19/09/2007 - 7:00
O principal sonho de consumo da classe média brasileira é a casa própria. Quem não tem, quer comprar. Quem já comprou, quer reformar. Quem já reformou, quer comprar outra. Em qualquer desses casos, o morador precisa de móveis. Então, essa indústria teria uma boa imunidade a crises, não é? Mais ou menos. O empresário Frank Zietolie teve de reinventar sua empresa, a Telasul, para não se tornar uma exceção à regra. Em sociedade com outro gaúcho, Alexandre Grendene, ele é dono do Grupo Única, que controla, além da Telasul, a fabricante de móveis Dell Anno. A Telasul sofreu uma grande crise no final da década de 90, quando a moda das camas tubulares que fabricava começou a dar sinais de esgotamento. ?Chegamos a vender mais de um milhão de unidades por ano?, relembra Zietolie. Com a demanda em queda, a empresa quase quebrou. Mas Zietolie enxergou uma oportunidade na crise. Como o mercado de cozinhas de aço estava aquecido, resolveu migrar.
O custo não foi pequeno: R$ 25 milhões para a adaptação do parque fabril. Hoje, quatro anos depois, saem da Telasul 1,5 mil cozinhas de aço completas por dia. O faturamento da empresa deverá chegar a R$ 200 milhões neste ano, crescimento de quase 50% em relação a 2006. ?Existe uma camada de consumidores cujo sonho é ter uma cozinha de aço, principalmente na região Nordeste. Lá, ninguém quer madeira?, conta Marcos Riva, diretor comercial da Telasul Cozinhas de Aço. A preferência nordestina tem razões climáticas. Com temperaturas elevadas e umidade no litoral, a madeira não é bem aceita, pois ?aquece? o ambiente.
A melhoria na renda da região e a abundância de crédito fez o resto do trabalho.
O sucesso no Nordeste resolveu metade do problema. E o Sul? O aço não combina com o frio e as vendas não eram satisfatórias. Então, em meados deste ano, Zietolie criou a Telasul Madeiras, voltada para a produção de móveis de cozinha feitos em madeira. Até dezembro, as vendas deverão somar R$ 15 milhões. ?A construção civil está puxando esse mercado, e a indústria moveleira está se beneficiando como poucas?, diz Zietolie. Nos dois braços da Telasul, o público são as classes C e D, que pagam até R$ 600 por uma cozinha da empresa.
A Dell Anno continua com o foco voltado para os consumidores mais endinheirados. Outra empresa, a Favorita, fica no meio do caminho e atende a classe média. ?Para que deixar para a concorrência um mercado que nós podemos abastecer??, questiona Marcos Riva. Essa ânsia de abraçar todos os tipos de consumidores é a estratégia para disputar um mercado pulverizado. Só em Bento Gonçalves, RS, há 371 fabricantes de móveis. A cidade só perde para a região metropolitana de São Paulo, que tem três mil, segundo a Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário (Abimovel). O Grupo Única estima deter 8% do mercado, ao lado da também gaúcha Todeschini. A liderança ainda fica com a fábrica Bartira, que pertence às Casas Bahia e produz todos os móveis para as lojas da rede. Mas o grupo ainda tem espaço para crescer, pois utiliza apenas 30% de sua capacidade de produção. Além disso, quer aumentar suas exportações (que hoje representam 4% do faturamento). Abrir capital será o próximo passo. Zietolie diz que não há data definida. ?Essa é a realidade hoje?, afirma ele. ?As pessoas trabalham para uma ação, e não para um patrão.?