativa interessante é lançar ações em Nova York. Somos uma empresa atrativa.
DINHEIRO ? A Del Valle tem planos de construir alguma outra fábrica no Brasil?
ALBARRÁN ? Erguemos uma operação em Americana (SP) em 1999. Acredito que com o crescimento haverá a necessidade de termos outra unidade. Agora, temos tempo, porque utilizamos só 65% da capacidade produtiva. Não acredito que precisaremos de uma nova operação nos próximos dois anos. Depois disso, quem sabe… Possivelmente construiríamos uma fábrica em outro Estado, o que demandaria investimento de US$ 10 milhões.
DINHEIRO ? O senhor já manifestou certa vez grande interesse em aproveitar o potencial frutífero do Nordeste brasileiro. A região poderia sediar a nova fábrica?
ALBARRÁN ? Sim. É uma possibilidade.
DINHEIRO ? Como o senhor avalia o atual momento da economia brasileira?
ALBARRÁN ? Eu a vejo com muito otimismo. Há uma parceria boa e positiva entre as autoridades do governo e o setor privado. O empresário tem confiança no Brasil. Acredita nas medidas do governo. Há um trabalho conjunto para promover o desenvolvimento das exportações. Isso jamais foi visto no País. A atual agressividade empresarial brasileira para as exportações é algo novo e forte. Vejo isso com muito interesse e de perto, porque participo do conselho mexicano de comércio exterior. Nos nossos encontros, falamos de Mercosul, de Alca e também do livre comércio entre Brasil e México. Hoje, os empresários confiam bastante no País. Têm uma enorme crença de que o Brasil é capaz de competir em outros mercados. Eu acho que o País tem um futuro extraordinário.
DINHEIRO ? As exportações são a principal virtude do governo Lula?
ALBARRÁN ? Sim, no momento, é a principal virtude. E o bom desempenho impulsiona também o mercado interno. Traz mais divisas, mais empregos e ajuda a incrementar
a economia local, independentemente do seu próprio desenvolvimento. As exportações no Brasil de hoje são
um fenômeno. No geral, eu acredito que o País entrou
numa rota de crescimento sustentável. Há uma disciplina fiscal e uma boa geração de divisas. É um ambiente de muita confiança. Acredito que o PIB crescerá entre
4,5% e 5% em 2005.
DINHEIRO ? Qual sua opinião sobre a taxa básica de juros, a Selic, no País?
ALBARRÁN ? No Brasil, os juros são muito mais altos
que no México. Uma alta taxa de juros gera um custo alto na captação de dinheiro. Isso é um grande problema que o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, terá de resolver. Mas nada será feito rapidamente. A redução é um processo de maturação. É fato também que o índice alto atrapalha os nossos planos para o Brasil. Mas a maior dificuldade é na obtenção de capital de giro e não nos investimentos, já que temos acesso a créditos mais brandos.
DINHEIRO ? O senhor tem alguma restrição à Alca?
ALBARRÁN ? Nós acreditamos que o desenvolvimento da Alca e de um mercado livre é muito importante para nossas estratégias de crescimento, porque necessitamos usar nossa capacidade produtiva. A idéia é ter um bom desempenho, exportando produtos e, de preferência, sem barreiras comerciais. E o Brasil é um dos centros desse desenvolvimento. Para o País, a existência de uma Alca é ótima. A Sucos Del Valle, por exemplo, poderia construir uma fábrica muito maior por aqui e mandar o produto para fora de uma maneira bastante competitiva.
DINHEIRO ? A empresa chegou ao Brasil em 1997 e o mercado nacional
de sucos prontos cresceu dez vezes de lá para cá. É possível manter
esse ritmo?
ROBERTO ALBARRÁN ? O mercado brasileiro de sucos prontos tem muitas chances de crescimento. Basta comparar com outros países. O consumo anual per capita é próximo de 2 litros por aqui. No México, por exemplo, é de 9 litros. Na Argentina, é de 5 litros. Nos Estados Unidos, é acima de 40 litros e na campeã Alemanha aproxima-se de 47 litros. Então, esse parâmetro de comparação e mais o tamanho da população brasileira, que é de 180 milhões de habitantes, são favoráveis ao País. Basta um incremento da economia e o resultado será a duplicação do mercado. Isso deve ocorrer em cinco anos.